Simplesmente não consigo largar o Google Chrome
O Google Chrome foi lançado há 10 anos (mais precisamente em 2 de setembro de 2008). Eu tenho usado o navegador desde que foi liberada a versão para OS X em 2009 e, olha, eu me sinto preso a ele. Esse software sugador de memória é onde eu passo boa parte do meu dia, embora não necessariamente porque eu queira isso. Por mais que tenha tentado, eu simplesmente não consigo largar o Chrome.
Isso provavelmente diz muito sobre mim — já já retorno a esse assunto. Mas também fala da forma como o Chrome transformou a maneira como nós navegamos na web. No começo, o Chrome se diferenciava por um ótimo recurso: a velocidade. Uso esse termo para definir o conceito de forma vaga. Alguns testes de benchmark mostravam que o Chrome era só um pouco mais rápido que outros navegadores, como Firefox, Safari e Internet Explorer. Ele simplesmente carregava páginas mais rápido e, além disso, o navegador era mais estável.
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Há muitas razões por que o Chrome se tornou mais rápido e mais eficiente que os outros navegadores, incluindo — mas não se limitando a isso — sua arquitetura de múltiplos processos. Não entrarei em detalhes de como isso funciona, mas, de alguma forma, era animador ver as abas do Chrome tristes quando as páginas “quebravam”. Então, quando tudo parecia super lento, eu podia fechar as abas que não estavam sendo utilizadas e ver a memória do meu computador sendo liberada. Embora eu tenha perdido a estreia do Chrome para Windows, minha impressão inicial depois de usar o Chrome no Mac me fez pensar que o navegador do Google tinha tornado a internet a “experiência sem necessidade de espera” que eu sempre quis. E, além disso, parecia que nunca travava.
A velocidade ganhou um grande significado à medida que me acostumei com a nova barra de endereço do Chrome. O Google a chama de Omnibox, pois não é só um lugar em que você digita URLs. Lá você também pode fazer buscas e acessar configurações. Não é mais necessário instalar um complemento no Firefox ou acessar Google.com no Safari. A Omnibox do Chrome já faz tudo.
No começo, ter um navegador rápido, fácil de usar e que quase não travava parecia algo sensacional. Também era legal usar o Chrome. Tenho algumas memórias esquisitas de estar em reuniões com colegas de trabalho que usavam o Firefox e meio que falar para eles: “vocês deveriam usar o Chrome, pois é o que há”.
O que eu não tinha percebido na época é que o Chrome me colocaria dentro do feudo do Google de uma forma nova. Não que eu não soubesse o que o Google fazia. Na época que comecei a usar o Chrome, eu tinha uma conta do Gmail desde 2004 e usava o mecanismo de busca todos os dias. Logar minha conta do Google ao Chrome era um novo nível de conexão com a empresa de Mountain View, de uma maneira que eu ainda não entendia naquela época.
Lógico, há vantagens de estar logado ao Chrome. Era muito mais fácil ter acesso aos meus favoritos e extensões de qualquer computador em que me logava. Meu navegador Chrome era o mesmo, independentemente da máquina, e é super mão na roda o fato de que o Chrome salva minhas senhas e informações de cartão de crédito quando compro coisas online.
Não importa o dispositivo. Se estou logado no Chrome, tudo está lá. Mas eu nunca tive muita certeza do quanto dos meus dados de navegação iam para servidores de anúncios do Google. O Chrome envia estatísticas de uso para o Google por padrão. A opção “Não rastrear” está desligada por padrão. No mínimo, agora o Google está monitorando minhas buscas feitas na Omnibox, e eu sei que o Google sabe quem sou eu, pois estou logado no Chrome.
Esse medo de monitoramento é na verdade uma reclamação. No smartphone, ainda navego usando o Safari e eu não tenho um Chromebook. O Chrome é o navegador padrão no Android e o Chrome OS é o sistema operacional do Chromebook. Então, o Google poderia ter acesso a mais dados pessoais meus. O fato é que passo boa parte do tempo com meu laptop em abas do Chrome, e isso faz com que eu me sinta um pouco exposto. Ainda assim, uso o Chrome todos os dias. Uso pra caramba. Já tentei deixá-lo, mas não consegui.
Deixar o Chrome deveria ser a decisão mais racional a ser tomada. As inovações tecnológicas que tornaram as versões anteriores do Chrome tão incríveis têm sido replicadas, quando não melhoradas, em outros navegadores. Testes recentes mostram que o novo Firefox Quantum é mais rápido que o Chrome e que a próxima versão do Safari no macOS Mojave promete proteger sua navegação contra o browser fingerprinting (impressões digitais de navegação), um tipo de rastreamento que possibilita que sites sigam sua atividade mesmo se você estiver usado o modo anônimo do Chrome. Enquanto isso, ironicamente, o Chrome é agora um navegador sem muitos recursos. Isso mesmo. O navegador que prometia ser mais eficiente no uso da memória é um devorador de memória RAM.
Mesmo assim, cá estou ainda usando o Chrome. Estou escrevendo esse post no Chrome. Estou com quase 40 abas abertas em diferentes janelas. Esta é a experiência web mais rápida que eu posso ter? Provavelmente não. É a mais segura? Acho que também não. É a experiência mais familiar e com mais apelo ao meu estilo de vida? Infelizmente, sim.
Como meu pai, que ainda usa o Yahoo Mail, sou resistente a mudanças. Isso não só se aplica aos meus hábitos de computação. Continuo comprando pares semelhantes de tênis e camisetas e calças da mesma marca. Talvez esses itens essenciais de vestuário sirvam como comparação ao meu uso de navegador. O Chrome é a aplicação que eu mais uso, e, talvez por conveniência, suas falhas parecem ser mais fáceis de lidar do que a total ausência dele. Toda vez que tento mudar para o Safari ou Firefox, eu me incomodo que as coisas são um pouco diferentes, então acabo voltando para o Chrome com minhas extensões e meu fácil acesso ao Google Docs.
Não acho que seja o único a já ter feito isso. Essa é uma das razões pelas quais penso que a decisão do Google de desenvolver “um browser que pudesse ser muito mais que um navegador” foi tão perspicaz. Em 2008, era menos óbvio que toda nossa vida digital poderia existir dentro de um navegador. A invenção do Chrome, junto com seus truques, parece genial agora que estamos conectados a múltiplos dispositivos e tendo uma experiência consistente neles. Nós também mostramos ao Google (e ao Facebook) que estamos dispostos a trocar nossa privacidade por serviços convenientes.
Talvez, eu tente novamente mudar para o Safari quando a Apple liberar o macOS Mojave. Deve ser mais rápido e talvez cuide mais da minha privacidade. Além disso, poderei usar o Dark Mode (modo escuro), então a janela do navegador pode combinar com o tema que eu tenho usado no Chrome há anos.
No entanto, é bem provável que eu desista após alguns dias. Vou ficar incomodado que as informações do meu cartão de crédito e senhas de sites obscuros não serão tão convenientes de serem acessadas. Então, vou voltar para o Chrome, onde as páginas podem ser carregadas de forma mais lenta. Darei ao Google uma visão mais profunda da minha vida online e ficarei incomodado em alguns momentos. Mas passarei meus dias no Chrome novamente e, mais uma vez, vou me sentir em casa.
Imagem do topo: Getty Images