Não foi desta vez! NASA adia (de novo) lançamento da Artemis 1
A NASA adiou a segunda tentativa de lançamento da missão Artemis 1 — que estava prevista para a tarde deste sábado (3). Desta vez, o problema estava relacionado a vazamentos de combustível no foguete SLS (sigla em inglês para “Sistema de Lançamento Espacial”).
Desde o início da manhã, os engenheiros tentavam conter um vazamento de hidrogênio líquido no estágio central do foguete. Apesar das várias soluções implementadas, a equipe de lançamentou recomendou o adiamento da decolagem — algo que foi acatado por Charlie Blackwell-Thompson, a diretora de voo da missão, às 12h17 (horário de Brasília).
A NASA pretende coletar mais dados para identificar a causa do vazamento. A expectativa é que a agência tente lançar o foguete SLS na próxima segunda-feira (5), às 18h12. Há também uma oportunidade de decolagem para o dia seguinte.
Na última segunda-feira (29), a agência já tinha abortado o lançamento, após detectar um problema em um dos motores do foguete. Ao analisar a falha, a NASA chegou à conclusão de que o motor estava funcionando normalmente, e que o problema poderia estar apenas no sensor que coleta os dados do foguete.
De acordo com a agência, os engenheiros descartaram a possibilidade de realizar a troca desse sensor, pois seria necessário retirar o foguete da rampa de lançamento e levá-lo de volta ao prédio de montagem – o que poderia atrasar o cronograma da missão em várias semanas (ou mesmo meses).
Inicialmente, a segunda tentativa de lançamento seria feita na última sexta-feira (2). Contudo, ela foi atrasada para este sábado, para que os engenheiros tivessem mais tempo para analisar os dados da falha e preparar o foguete para a nova tentativa.
Durante a semana, previsões meteorológicas apontavam que existia 60% de chance de clima favorável para decolagem – algo que já prenunciava um possível novo adiamento. Para segunda-feira, a expectativa era de 70% de chance de um clima aceitável, mas, mesmo assim, a NASA decidiu prosseguir com a tentativa de sábado.
Programa Artemis recebe críticas
Adiamentos, falhas e acidentes com foguetes são comuns durante toda a história da exploração espacial, não apenas nos EUA, mas em todo o mundo. Entretanto, o revés deste sábado se torna em munição contra a NASA.
Há quem critique que o desenvolvimento do programa Artemis é lento e caro demais, e ainda usa um foguete que não é reutilizável. No total, estima-se que serão gastos cerca de 93 bilhões de dólares até 2025 – incluindo todo o desenvolvimento e construção do foguete e espaçonave nos últimos anos, além dos três primeiros lançamentos previstos para o programa.
Na última semana, Lori Garver, uma ex-funcionária da NASA, já antecipava que o lançamento da Artemis 1 poderia se tornar em algo “embaraçoso” para a agência espacial dos EUA. Segundo ela, não existe um “plano B” no caso de o voo da Artemis 1 não sair conforme o planejado.
A dúvida que paira no ar é se o programa não sairia mais barato e ágil se ele fosse relegado à iniciativa privada.
A expectativa é que o vindouro foguete Starship, da SpaceX, por exemplo, possa ser lançado muitas vezes por ano. Já os foguetes SLS devem decolar apenas uma vez a cada dois anos (ou até três anos). Além disso, os lançamentos da empresa de Elon Musk devem ser comparativamente mais baratos do que os do foguete construído pela NASA.
Em algum momento no futuro, é esperado que a agência espacial passe a usar apenas os foguetes da SpaceX – ou de outra empresa privada – durante a exploração lunar. Enquanto trabalhava na agência, Garver era uma das apoiadores de que isto já deveria ter acontecido desde o início do desenvolvimento do programa Artemis.
Durante uma entrevista para o site Ars Technica, a ex-funcionária lembrou que o desenvolvimento do foguete SLS envolveu reutilizar tecnologias caras e complicadas – retiradas do programa dos ônibus espaciais –, e as empilhar em um novo foguete com a promessa de que ele seria mais fácil e barato – algo que não vem sendo demonstrado na prática.
“O ônibus espacial deveria voar 40 ou 50 vezes por ano. E, no seu máximo, nunca chegou perto. Normalmente, eram quatro ou cinco”, exemplificou Garver.
China alfineta a NASA
As críticas à NASA vêm, até mesmo, do outro lado do mundo. Um artigo publicado no site Global Times questiona o motivo do atual administrador da agência espacial americana, Bill Nelson, estar tão preocupado que a China pretende lançar uma missão tripulada para a Lua por volta do ano de 2030 – já que os americanos têm planos de fazer isso cinco anos antes.
Nelson vem criando um clima de hostilidade com os chineses, mencionando uma nova “corrida espacial”. Ele, inclusive, alega preocupações de que a China teria a intenção de “ocupar a Lua”.
Porém, o artigo chinês afirma que essa “retórica colonialista” tem o objetivo de difamar a China e minar o interesse de outros países em cooperar no espaço com o gigante asiático.
O texto ventila, ainda, que a preocupação do administrador da NASA se deve ao fato que o cronograma americano proposto de exploração da Lua pode ser considerado como “improvável” ou mesmo “impossível” de ser cumprido. Atrasos como o deste sábado, bem como os posteriores, permitiria que os chineses chegassem na Lua antes mesmo do pouso da Artemis 3.
No início da última semana, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, lembrou que os chineses assinaram o Tratado do Espaço Sideral, de 1967, que impede que países reivindiquem territórios em corpos celestes — um claro recado a Nelson.
“O espaço sideral não é uma arena para os países lutarem, mas um campo importante para a cooperação ganha-ganha. E a exploração e uso pacífico do espaço sideral é a causa comum da humanidade e deve ser buscada em benefício de toda a humanidade”, enfatizou Lijian.