Novas pesquisas mostram mais um dado preocupante que é resultado direto do aquecimento global: a Terra está absorvendo uma quantidade chocante de calor. Nos últimos 15 anos, a radiação solar captada na superfície e nos oceanos dobrou. A descoberta foi publicada na Geophysical Research Letters por cientistas da NASAe da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA, na sigla em inglês).
Os pesquisadores decidiram estudar esse desequilíbrio de energia, que atualmente é de apenas 0,3%, o que significa que o planeta está atualmente absorvendo mais energia solar do que está devolvendo ao espaço. Essa energia tem que fazer algo aqui na Terra, e o resultado final é mais calor. Para avaliar como esse desequilíbrio mudou desde 2005, os pesquisadores coletaram dados de satélite olhando para o topo da atmosfera, que mostra qual tipo de energia está vindo e indo, e uma rede de flutuadores autônomos que reúnem dados na parte superior a dois mil metros do oceano, oferecendo uma visão de onde 90% do calor do mundo é armazenado.
Os resultados mostram uma grande mudança ao longo dos 15 anos de registros. Ambos os conjuntos de dados mostram que o planeta quase dobrou a quantidade de calor que recebeu desde 2005. O fato de as duas fontes de dados estarem em concordância dá aos pesquisadores confiança na tendência de que o planeta está superaquecendo de forma descontrolada.
As principais causas para o aprofundamento do desequilíbrio estão ligadas às mudanças na cobertura de nuvens e na refletividade da superfície. A mudança climática está causando impacto nas nuvens, embora seja uma área de pesquisa ativa. E o aumento das temperaturas está alterando a refletividade da Terra, particularmente pelo derretimento do gelo marinho do Ártico. Isso permite que a água mais escura do oceano absorva mais calor. O estudo também observa que os chamados “gases-traço” — ou seja, dióxido de carbono e outras formas de poluição das atividades humanas — também estão contribuindo para o desequilíbrio.
“Este estudo demonstra que o planeta como um todo está aquecendo a uma taxa alarmante durante os últimos 15 anos”, disse Norman Loeb, pesquisador do Langley Research Center da NASA e líder do estudo, por e-mail ao Gizmodo US. “Temos todas as expectativas de que o aquecimento continuará, mas nossa esperança é a velocidade com que seu aquecimento diminuirá nas próximas décadas”, complementou.
Algumas das mudanças na cobertura de nuvens podem estar ligadas a mudanças climáticas naturais, como o El Niño e a Oscilação Decadal do Pacífico (PDO). Ambos, principalmente o PDO, estão em fases propícias para que o planeta absorva mais calor. Mas esses padrões naturais por si só não são suficientes para equilibrar a energia na direção errada.
Embora seja evidente para qualquer pessoa que viveu na Terra nos últimos 15 anos que o desequilíbrio de energia está tendo efeitos visíveis, o estudo ajuda a quantificar essa perda de equilíbrio em termos gritantes. E aponta um caminho para os pesquisadores analisarem o que está acontecendo com mais detalhes, incluindo como isso pode afetar a temperatura média global, o aumento do nível do mar e outros fenômenos mais familiares associados à crise climática.
“As coisas em que as pessoas estão mais interessadas, como aumento da temperatura média global da superfície, aumento do nível do mar, mais extremos climáticos, são todos sintomas de um desequilíbrio energético positivo, que por sua vez é uma consequência do aumento dos gases de efeito estufa, como o carbono dióxido e metano”, explicou Loeb.
É preocupante que, se o desequilíbrio continuar a crescer de forma descontrolada, isso pode levar a impactos ainda mais dramáticos nas mudanças climáticas, e mais cedo do que o esperado. Estudos como esse são muito importantes, mas também seria de grande ajuda se o mundo controlasse a poluição por carbono, de forma que os pesquisadores não pudessem testar todas essas hipóteses na vida real, quando as mudanças já estiverem em curso.