Neandertais não usavam os polegares como nós, sugere pesquisa

Pesquisadores descobriram diferenças físicas importantes nos polegares dos neandertais e dos humanos modernos (Homo sapiens).
Crédito: Martin Meissner (AP)

Uma análise dos ossos das mãos de Neandertais sugere que esses humanos extintos possuíam polegares mais adequados para o uso de força, em vez de precisão, o que poderia significar que eles usavam suas mãos de maneira diferente de nós.

Os pesquisadores descobriram diferenças físicas importantes nos polegares dos neandertais e dos humanos modernos (Homo sapiens), o que sugere que as duas espécies usavam as mãos de maneiras diferentes. A descoberta, conforme descrito no Scientific Reports, potencialmente fala sobre diferenças comportamentais nas duas espécies, embora isso possa ser difícil de provar.

Tecnicamente falando, os neandertais eram humanos, mas exibiam algumas características-chave que, se estivessem por aí hoje, os fariam se destacar na multidão. Os neandertais eram um pouco mais baixos e largos do que os primeiros humanos modernos e tinham um nariz largo com narinas grandes. Eles também tinham queixos fracos e sobrancelhas proeminentes. Suas mãos também eram maiores do que as nossas e, como aponta a nova pesquisa, as mãos de neandertais não funcionavam exatamente da mesma maneira que as nossas.

“Se você apertasse a mão de um neandertal, notaria essa diferença”, explicou por e-mail Ameline Bardo, pós-doutoranda associada da Escola de Antropologia e Conservação da Universidade de Kent. “Haveria confusão sobre onde colocar o polegar, e em uma luta de polegar, acho que você venceria em termos de velocidade e movimento.”

Bom saber.

De forma mais prática, os polegares dos neandertais eram mais adequados para pegadas de pressão – como a maneira como seguramos um martelo quando o usamos para bater. Especificamente, usamos essas “pegadas de força”, como também são chamadas, para segurar ferramentas ou outros objetos entre os dedos e a palma, enquanto o polegar é usado para direcionar a força. Os neandertais não tinham martelos com cabos, mas essas pegadas de força provavelmente eram úteis quando portavam ferramentas de pedra ou quando pegavam pedras para usar como martelos.

Ao mesmo tempo, isso possivelmente significa que as pegadas de precisão – nas quais os objetos são mantidos entre a ponta do dedo e o polegar – podem ter sido mais desafiadores para os neandertais. Desafiador, mas não impossível. Como mostra uma pesquisa contraditória de 2018, os neandertais aplicavam pegadas de precisão ao realizar trabalhos manuais.

O que a nova pesquisa sugere, no entanto, é que a pegada de precisão não era muito confortável para os neandertais e que eles podem ter sido mais inclinados para a pegada de força. Infelizmente, não podemos viajar no tempo e ver por nós mesmos, então este provavelmente permanecerá um debate saudável entre arqueólogos e antropólogos em um futuro próximo.

Dito isso, e como Bardo explicou em seu e-mail, a “anatomia da mão e o registro arqueológico deixam bem claro que os neandertais eram usuários de ferramentas muito inteligentes e sofisticadas e usavam muitas das mesmas ferramentas que os humanos modernos contemporâneos”.

Pesquisas anteriores nessa área mostraram como as formas dos ossos do polegar dos neandertais variavam em relação às dos humanos modernos, mas esses ossos foram estudados isoladamente. Bardo e seus colegas procuraram aprender como os ossos da mão de neandertais realmente se moviam no tempo e no espaço, o que eles fizeram mapeando em 3D as articulações entre os ossos responsáveis ​​pelos movimentos do polegar.

Especificamente, os pesquisadores analisaram o complexo trapeziometacarpal. Ainda mais especificamente, eles olharam para o trapézio (o osso do pulso na base do polegar) e a extremidade proximal do metacarpo (o primeiro osso do polegar que se junta ao pulso). Eles analisaram como as mudanças na forma ou posição de um osso influenciavam a forma ou posição de outro.

Para a análise, os cientistas estudaram os restos fossilizados de cinco indivíduos neandertais (reconhecidamente um tamanho de amostra pequeno), que foram comparados a ossos de cinco humanos modernos e 50 indivíduos modernos recentes. Os resultados apontaram para uma “posição preferencial do polegar” em neandertais que era caracteristicamente diferente da nossa.

Como o novo artigo aponta, a junta na base do polegar de neandertal é mais plana do que a nossa e com uma superfície de contato menor. Isso “é mais adequado para um polegar estendido posicionado ao lado da lateral da mão”, de acordo com Bardo, levando a usos que eram vantajosas para a manipulação de algumas ferramentas, como lanças e raspadores – ferramentas usadas para caça. Uma desvantagem da anatomia dos neandertais é que ela limitava as pegadas de alta precisão, como usar uma pequena lasca para cortar carne, explicou ela.

Em humanos modernos, essas superfícies articulares tendem a ser mais curvas, o que é melhor para segurar objetos entre as pontas do dedo e o polegar, ou seja, a pegada de precisão.

Essa variação entre as duas espécies é “provavelmente o resultado de diferenças genéticas e/ou de desenvolvimento, mas também pode refletir, em parte, diferentes requisitos funcionais impostos pelo uso de kits de ferramentas variados”, explicou Bardo. “Na verdade, a variação que encontramos entre os humanos modernos e os neandertais pode refletir diferentes atividades habituais com as mãos nos indivíduos de cada espécie”.

Novamente, não podemos ter certeza, e este novo artigo provavelmente reacenderá um debate sobre o assunto.

O que podemos dizer, no entanto, é que os neandertais tiveram sucesso por um longo período de tempo, surgindo há cerca de 400.000 anos e se extinguindo há cerca de 45.000 anos (e por razões que ainda não entendemos). Os neandertais também eram astutos, pois criavam suas próprias joias, faziam pinturas em cavernas, se decoravam com penas e usavam o lissoir – um osso especializado – para trabalhar peles duras de animais.

Se as pegadas de precisão eram difíceis para os neandertais, certamente não saberíamos pelo registro arqueológico cultural que eles deixaram para trás.

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