Cientistas procuraram aliens em 60 milhões de estrelas, mas não acharam nada
Astrobiólogos do projeto Breakthrough Listen divulgaram os resultados preliminares de uma pesquisa SETI (sigla em inglês para “busca por inteligência extraterrestre”), na qual a equipe buscou sinais de rádio ao longo de uma linha de visão que se estende em direção ao centro galáctico.
A busca por sinais de rádio extraterrestres está agora em sua sétima década, e ainda não encontramos qualquer vestígio de vida inteligente. Devemos continuar a busca, entretanto, já que não existe mistério científico maior não resolvido do que a questão de estarmos ou não sozinhos no universo.
A busca por inteligência extraterrestre, ou SETI, está atualmente limitada a rastreamentos de supostas tecnossinaturas alienígenas — coisas como sinais ópticos e de micro-ondas e evidências de megaestruturas. Dito isso, os sinais de rádio continuam a ser o alvo mais popular do SETI, já que as emissões de rádio focalizadas podem sinalizar a presença de uma civilização alienígena, seja o vazamento desses sinais deliberado ou acidental.
O projeto Breakthrough Listen de US$ 10 milhões — uma iniciativa de 10 anos fundada há seis anos pelo bilionário russo-israelense Yuri Milner e pelo falecido físico Stephen Hawking — continua com essa tradição, procurando nas profundezas do espaço por sinais de sinais de rádio produzidos por alienígenas.
Para sua última pesquisa, a equipe Breakthrough Listen, baseada no SETI Research Center da Universidade da Califórnia, em Berkeley, usou o Green Bank Radio Telescope em West Virginia e o Parkes Radio Telescope da CSIRO, na Austrália, para reunir cerca de 600 horas de observações de rádio. O esforço mais recente foi único porque foi o “SETI mais sensível e profundo” já feito do centro galáctico, como os cientistas escreveram em um estudo que será publicado no Astronomical Journal (uma pré-impressão está atualmente disponível no arXiv).
Procurar alienígenas ao longo de uma linha de visão que se estende da Terra ao buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea traz vantagens e desvantagens.
A vantagem é que a densidade das estrelas aumenta com a distância ao centro galáctico. Consequentemente, esta linha de visão “oferece o maior número de sistemas potencialmente habitáveis em qualquer direção no céu”, de acordo com o estudo. Além do mais, a distância relativamente próxima dessas estrelas pode “acelerar o desenvolvimento da comunicação e das viagens interestelares”, o que pode contribuir para o surgimento de “sociedades avançadas de viagens espaciais”, como os cientistas do SETI escrevem em seu artigo.
A desvantagem é que as coisas ficam um pouco complicadas além de um certo ponto. Como o Sistema Solar, a Via Láctea tem sua própria zona habitável, além da qual a vida não pode emergir. Na verdade, a região interna de nossa galáxia (ou seja, a região fora da zona habitável) é um ambiente de alta radiação cheio de raios gama, supernovas em explosão e nuvens de gás que atingem milhões de graus. O buraco negro supermassivo no núcleo galáctico apresenta outro perigo.
Ainda assim, os autores do novo estudo, liderados por Vishal Gajjar do Departamento de Astronomia de Berkeley, decidiram que valeria a pena focar uma pesquisa abrangente perto do centro galáctico devido à abundância de estrelas daqui para lá. Como os cientistas observaram em seu estudo, “estimamos que pesquisamos cerca de 60 milhões de estrelas”.
Curiosamente, a equipe não estava procurando por vazamentos acidentais de rádio, mas sim, transientes periódicos de rádio vindos de faróis hipotéticos (em outras palavras, rajadas de rádio repetidas regularmente provenientes de máquinas projetadas para chamar nossa atenção). O centro galáctico, de acordo com os cientistas, “fornece uma localização central ideal” para “civilizações avançadas colocarem um transmissor poderoso para enviar faróis de forma eficiente por toda a Via Láctea”, o que é mais uma vantagem dessa estratégia.
Gajjar e seus colegas procuraram frequências entre 0,7 e 93 GHz. Os resultados do relatório preliminar foram limitados a frequências entre 1 e 8 GHz e em intervalos de 7 horas (conforme observado pelo Parkes) e 11,2 horas (conforme observado pelo Green Bay Telescope). Nenhuma rajada de rádio repetida consistente com um farol alienígena foi detectada dentro desses parâmetros.
Nenhuma inteligência extraterrestre foi detectada, mas os cientistas conseguiram capturar eventos transientes consistentes com magnetares, de modo que será do interesse dos astrônomos que estudam este tipo de estrela de nêutrons. E, novamente, este é um relatório preliminar, então esperamos ansiosamente por novos resultados.
Em 2019, a mesma equipe ficou surpresa depois de analisar 1.372 estrelas próximas. Parece que não conseguimos encontrar nenhuma evidência de vida alienígena, apesar de nossas buscas cuidadosas. Está se tornando difícil não ser pessimista sobre todo o esforço do SETI, mas há algo que devemos ter em mente: a busca por vida alienígena inteligente está apenas no começo.