Entre os diversos nervos que se espalham da cabeça aos pés, o nervo vago se destaca e ganha a atenção dos cientistas há algum tempo. Não à toa: ele transporta sinais entre o cérebro e os órgãos da região peitoral e abdominal, percorrendo quase o corpo todo. E sua dimensão reflete também sua influência no organismo humano.
Por estar envolvido em uma variedade de funções fisiológicas, pesquisadores enxergam o estímulo ao nervo como uma possível solução para uma série de problemas de saúde, desde depressão e obesidade até artrite e fadiga relacionada ao COVID-19.
Mas o que é o nervo vago?
É um par de nervos que funciona como um canal de comunicação bidirecional entre o cérebro e órgãos vitais – coração, pulmões, esôfago e outros órgãos abdominais. Por isso, ajuda a controlar processos involuntários como a respiração, a frequência cardíaca, a digestão e as respostas imunológicas.
Além disso, o nervo vago também é uma parte importante do sistema nervoso parassimpático, que governa os processos de relaxamento do corpo após períodos de estresse ou perigo.
Até a década de 1990, pesquisam estudavam o uso de estimulação elétrica do nervo vago para tratar distúrbios cerebrais, como a epilepsia e a depressão. Mas o nervo ganhou o interesse de mais cientistas a partir do momento em que encontrou-se uma ligação entre ele e a inflamação do organismo.
O achado foi de Kevin Tracey, neurocirurgião e professor de medicina molecular do Instituto Feinstein de Pesquisa Médica.
Os estimuladores do nervo vago
Em geral, a estimulação elétrica do nervo parece promissora para controlar a inflamação. Para isso, dispositivos são implantados cirurgicamente na região do pescoço, onde fica mais fácil estimular o nervo.
Embora isso seja relativamente seguro, alguns pacientes experimentam efeitos colaterais como fadiga ou dor de cabeça.
Hoje, os estimuladores do nervo vago são estudados como uma alternativa aos antidepressivos em pacientes com depressão que são resistentes ao tratamento. Existem também evidências de que pacientes com artrite reumatoide têm melhora nos sintomas utilizando os dispositivos.
Dados sugerem que a tecnologia pode ser eficaz em pacientes com doença de Crohn, outra condição inflamatória que afeta o sistema digestivo.
Possibilidades de aplicação no futuro
Além da estimulação implantada, há interesse em técnicas não invasivas, como a estimulação auricular. Um dispositivo chamado Nurosym, que pode ser preso à orelha, estimula o nervo vago através de sua ramificação auricular.
Embora seja principalmente destinado a pacientes com condições crônicas, como problemas cardíacos ou digestivos, pessoas saudáveis também podem se beneficiar em menor grau.
Agora, cientistas investigam se essa técnica também pode beneficiar pacientes com Covid longa e obesidade. No último caso, pesquisadores do Imperial College London estudam o uso do microestimulador para informar o cérebro sobre a saciedade do estômago.
O dispositivo em desenvolvimento pode enviar um sinal elétrico ao cérebro quando o estômago está vazio, ajudando a controlar a obesidade de forma mais segura do que cirurgias gástricas invasivas.
No entanto, a eficácia dessas técnicas ainda está em debate. Mas se os pesquisadores conseguirem encontrar uma maneira eficaz de aproveitar o nervo vago – seja cirurgicamente ou através da pele – os benefícios podem ser grandes.