Nos EUA, armas matam mais crianças e jovens do que acidentes de carro
Desde 2017, crianças, adolescentes e jovens adultos nos EUA morrem mais por causa de armas do que por acidentes de carro. O alerta está em uma pesquisa da Universidade Harvard, publicada em abril de 2022.
De 2000 a 2020, o número de mortes por armas de fogo entre pessoas de 1 a 24 anos aumentou de 7,3 para 10,28 a cada 100 mil pessoas. No mesmo período, o índice de jovens que morrem em acidentes caiu de 13,62 para 8,31 a cada 100 mil.
O alerta vem na esteira de uma série de tiroteios em escolas. O último ano letivo dos EUA (de agosto de 2021 a maio de 2022) terminou com 193 episódios. É três vezes mais que o ano anterior, que registrou 62. Este é o maior número de tiroteios em escolas da história.
O Brasil também registra casos. Nos últimos 20 anos, foram pelo menos 16 ataques como esses no país. Em novembro de 2022, um atirador matou quatro pessoas e feriu 10 em um ataque a duas escolas no Espírito Santo. Na segunda-feira (27), um adolescente de 13 anos matou uma professora a facadas em São Paulo.
No pano de fundo, estão a maior exposição a discursos de ódio propagados na internet e casos de bullying e sofrimento dentro das escolas. Mas a falta de regulamentação de armas de fogo – e o acesso ampliado nos anos de governo Temer e Bolsonaro – impulsionam o problema.
Na pesquisa de Harvard, os pesquisadores mostram como um programa governamental de combate aos acidentes de trânsito ajudou a conter as mortes de jovens nas estradas. Enquanto isso, não há nenhuma agência federal para regulamentar a segurança de armas de fogo.
Sem incentivo
Os pesquisadores de Harvard identificaram que, de 1996 a 2018, um projeto de lei nos EUA efetivamente desencorajou qualquer financiamento ao CDC (Centro de Controle de Doenças) para pesquisas sobre a prevenção de armas de fogo.
A lei proibiu o órgão de usar fundos para “defender ou promover o controle de armas”, o que resultou no congelamento da pesquisa sobre violência armada na agência. A autorização para o financiamento só voltou em 2019.
É um tempo ínfimo na comparação com os esforços para acabar com os acidentes de trânsito. O Congresso dos EUA criou a NHTSA (Administração Nacional de Segurança no Trânsito e Rodovias, na sigla em inglês) ainda em 1970, e destinou recursos para a criação de um banco de dados para mostrar quais as estradas com mais acidentes.
A partir daí, gestores públicos puderam identificar formas de melhorar a segurança nesses locais e nos veículos. Algumas das medidas foram a exigência de frenagem automática, airbags laterais, leis de assentos e licenciamentos.
“Como mostra o progresso feito na redução de mortes por acidentes de trânsito, não precisamos aceitar a alta taxa de mortes por armas de fogo entre crianças e adolescentes nos EUA”, diz o artigo.
Segundo o Atlas da Violência, o número de jovens mortos por armas de fogo no Brasil se manteve na média de 2000 a 2019 (última atualização). Em 2000, 37,2 jovens a cada 100 mil foram mortos por armas no país. Vinte anos depois, o índice ficou em 34,9.