Aparentemente, a máquina de ler mentes já é uma realidade. Pesquisadores da Universidade do Texas, nos EUA, desenvolveram um scanner cerebral capaz de decodificar a pequena voz que existe dentro de nossas cabeças.
Trata-se de um método não-invasivo para determinar a essência da fala imaginada. Apesar da possível “violação de pensamento” (o que está mais perto de um enredo de ficção científica do que outra coisa), a tecnologia pode ser uma forma para ajudar pessoas que não podem falar.
O projeto é inovador porque combina ressonância magnética funcional (fMRI) com IA (inteligência artificial). Na prática, algoritmos dos LLMs (grandes modelos de linguagem), usados pelo ChatGPT para prever a próxima palavra em um texto, leem as ondas cerebrais e decodificam as possíveis palavras que permeiam os pensamentos.
Até agora, a ciência tentava identificar a fala imaginada através de implantes cerebrais que monitoravam a atividade do córtex motor e, assim, previam as palavras que os lábios tentavam formar.
Entenda o estudo
Na pesquisa, publicada na última segunda-feira (1º), os cientistas relatam como identificaram as primeiras falas imaginadas pelo método. Três voluntários entraram em um scanner fMRI e tiveram a atividade cerebral registrada por 16 horas, enquanto ouviam podcasts.
Enquanto isso, a equipe media o fluxo sanguíneo do cérebro dos participantes, e integrava esse dado aos detalhes das histórias que eles ouviam e à capacidade do modelo de linguagem de entender como as palavras se relacionavam.
A partir daí, os pesquisadores desenvolveram um mapa codificado de como o cérebro de cada indivíduo responde a diferentes palavras e frases.
Na segunda etapa, o estudo registrou a atividade fMRI dos voluntários enquanto eles ouviam ou imaginavam contar uma história, ou assistiam a um filme sem diálogo. A partir da combinação de padrões codificada anteriormente, foi possível determinar qual frase provavelmente seria construída com base em outras palavras na atividade cerebral.
Como funciona na prática
A percepção da máquina foi bastante precisa ao descrever o que os indivíduos assistiam nos filmes. No vídeo (abaixo), acompanhe as frases formadas por um dos voluntários enquanto assistia a uma cena de “Sintel”, de 2010.
Além disso, o decodificador gerou frases que captam a essência do que a pessoa está pensando. Um exemplo foi um voluntário que pensou “ainda não tenho carteira de motorista” e o scanner decodificou como “ainda nem comecei a aprender a dirigir”.
Mas muitas das frases geradas pela IA eram imprecisas. Foi relativamente “fácil” enganar a tecnologia. Quando os participantes pensavam em uma história diferente da gravada, a máquina não conseguia determinar que palavras estava “lendo”.
Além disso, o mapa codificado foi diferente para cada um dos indivíduos. Isso significa que os pesquisadores não conseguiram criar um decodificador único que funcionasse em todos.
Na prática, ainda vai demorar bastante para termos uma máquina de ler mentes. A pesquisa ainda é inicial e precisa avançar muito antes de chegar ao nosso alcance.