Enquanto os cientistas ainda tentam entender os perigos da variante P.1 do coronavírus, identificada em Manaus, uma nova cepa foi descoberta no Brasil e pode representar uma ameaça adicional aos esforços para conter a pandemia.
Além da mutação ter sido descrita por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a descoberta também foi relatada por cinco instituições coordenadas pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Até o momento, as evidências indicam que a variante, provisoriamente chamada de VOI 9 (do termo em inglês “variante de interesse”), tem maior capacidade de transmissão.
De acordo com os estudos, ela surgiu em agosto do ano passado e já se espalhou por estados de todas as regiões do Brasil, exceto do Centro-Oeste. Ainda não há informações sobre o risco de as vacinas não serem eficazes contra a nova cepa, mas os pesquisadores já alertaram que ela apresenta a mutação E484K na proteína spike do vírus, que é o alvo da maioria dos imunizantes disponíveis. Essa mesma mutação também está presente nas variantes P.1 e P.2.
A descoberta foi feita a partir do sequenciamento de 195 genomas de pacientes com Covid-19 de 39 municípios do Rio de Janeiro, Amazonas, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os participantes do estudo tinham entre 11 e 90 anos de idade, sendo 92 homens e 93 mulheres. A coleta das amostras ocorreu entre 1º de dezembro de 2020 e 15 de fevereiro de 2021.
A variante P.1, encontrada em Manaus, é a que causa maior preocupação por enquanto. Além da mutação E484K, ela apresenta duas outras importantes, como a N501Y que também foi identificada na cepa britânica. Por esse motivo, ela é classificada como “variante de preocupação”.
A P.2, por outro lado, é uma “variante de interesse”, pois apresenta menos mutações perigosas. Identificada no fim do ano passado no Rio de Janeiro, ela emergiu em algum momento no segundo semestre de 2020, segundo estudos. Atualmente, essa é a variante que mais predomina no Brasil.
A VOI 9, descoberta recentemente, também é classificada como variante de interesse por enquanto, sendo derivada da linhagem B.1.1.33. De acordo com o estudo da Fiocruz, ela tem três outras mutações e já vem se espalhando pelo Sudeste, Sul, Norte e Nordeste do Brasil desde agosto de 2020.
Os pesquisadores alertam para a necessidade de acelerar a vacinação no país, já que essa seria a melhor forma de impedir a propagação do vírus e, assim, evitar o surgimento de novas variantes. Com a transmissão descontrolada no Brasil, o país se torna um verdadeiro laboratório para que o vírus sofra diversas mutações, o que pode, eventualmente, tornar as vacinas atuais ineficazes.
[O Globo]