Autoridades médicas da China confirmaram que um novo vírus, originário da cidade de Wuhan, pode ser transmitido de humano para humano, e não apenas de animais para humanos. A notícia vem depois que uma sexta pessoa morreu por causa do vírus. Pelo menos 15 profissionais de saúde foram infectados também. A Organização Mundial de Saúde (OMS) convocou uma reunião de emergência para discutir o novo coronavírus nesta quarta-feira.
O vírus, chamado 2019-nCoV, infectou pelo menos 295 pessoas e se espalhou para a Tailândia, Japão e Coreia do Sul desde que foi identificado pela primeira vez em 31 de dezembro de 2019, de acordo com a CGTN, órgão de comunicação estatal chinês. Pelo menos oito pessoas permanecem em estado crítico.
O presidente chinês Xi Jinping reconheceu a existência do vírus pela primeira vez nesta segunda-feira (20), destacando que o surto “deve ser levado a sério”. A primeira morte causada pelo 2019-nCoV foi registrada em 9 de janeiro, após um homem de 61 anos de idade em Wuhan ter desenvolvido sintomas semelhantes aos de uma pneumonia. O prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, anunciou a quinta e sexta morte na cidade durante uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (21).
A Comissão Municipal de Saúde de Wuhan anunciou hoje que 15 profissionais de saúde ficaram doentes com o novo vírus enquanto tratavam os pacientes. Um dos profissionais de saúde está em estado crítico, enquanto os outros estão estáveis. Não está claro se os profissionais de saúde são todos do mesmo hospital ou se são de hospitais diferentes da cidade de 11 milhões de habitantes.
O novo vírus espalhou-se recentemente para algumas das maiores cidades da China, com cinco casos em Pequim e dois casos em Xangai sendo relatados até agora. As autoridades chinesas confirmaram que houve pelo menos 14 casos na província de Guangdong, a mais de 900 quilômetros de Wuhan, e acredita-se que pelo menos dois desses casos sejam de transmissão direta de humano para humano.
As autoridades de saúde acreditavam anteriormente que as únicas pessoas que tinham ficado doentes estavam em contato direto com animais no Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan em Wuhan. A CNN relata que o mercado vendia uma grande variedade de animais vivos para consumo, incluindo animais selvagens que podem transportar uma série de doenças.
A Coreia do Sul relatou seu primeiro caso do novo vírus na segunda-feira, em uma chinesa de 35 anos que havia viajado recentemente para Wuhan. A mulher, que não teve sua identidade revelada, não visitou nenhum mercado de alimentos com animais vivos de acordo com o Centro de Pesquisa e Política de Doenças Infecciosas (CIDRAP) da Universidade de Minnesota.
Especialistas sugeriram que o número real de pessoas infectadas com o novo vírus poderia ser muito maior do que as autoridades sanitárias chinesas divulgaram. O Center for Global Infectious Disease Analysis do Imperial College de Londres acredita que já pode haver mais de 1.700 casos, com base em seu modelo de previsão. Os oficiais de saúde começaram a comparar este novo vírus com a SARS (Síndrome respiratória aguda grave), que matou 774 pessoas de novembro de 2002 a julho de 2003.
O Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou nesta segunda-feira no Twitter que uma reunião de emergência ocorreria na quarta-feira para discutir se esse surto constitui uma “emergência de saúde pública de preocupação internacional”. Tal designação permitiria que o organismo de saúde global alocasse mais rapidamente fundos para a detecção do vírus.
O vírus apareceu em quatro países até agora, mas outros estão em alerta máximo. Na Austrália, um homem que visitou recentemente Wuhan está sendo monitorado, mas as autoridades de saúde na Austrália ainda não têm as ferramentas específicas para testar o 2019-nCoV. Os resultados do teste não estarão prontos por mais dois dias, de acordo com o ABC News da Austrália.
“No momento só podemos fazer um teste genérico para o coronavírus”, disse Jeannette Young, chefe de saúde do estado de Queensland, em uma coletiva de imprensa nesta terça-feira. “Não podemos fazer o teste específico para este vírus porque não o vimos antes, então temos que desenvolver os testes específicos para poder dizer que é este vírus em particular.”
Os aeroportos da Austrália, Coreia do Sul e Japão começaram a fazer triagem térmica das pessoas que vêm em vôos da China, em um esforço para identificar e colocar em quarentena qualquer pessoa que possa apresentar sintomas semelhantes aos de gripe.
A mulher de 35 anos que foi descoberta com o vírus na Coreia do Sul só soube disso através de exames térmicos no Aeroporto Internacional Incheon, em Seul. Apenas três aeroportos americanos estão rastreando o vírus até agora, de acordo com uma reportagem do Washington Post. Los Angeles, São Francisco e Nova York instalaram scanners térmicos.
O que você pode fazer para se proteger contra este novo vírus? Os conselhos são os mesmos daqueles que usamos para evitar gripe. Lave as mãos, não toque no próprio rosto e use uma máscara quando estiver em público, dizem especialistas em saúde pública.
“Para todas as temporadas de gripe damos sempre os mesmos conselhos: ‘Higienize as mãos. Lave as mãos com frequência, não esfregue o nariz e a boca”, disse o Dr. Gabriel Leung, diretor fundador do Centro Colaborador da OMS para Epidemiologia e Controle de Doenças Infecciosas, em uma coletiva de imprensa em Hong Kong.
“Por favor, tenha cuidado se você está doente”, continuou Leung. “Se você estiver indo para um lugar lotado, coloque uma máscara mesmo que você não esteja doente porque os outros podem estar, mesmo que eles tenham etiqueta para tosse ou espirro, eles ainda podem entrar em contato com você”.
“Se você tem algum sintoma, especialmente se você tem histórico de viagens a Wuhan, então por favor, procure atenção médica e seja honesto e aberto com seus médicos. Conte-lhes o seu histórico de viagens. Não esconda nenhum histórico dos seus médicos por medo: ‘se eu disser isso, posso ficar de quarentena’. Por favor, seja honesto para se ajudar e para ajudar os outros.”
As comemorações do Ano Novo Lunar na China começam no final desta semana, dando ainda mais preocupação às autoridades de saúde pública que o novo vírus possa se espalhar rapidamente.
Espera-se que centenas de milhões de pessoas viajem na China para o Ano Novo Lunar e que outros milhões viajem para fora da China. E se este novo vírus está se espalhando de pessoa para pessoa com tanta facilidade, já que 15 profissionais de saúde adoeceram, há uma preocupação muito real de que este surto possa se espalhar ainda mais nas próximas semanas.