O problema das casas inteligentes
A Revolv era uma empresa que atuava no setor de casas conectadas. Ela vendia um pequeno hub sem fio que serve como um controle remoto via Wi-Fi para todos os dispositivos inteligentes da sua casa – luzes, alto-falantes, termostato, entre outros.
Ela foi adquirida em 2014 pela Nest – que pertence à Alphabet, dona do Google – e encerrará seus serviços em breve, inutilizando todos os produtos que ela vendeu. A casa inteligente de algumas pessoas ficará “burra” em breve.
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Os fundadores da Revolv postaram uma carta no site da empresa, explicando que a partir de 15 de maio, ela vai desativar o hub – também chamado Revolv – e seus apps de smartphone. “O app do Revolv não vai abrir, e o hub não vai funcionar.” A garantia de doze meses do produto acabou no ano passado.
Em 2014, fomos comprados pela Nest, e a tecnologia que criamos se tornou parte integrante da plataforma Works With Nest. Agora isso está se transformando em algo mais seguro, mais útil e simplesmente melhor do que qualquer coisa que a Revolv já criou.
A Revolv faz parte da Nest, empresa adquirida pelo Google que vende produtos para casas conectadas, como um termostato e um detector de fumaça inteligente. (Ela agora é uma empresa independente dentro da Alphabet.)
A Nest confirmou os detalhes em um comunicado. “O Revolv foi um ótimo primeiro passo para a casa conectada, mas acreditamos que o Works With Nest é uma solução melhor, e estamos alocando recursos para esse programa”, disse Ivy Choi, da Nest, por e-mail. Ela não pôde fornecer o número de dispositivos que serão afetados.
Os clientes da Revolv meio que sabiam há algum tempo que o fim estava chegando. Quando a Nest comprou a empresa, ela interrompeu imediatamente a venda dos hubs, e um de seus executivos disse na época ao Re/code: “nós não somos fãs de mais um hub com o qual as pessoas precisem se preocupar”.
Ainda assim, as pessoas que compraram o Revolv têm todo o direito de se sentir um pouco ofendidas. Afinal, isso não se trata de interromper suporte e atualizações, e sim de inutilizar um dispositivo. Eu sei que ficaria bem irritada se um produto no qual eu gastei US$ 300 abruptamente parasse de funcionar por uma decisão da empresa que o vendeu.
É o caso de Arlo Gilbert, CEO da Televero. Ele usa um detector de movimento para acender as luzes da casa, para iluminar o jardim à noite ao pôr do sol, e para ativar lentamente uma lâmpada e o alto-falante pela manhã. Tudo isso é orquestrado pelo Revolv.
Gilbert nota que ele poderia simplesmente comprar outro dispositivo, mas essa não é a questão aqui: isto pode indicar um futuro preocupante para casas conectadas.
Qual hardware a empresa decidirá inutilizar intencionalmente a seguir? E quanto ao alarme de incêndio e fumaça da Nest? E quanto à câmera Dropcam? Esses dispositivos têm hardware e software que estão intrinsecamente ligados. Quando o fim da garantia se torna um direito de desativar funções essenciais de um dispositivo?…
A era da Internet das Coisas está pondo fim ao conceito de propriedade? Estamos apenas comprando hardware intencionalmente temporário? Parece que sim.
Jim Killock, diretor-executivo da organização Open Rights Group, parece concordar. Ele diz ao Business Insider: “isto levanta questões importantes sobre a transparência dos produtos que agregam serviços e hardware, que é algo cada vez mais comum. Se o hardware pode deixar de ser funcional além de uma certa data, isso precisa ficar claro no momento da compra. Contar com o fim da garantia para desativar um produto parece ser uma abordagem pouco clara e bastante desonesta.”
Uma alternativa seria oferecer o código-fonte ao público para manter o Revolv funcionando – é algo que o Google faria. E quem quiser investir numa casa conectada precisa considerar com ainda mais atenção os riscos dos produtos que comprar, e como mantê-los funcionando mesmo que a empresa não queira.
[Revolv – Medium – Business Insider; imagem via]