O que são ondas Kelvin e por que elas impulsionam o El Niño
A confirmação do El Niño em 2023, na metade de maio pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da NASA), veio depois da identificação das ondas Kelvin. É um fenômeno que sempre aparece antes do aumento do nível do mar e da temperatura do oceano ao longo da costa das Américas.
É possível antever o El Niño com outros fatores, como a velocidade dos ventos alísios e a temperatura das águas oceânicas. Mas nada é tão contundente quanto as ondas Kelvin.
Não é por acaso. As ondas Kelvin têm de 5 a 10 centímetros de altura e se estendem por centenas de quilômetros de largura enquanto se movem de oeste para leste na superfície do oceano. Elas foram descobertas em 1879 por William Thompson, que mais tarde ficou conhecido como Lord Kelvin.
Mas o que são as ondas Kelvin e porque têm relação com o El Niño?
As ondas se formam por causa da pressão que a atmosfera exerce sobre a água. Quando a pressão aumenta, a água na superfície se comprime e se expande. Nesse movimento de ir e vir, a água quente da superfície se mistura com a água gelada das profundezas, o que forma as correntes.
Quando as ondas Kelvin se formam na Linha do Equador, elas levam a água quente em direção à costa oeste da América do Sul saindo do Pacífico Ociental e passando pelo Pacífico Oriental – ou seja, um movimento de oeste para leste.
Essas ondas que começam na primavera do hemisfério norte – a estação atual – sempre antecederam o El Niño ao longo da história. Por isso, são um forte indício de que o fenômeno voltará a ficar ativo nos próximos meses.
Consequências
O principal efeito dessas correntes de água mais quentes é o aumento da evaporação diante do aquecimento brusco e inesperado dos oceanos. Por isso, há mais chuvas e mais chance de eventos climáticos extremos.
Dados de satélite de março a abril deste ano mostraram o acúmulo de ondas Kelvin nas águas quentes nas costas do Peru, Equador e Colômbia. Como consequência, o Peru registrou calor em níveis históricos em abril.
Na última ocorrência de El Niño, em 2016, todo o mundo sentiu os efeitos do fenômeno. As temperaturas bateram recordes e houve um aumento da perda de florestas tropicais e degelo polar.
Agora, a perspectiva de um El Niño de alta intensidade preocupa os analistas ambientais, que já estimam a possibilidade de calor recorde em 2023 e 2024.
“É muito mais provável que tenhamos um El Niño neste ano do que não”, disse Josh Willis, pesquisador da NASA, à BBC. “Mas se é um grande ou pequeno, é algo que teremos que esperar para saber”.