Cultura

“One Piece”: todas as diferenças entre o anime e a série da Netflix

Vários exemplos comprovam que adaptar um mangá/anime para outra mídia é uma tarefa difícil. Por isso, enquanto o anime tenta ser um remake exato do mangá, a versão live-action faz várias alterações
Imagem: Pablo Nogueira/Giz Brasil

Finalmente, no dia 31 de agosto, a Netflix lançou a aguardada adaptação em live-action do anime “One Piece”. A série superou os recordes de “Wandinha” e “Stranger Things” ao ficar no top 10 da Netflix em 93 países.

Em 46 países, incluindo o Brasil, “One Piece” ocupa a primeira posição pela segunda semana seguida, com 18,5 milhões de visualizações entre 28 de agosto e 3 de setembro.

Com 8 episódios, a primeira temporada da série abrange os eventos da saga East Blue, com 61 episódios no anime, baseando-se nos 108 primeiros capítulos do mangá.

Contudo, vários exemplos comprovam que adaptar um mangá/anime de longa duração para outra mídia é uma tarefa bastante difícil, sobretudo quando se trata de “One Piece“.

Por isso, enquanto o anime tenta ser um remake exato do mangá, a versão live-action faz várias alterações no material original.

A maioria das alterações no live-action de “One Piece” são menores: desde mudanças dos locais de algumas lutas, ou a redução do elenco de apoio – para tornar o ritmo mais fluído –, mas também algumas diferenças maiores, resultando na remoção de grandes antagonistas do anime de “One Piece” na série da Netflix.

Além de mudanças, tivemos também provocações importantes por parte dos criadores da série live-action. Algumas dessas mudanças na adaptação live-action de “One Piece” já causaram discussões acaloradas na comunidade de fãs do anime. Aliás, a comunidade dos fãs do anime e do mangá é conhecida por extensas discussões e teorias sobre a obra de Eichiro Oda.

Portanto, vamos listar todas as principais diferenças entre a série da Netflix e o anime de “One Piece”, mas cuidado com os spoilers!

Diferenças nas apresentações dos personagens de “One Piece” na Netflix

Imagem: Netflix/Divulgação

Em qualquer obra de ficção, a apresentação dos personagens é crucial, mas algumas mídias precisam ser mais fluídas, diferentemente dos animes. Desse modo, uma das primeiras diferenças importantes entre a versão da Netflix e o anime de One Piece foi a introdução dos personagens.

Luffy e o início de One Piece

Os episódios de abertura da série da Netflix empregam um pouco de narrativa não linear para intercalar as cenas da história de Luffy com a história de como ele formou sua tripulação.

Imagem: Pablo Nogueira/Giz Brasil

Talvez, a alteração mais aparente sobre Luffy é como ele ganha seus poderes. No anime, Luffy come a Fruta do Diabo na presença de Shanks e seus piratas. Já no live-action, o protagonista come a fruta sozinho.

Mesmo assim, a história não muda muito até ele chegar em Shells Town, quando encontra Zoro, Helmeppo e Capitão Morgan.

Imagem: Netflix/Divulgação

Entretanto, no primeiro episódio, a série modifica a cena da execução de Gol D. Roger, o rei dos piratas, e seu captor. Algumas das maiores mudanças de “One Piece” no live-action, acontece apenas no capítulo 92 do mangá.

No live action de “One Piece”, Garp é quem conduz a execução de Gol D. Roger, isso é mostrado ao final da temporada, quando Garp se lembra da risada de Roger, enquanto olhava para Luffy, no último episódio.

No anime, além de Garp não estar presente na execução, a informação de que Luffy é seu neto ocorre após mais de 200 episódios. A série da Netflix revela o parentesco entre os personagens  no quarto episódio.

Execução de Gol D. Roger: alteração da série da Netflix reforça teoria dos fãs

Outra mudança interessante do live-action é a presença de vários personagens importantes de “One Piece” durante execução do rei dos piratas, incluindo Shanks, Mihawk e Smoker. Embora isso seja exatamente o que acontece no anime, uma das diferenças presentes na série da Netflix é o vilão Crocodile sendo uma mulher.

Isso é uma referência a uma teoria muito antiga da comunidade dos fãs de “One Piece” sobre o Crocodille ter se tornado mulher através dos poderes de Ivankov, um personagem que consegue mudar o gênero de qualquer pessoa, ainda não apresentado na série. A teoria ganhou força na saga “Impel Down”, no anime, quando Ivankov ameaça “revelar o segredo de Crocodile”.

No anime, essa teoria ainda não foi respondida. Mas, durante a execução do rei dos piratas, não é possível ver o rosto de Crocodile. Desse modo, os produtores da série da Netflix, inspirados nessa teoria, transformaram o personagem em mulher.

Apesar de ser uma adaptação, a série de “One Piece” da Netflix foi supervisionada pelo criador do mangá. Eichiro Oda, afirmou agir como um “cão de guarda” durante a produção da série para garantir que a adaptação saísse da forma mais correta.

Portanto, essa referência na série reforça a teoria, o que pode causar ainda mais impactos no anime, mas explicar o motivo seria dar muito spoiler.

Zoro, Baroque Works e easter eggs

Diferenças entre o anime de One Piece e a série da Netflix

Comparação do primeiro encontro entre Luffy e Zoro no anime e na série da Netflix. Imagem: Twitter/Reprodução

Continuando sobre Crocodile, na série da Netflix, a sua organização criminosa, Baroque Works, aparece já no primeiro episódio com um de seus membros enfrentando Zoro. No anime, a organização aparece após 61 episódios.

Por isso, a introdução do Zoro é bastante diferente no live-action. No anime, Luffy encontra  “Caçador de Piratas” em Shells Town, mas no live-action, Zoro aparece, inicialmente, em frente ao túmulo de Kuna, sua amiga de infância. Além disso, Zoro luta contra Mr.7 da Baroque Works logo após o vilão tentar recrutá-lo.

As diferenças entre a série da Netflix e o anime de “One Piece” em relação a esse evento é que a luta entre Zoro e Mr.7 luta nunca apareceu na obra original.

Aliás, o Mr. 7 do live-action não é o mesmo personagem do anime. No anime de “One Piece”, o Mr.7 é um substituto, portanto, havia outro Mr.7 anteriormente, que, de fato, tentou recrutar Zoro, mas o evento nunca apareceu.

Contudo, em um dos famosos ‘SBSs’, o cantinho de perguntas ao autor nos volumes encadernados dos mangás de “One Piece”, um fã pergunta como “era a aparência do Mr.7 que tentou recrutar Zoro”.

as diferenças entre personagens do anime de One Piece e da série da Netflix.

A versão do Mr. 7 original é similar ao personagem da série da Netflix. Imagem: Pablo Nogueira/Giz Brasil

A resposta do autor Eichiro Oda foi um sketch de um personagem bastante similar ao do live-action, mas que foi morto por Zoro e nunca apareceu no anime.

Shanks, Nami e Koby

Outras diferenças notórias que aparecem nos primeiros episódios envolvem Shanks. O Pirata Ruivo afirma em um dos primeiros episódios que irá atrás do tesouro do “One Piece”. No anime, isso acontece somente após mais de mil episódios, pois quando shanks se despede de Luffy, ele informa o destino de sua tripulação.

O personagem do capitão Morgan também ganha um espaço muito maior na série da Netflix e Nami está presente enquanto Luffy luta para libertar Zoro da prisão.

Nami aparece na série da Netflix no início do primeiro episódio, mas no mangá ela aparece no capítulo 8, após o encerramento do arco de shellstown. A introdução de Nami uma das triplas diferenças entre as mídias de “One Piece”. No anime Nami aparece no episódio 4, mas é um filler, ou seja, uma história que não ocorreu no mangá.

Koby, além de Nami, tem um papel muito maior na série da Netflix do que no anime de “One Piece”. Embora ele se junte à marinha no live-action, a série não mostra a luta entre ele e Luffy.

Em vez disso, Koby fica com os marinheiros e, posteriormente, é interrogado por Garp, não apresentando, portnato, Koby como a antítese de Luffy. Um quer ser o maior marinheiro da história, enquanto o outro almeja ser o rei dos piratas.

Série da Netflix apresenta diferenças ao anime na jornada de Garp

Imagem: Netflix/Divulgação

 As diferenças no papel de Garp são um dos aspectos mais confusos da série da Netflix em comparação ao anime. Obviamente, Garp, Koby e Helmeppo são figuras bastante presentes no anime, mas, diferentemente do live-action, os personagens não fazem parte das primeiras aventuras de Luffy no anime.

Imagem: Twitter/Reprodução

Além de aparecer no flashback da execução de Gol D. Roger, Garp tem uma grande presença na primeira temporada da série da Netflix, mas, ao contrário do anime, como uma forma de antagonista.

Na série, o avô de Luffy persegue os Chapéus de Palha quando partem de Shells Town rumo à vila Cocoyasi. Entretanto, Garp aparece no anime apenas no episódio 68, sem o sentimento de proteção de avô que a série da Netflix insere no personagem.

“Buggy, o Palhaço”, não tinha circo no anime

Imagem: Netflix/Divulgação

 Quando a tripulação de Luffy chega à Orange Town, os personagens descobrem que a cidade foi tomada pelo pirata Buggy, o Palhaço. No anime de “One Piece”, isso ocorre entre o quinto e o oitavo episódio.

A adaptação da Netflix encurtou essa trama história em um único episódio de uma hora. Desse modo, como esperado, a história foi bastante editada e reduzida no live-action. A maioria da tripulação de Buggy foi removida e se limita a breves participações especiais.

Além disso, a luta contra Buggy no anime acontece em toda cidade, destruindo vários prédios de Orange Town. No live-action o confronto se passa em uma tenda de circo, de propriedade do vilão, que nunca teve circo no anime.

Durante o arco de Buggy, uma das maiores diferenças entre o anime de “One Piece” e a série da Netflix é o roubo do mapa da Green Line. Na série, os “Chapeús de Palha” roubam o mapa da Green Line de Buggy, mas no anime, a tripulação de Luffy rouba o mapa dos marinheiros.

Usopp e a primeira vez em que personagens se beijam em “One Piece”

Outra grande diferença entre o anime de “One Piece” e a série da Netflix ocorre quando a tripulação chega à Vila Syrup e encontra um de seus principais membros, Usopp.

Além de reduzir muitas batalhas e remover vários personagens, uma das maiores mudanças do live-action ocorre durante essa parte da série, como a doença de Lady Kaya. As crianças que compõem o fictício  grupo de piratas de Usopp também não aparecem na adaptação. Isso, portanto, tira um pouco da importância da introdução de Usopp.

O plano do vilão Kuro de matar Lady Kaya é similar ao do anime, mas acontece de maneira diferente no live-action e não há a presença de outros piratas do grupo de Kuro.

Beijo em série live-action de One Piece é uma das diferenças entre a obra da Netflix e o anime original

Imagem: Twitter/Reprodução

Sobre a relação entre Usopp e Kaya, embora próxima da obra original, a grande mudança é o beijo entre os personagens, que nunca aconteceu no anime. Aliás, nunca houve uma cena de beijo no anime de “One Piece”.

Sanji, Arlong e mais mudanças na trama original

Após a introdução de Usopp, chega a hora de apresentar o próximo tripulante, o Sanji. Uma das diferenças nos episódios do restaurante Baratie na série da Netflix, onde Sanji trabalha, é o papel de Luffy como ajudante de cozinha, que no anime se deu pelos danos que o personagem causou ao restaurante.

Imagem: Twitter/Reprodução

A principal mudança na narrativa é a aparição do vilão Arlong no Baratie, que toma o lugar de Don Krieg como a maior ameaça desse arco.

Imagem: Netflix/Divulgação

No anime, Arlong aparece quando Luffy e sua trupe procuram por Nami na Vila Coco e em Arlong Park, a fortaleza do tritão. Por isso, a alteração na motivação da traição de Nami no live-action se dá pela presença de Arlong no Baratie.

A personagem trai os “Chapéus de Palha” para tentar salvar a vida de Luffy após sua luta contra Arlong, algo que nunca ocorreu no anime.

Série da Netflix explica tema importante logo na primeira temporada

Os dois últimos episódios do live-action mostram a tripulação dos protagonistas de “One Piece” tentando resgatar Nami após a traição. Durante esses episódios, a série apresenta a história de Nami em um flashback, similarmente ao anime, mostrando como ela se tornou uma escrava de Arlong.

Imagem: Netflix/Divulgação

Contudo, nessa fase, há grandes diferenças entre a série da Netflix e o anime original de “One Piece”. Talvez, a principal e grande mudança é que a série apresenta as motivações de Arlong desde o início, ou seja, seu ódio pelos humanos.

No anime, Arlong apenas desdenha dos humanos por serem fisicamente inferiores aos tritões, mas o live-action explora uma narrativa da obra original que aparece após mais de 600 episódios: a escravização dos tritões pelos humanos e a segregação entre as duas raças.

Menos comédia, mais dark: as diferenças no teor de One Piece na série da Netflix 

Por fim, os diferentes teores nas narrativas das duas obras fecham a lista de diferenças entre a série da Netflix e o anime de “One Piece”.

“One Piece” é, sem dúvida, um dos animes mais engraçados da história, sobretudo em sua primeira saga, quando não há muita intensidade e temas mais sérios. No anime, o primeiro encontro de Luffy com Koby, a luta contra Arlong e as interações entre a tripulação são momentos extremamente cômicos.

Contudo, a série da Netflix reduz esse teor de comédia significativamente. Embora ainda tenha momentos divertidos, não há como comparar essa característica com o anime.

Possivelmente, essas diferenças no teor da série da Netflix e do anime ocorrem porque a versão live-action precisa alcançar públicos mais velhos, enquanto o anime, por ser um shonen, é voltado para garotos adolescentes.

No entanto, mesmo sendo um clássico shonen, o anime de “One Piece” possui momentos violentos e obscuros, lidando com temas como tirania, opressão e escravidão. Essa temática é elevada a outro patamar na série da Netflix graças aos efeitos visuais e os momentos sangrentos, como a luta entre Zoro e Mr. 7.

Por falar em obscuro, a iluminação da série e sua edição tornam o live-action literalmente mais escuro que o anime.

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