Opiniões extremas são mais atraentes que as moderadas? Veja o que diz a ciência
Um estudo da Universidade de Harvard (EUA) identificou que as pessoas se atraem mais por pessoas com opiniões parecidas que as suas – especialmente quando elas são mais extremas.
Até então, pesquisadores acreditavam que o principal motivo para a criação de laços sociais era o que os gregos chamavam de homofilia – ou o “amor ao semelhante”. Agora, identificaram um novo componente: acrofilia, ou “amor pelos extremos”.
Segundo os estudos, as pessoas não só se atraem por quem pensa igual, mas também por quem têm opiniões políticas mais extremas dos seus pontos de vista. A conclusão veio depois de quatro estudos com 1.235 pessoas nos EUA.
Nas ocasiões, pesquisadores pediam que classificassem suas respostas a diversas situações políticas. Os participantes relataram suas emoções e opiniões ou ver imagens de tópicos como controle de armas, caça, aborto e aumento dos gastos militares, por exemplo.
Em seguida, eram apresentados a seis “colegas” da pesquisa, com visões políticas iguais e diferentes. Aí, então, os participantes precisavam escolher os colegas cujos pontos de vista gostariam de saber nas próximas rodadas do experimento.
Entre liberais ou conservadores, todos tendiam a escolher os colegas com pontos de vista não só parecidos, mas também mais extremos que os seus.
Qual a explicação?
Amit Goldenberg, que liderou os estudos, escreveu na revista Scientific American que muitos fatores podem levar à atração aos extremos. O primeiro é que pessoas mais extremas tendem a ser mais vocais e parecer mais coerentes. O motivo: costumam ter opiniões alinhadas a uma única ideologia política.
Isso se mostrou verdadeiro em uma pesquisa realizada na Argentina, em 2021: cientistas pediram que 2.632 pessoas tivessem uma discussão política com um estranho e, depois, avaliassem o quanto gostavam daquela pessoa.
O resultado: os participantes mostraram uma forte preferência por pessoas que expressaram visões políticas mais confiantes e ideologicamente consistentes. Já aqueles com atitudes ambíguas e ambivalentes quase não despertaram a simpatia de ninguém.
Outra explicação possível é que muitas pessoas se sentem atraídas pela “projeção” que acreditam ser o seu grupo de identificação. Segundo os estudos, os participantes mais propensos à acrofilia também tendiam a pensar que o “membro típico” do seu grupo político era muito mais extremista do que de fato se mostrava.
Na prática, esses participantes podem ser atraídos a extremos porque acreditam que esses pontos de vista são mais representativos de seu grupo político como um todo. “No quadro geral, sabemos que é improvável que os membros mais radicais de um determinado grupo reflitam a perspectiva média dentro dessa comunidade”, escreveu Goldenberg.
O que fazer sobre a acrofilia
Agora, pesquisadores tentam entender o poder da acrofilia nas sociedades polarizadas. Os estudos sugerem que pessoas podem estar procurando por vozes mais extremas nas redes sociais e na mídia, mas ainda não há evidências sólidas de que essas tendências também influenciam amizades, casamentos e outras conexões sociais.
“Uma coisa é gostar de ler uma perspectiva extrema e outra é interagir regularmente com alguém que tem essas opiniões”, justificou o pesquisador. Mesmo assim, entender as origens e o que baseia esse comportamento é urgente.
“Em última análise, esse padrão [acrofilia] acelera a segregação e torna mais difícil cooperar, transigir e encontrar um terreno comum – todas as características essenciais de uma sociedade saudável”, pontuou o pesquisador.