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A oferta da Oracle para controlar o TikTok nos EUA é real, mas também uma bagunça

Integrantes do governo dos EUA e funcionários da Oracle acreditam que manter o app funcionando por lá pode gerar consequências negativas.

Oracle e TikTok. Crédito: Nicolas Asfouri/AFP (Getty Images)

Nicolas Asfouri/AFP (Getty Images)

Os esforços do governo de Donald Trump para obrigar a ByteDance, com sede em Pequim, a vender sua subsidiária americana TikTok para uma empresa americana parecem estar surtindo efeito – e a Oracle, que lidera a disputa, tem tentado que os órgãos reguladores aceitem o negócio.

A Casa Branca, sob a alegação que a proprietária do TikTok representa uma ameaça à segurança porque empresas de tecnologia chinesas não podem ser confiáveis ​​para não espionar os cidadãos estadunidenses, emitiu uma ordem executiva ameaçando “banir” o aplicativo em 30 de setembro. Isso se a ByteDance não entregar seus produtos para uma companhia com sede nos EUA.

Desde então, a Oracle se tornou a principal candidata, derrotando concorrentes como Microsoft e Walmart, e de uma forma bastante cômoda, já que o cofundador da Oracle, Larry Ellison, é um grande arrecadador de fundos para Trump. O mesmo pode-se dizer do CEO Safra Catz, que estava na equipe de transição do atual governo em 2016. A empresa também tem laços estreitos com agências de inteligência dos EUA.

A Oracle está buscando um acordo em que não se tornaria a proprietária da TikTok. Em vez disso, ela se tornaria uma parte minoritária e uma “fornecedora de tecnologia confiável” com responsabilidades pouco claras, e a ByteDance já avisou que não quer vender ativos importantes, entre eles os algoritmos da TikTok. No entanto, a Bloomberg informou nesta quarta-feira (16) que a ByteDance pode concordar em permitir que a Oracle analise seu código-fonte para quaisquer backdoors e formar um conselho de revisão independente “aprovado pelo governo dos EUA”

Para evitar o banimento total do TikTok nos EUA, Trump teria que ser convencido pelo secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, que redirecionou os esforços do presidente para apoiar a venda em vez de expulsar o app do País.

Segundo o Wall Street Journal, Trump disse a repórteres que “soube que eles estão muito próximos de um acordo” e que tem “grande respeito” por seu amigo Ellison. Mas o New York Times também relatou que a linha dura republicana no Senado, que apoiou a pressão inicial para reprimir o TikTok, disse que suas preocupações com a segurança nacional não seriam resolvidas com a Oracle como “fornecedora de tecnologia confiável”.

Os senadores Marco Rubio, Thom Tillis e John Cornyn escreveram uma carta ao governo dizendo que tinham “preocupações significativas” e acreditam que a oferta da Oracle é “insuficiente para atingir os objetivos de proteger os interesses dos americanos e dos EUA”. O senador Josh Hawley, conhecido pelas terríveis ideias sobre tecnologia, escreveu uma carta separada destacando que “talvez, dadas as restrições impostas pela lei chinesa, a única maneira viável de manter a segurança dos americanos é proibir efetivamente o aplicativo TikTok nos Estados Unidos”.

Supostamente, os céticos da provável negociação Oracle/TikTok incluem o secretário de Estado Mike Pompeo, que acredita que qualquer coisa abaixo do controle da maioria não impedirá uma possível espionagem, e o procurador-geral Bill Barr. De acordo com a Bloomberg, ambos os executivos estão agora conversando diretamente com executivos da Oracle.

O Wall Street Journal relatou que as autoridades americanas estão pressionando a Oracle a se associar ao Walmart para obter mais de 50% do controle do TikTok, e que uma “pessoa familiarizada com o assunto” sugeriu que eles poderiam abrir o capital da empresa para conseguir esse tipo de negociação. Em teoria, isso criaria um cenário muito conveniente a Trump, que poderia se gabar de orquestrar uma enorme oferta pública inicial (IPO). O Recode, citando mensagens internas do Slack, também relatou que muitos dos próprios funcionários da Oracle estão irritados com o que consideram um negócio corrupto e confuso sobre como o status de “parceiro de tecnologia confiável” poderia evitar a espionagem.

“Vejo isso como beijar a bunda de Trump e prejudicar ainda mais a Oracle na comunidade de desenvolvedores, dando a eles mais motivos para nos odiar”, disse um funcionário ao Recode. Outro disse ao site que muitos funcionários “têm um gosto desagradável na boca” sobre o “papel da Casa Branca em tudo isso e a percepção da proximidade de Larry e Safra com Trump”.

Um outro funcionário observou que tal acordo seria bom para o preço das ações da Oracle.

Lembrando que nada sobre os termos do acordo está definido e tudo isso pode mudar facilmente.

Trump admitiu a derrota em seus esforços de o eventual comprador do TikTok de fazer pagamentos diretos “muito substanciais” ao Tesouro dos EUA – isso poderia facilitar o negócio, o que seria equivalente a um suborno. Em seus comentários aos repórteres na quarta-feira (16), o presidente disse que “surpreendentemente, acho que não temos permissão para fazer isso”. Trump também pode não ter ideia do que está acontecendo com a oferta da Oracle, ou que os detalhes relatados envolvem a ByteDance mantendo a propriedade majoritária do aplicativo.

“Conceitualmente, posso dizer que não gosto disso. Se for esse o caso, não vou ficar feliz com isso”, pontuou Trump.

O Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA, órgão do Departamento de Comércio que precisará aprovar o negócio, ouviu as ofertas das empresas na quarta-feira. Trump disse a repórteres que analisará o acordo na manhã desta quinta-feira (17).

Observe que em nenhum momento o governo dos EUA ofereceu qualquer prova de que as agências de inteligência, militares ou de segurança chinesas alguma vez obtiveram acesso aos dados do usuário dos EUA por meio do TikTok ou interferiram em suas operações.

Todo o motivo para forçar a venda da companhia é uma mera suspeita de que tal situação possa surgir no futuro. Também não vamos ignorar o fato de que banir o TikTok, que tem 100 milhões de usuários só nos Estados Unidos, é meramente um abuso de poder com motivação política ou estabelecer um precedente alarmante para a censura autoritária e arbitrária da internet. Mas bem, pelo menos alguns dos amigos do presidente poderão ficar mais ricos.

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