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Orangotangos fazendo beatbox? Estudo mostra essa habilidade de sons

Estudo acadêmico constata que orangotangos conseguem fazer sons diferentes simultaneamente, habilidade usada por beatboxers

Orangotangos fazendo beatbox? Estudo mostra essa habilidade de sons

Imagem: PxHere/Reprodução

Nossos primos primatas possuem uma habilidade vocal curiosa: emitir dois sons ao mesmo tempo, um dom que antes se acreditava ser exclusividade dos seres humanos e das aves que cantam, como o pássaro melro. Um estudo lançado nesta semana revela que os orangotangos conseguem fazer sons diferentes simultaneamente, assim como os beatboxers.

Publicada no periódico PNAS Nexus, a descoberta permite que os pesquisadores avancem nos estudos sobre a evolução da fala humana e também do beatboxing. A equipe observou duas populações de orangotangos emitindo sons nas ilhas de Bornéu e Sumatra, no sudeste asiático, por cerca de 3,8 mil horas.

É possível escutar os sons no vídeo abaixo. Os cientistas perceberam que ambos os grupos de orangotangos usavam o mesmo fenômeno vocal de “dois sons ao mesmo tempo”. Isso comprova que não foi uma descoberta casual, e sim a constatação de um fenômeno biológico.

 

 

“Os humanos usam os lábios, a língua e a mandíbula para fazer os sons surdos das consoantes, enquanto ativam as pregas vocais na laringe com o ar exalado para fazer os sons abertos e sonoros das vogais”, explicou em comunicado Adriano Lameira, coautor do estudo e psicólogo da Universidade de Warwick, no Reino Unido.

Quando estão em um momento de tensão, os grandes orangotangos machos de Bornéu podem produzir ruídos que se parecem com barulhos da mastigação e resmungos ao mesmo tempo, por exemplo. Normalmente, a comunicação entre humanos é verbal ou sem voz. Mas é fato que todos nós temos essa habilidade “mágica” que os beatboxers utilizam para reproduzir os complexos efeitos musicais e melodias do rap.

Descoberta ajuda a entender lacuna evolutiva

De acordo com o Guinness World Records, a maratona de beatbox mais longa da história foi de surpreendentes 25 horas e 30 minutos. Essa prática usa a boca, a língua, os lábios e as cordas vocais e pode até ser menos desgastante para a voz do que o canto tradicional. Mas o que nos permite fazer essa ginástica vocal?

“O próprio fato de os humanos serem anatomicamente capazes de fazer beatbox levanta questões sobre a origem dessa habilidade. Agora sabemos que a resposta pode estar na evolução de nossos ancestrais”, disse Madeleine Hardus, coautora do estudo e pesquisadora independente.

Para Lameira, agora que sabemos que essa habilidade vocal faz parte do repertório dos grandes símios selvagens, não podemos ignorar os elos evolutivos. A equipe diz que o controle vocal e as habilidades de coordenação dos orangotangos foram subestimados no passado, em comparação com os estudos sobre a capacidade vocal dos pássaros.

“Produzir dois sons, exatamente como os pássaros produzem o canto, assemelha-se à linguagem falada. Porém, a anatomia das aves não tem semelhança com a nossa, por isso é difícil fazer ligações entre o canto dos pássaros e a linguagem humana falada”, explicou Hardus.

Os cientistas acreditam que é possível que a linguagem humana primitiva soasse mais como beatboxing, antes de evoluir para nossa atual estrutura de linguagem de consoantes e vogais.

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