Órgãos de porcos geneticamente modificados podem um dia ser transplantados para humanos
Na notícia que parece ter sido retirada diretamente de um romance distópico de Margaret Atwood, cirurgiões conseguiram manter o coração geneticamente modificado de um porco dentro de um babuíno por 945 dias antes dele parar de funcionar mês passado. Experimentos de “xenotransplantação” como este pode fazer com que médicos criem porcos no futuro para fazer transplantes.
O atual transplante de coração de porco em babuíno vence o recorde da xenotransplantação anterior, que durou 179 dias e foi alcançada pelo Hospital Geral de Massachusetts, nos EUA. Também no transplante atual, médicos da Universidade de Pittsburg, EUA, dizem ter mantido um babuíno vivo com o rim de um porco por mais de 4 meses, registrando um recorde de mais longo xenotransplante de sustento à vida entre um porco e um primata.
Isso pode soar como ciência maluca, e ela certamente gera uma série de questões éticas. Mas Martine Rothblatt, notória futurista e fundadora da companhia de biotecnologia United Therapeutics, que fundou o recente xenotransplante, acredita que este trabalho vai eventualmente nos levar a um “fornecimento ilimitado de órgãos para transplante”. E afirmação tem alguns precedentes, já que válvulas dos corações de porcos são usadas em cirurgias de coração humano há anos.
Mas a ideia de colocar um coração de porco inteiro dentro de humanos ainda tem batalhas para encarar. Nas poucas ocasiões em que médicos efetuaram xenotransplantação em humanos, o resultado foi um desastre por causa da feroz e rápida rejeição do sistema imunológico. A MIT Tech Review explica:
No famoso caso de 1984, um recém nascida da Califórnia conhecido por “Baby Fae” recebeu o coração de um babuíno. Mas ele durou meras três semanas antes de parar de funcionar. O corpo humano reage ainda mais fortemente ao tecido de porco, já que porcos são geneticamente mais distantes. Todos os testes humanos de órgãos de porcos se encerraram rapidamente, e de forma ruim. Uma mulher de Los Angeles que recebeu o fígado de um porco em 1992 morreu 32 horas depois. A última vez que eu médico transplantou o coração de um porco em uma pessoa, na Índia em 1996, ele foi preso por assassinato.
O recente transplante entre porco e babuíno fez uso de órgãos de porcos “humanizados” que contém até cinco genes primatas. Injetar um pouco de DNA primata nele também parece ajudar, mas não elimina a rejeição por completo. O babuíno com coração de porco, por exemplo, ainda preciso receber uma dose diária de uma poderosa droga para suprimir a resposta natural do sistema imunológico.
E por mais marcante que a descoberta possa ser, o atual xenotransplante não era sustentável. O coração do porco foi ligado ao sistema circulatório do babuíno e batia, mas o coração original do babuíno permanecia no mesmo lugar para bombear sangue.
Serão anos até alguém se atrever a tentar isso em humanos. E até lá, a ciência já pode nos ter oferecido outras opções para o transplante de órgãos, incluindo órgãos criopreservados, impressos em 3D e partes cibernéticas. Só não podemos dizer que o futuro não será emocionante. [MIT Tech Review]
Foto de capa: Nick Saltmarsh/Flickr