Novo outdoor usa câmeras escondidas para mostrar anúncios baseados em idade e emoções
O famoso Piccadilly Circus, de Londres, está ganhando uma nova tela imensa e aterrorizante chamada Piccadilly Lights. De acordo com seu criador, a enorme tela (quase do tamanho de duas quadras de basquete profissional) pode detectar veículos, idades e até emoções das pessoas por perto, respondendo a isso com anúncios direcionados. Imagine a Times Square, de Nova York, com uma transformação de Eles Vivem, de John Carpenter, mas sem nenhum pretexto de enganação.
• Nova câmera corporal da Motorola chega perto de ser uma vigilância distópica
• O problema do argumento “quem não deve, não teme” para a vigilância em massa
“O conteúdo na tela pode ser influenciado pelas características do público ao seu redor, como gênero, grupo de idade e até mesmo emoções”, se gaba em seu site a Landsec, dona da tela.”Ela também é capaz de responder e entregar conteúdo de anúncio personalizado a partir dos arredores na área.”
Um artigo sobre a Piccadilly Lights na Wired foca especificamente no potencial para propaganda dos carros que passam:
Câmeras escondidas dentro da tela vão rastrear marca, modelo e cor dos carros que passam para entregar anúncios mais direcionados. As marcas podem até mesmo programar previamente disparadores para que anúncios específicos sejam executados quando um certo modelo de carro passar em frente à tela, de acordo com a Landsec, empresa dona das telas.
De acordo com a revista, a tela e suas câmeras escondidas não serão lançadas até o final deste mês, mas o comunicado de imprensa inicial da Landsec contém o marketing distópico suficiente para a gente começar a se preocupar agora. Nele, a Piccadilly Lights é exaltada como “um site ao vivo e responsivo” com “uma das telas LED de maior resolução neste tamanho no mundo”. As câmeras escondidas não são mencionadas, é claro, mas a instalação é propagandeada como “criar experiências que ressoem emocionalmente” usando “escuta social” para que possa “ser mais ágil e adaptar nossas mensagens em tempo real”.
Mas não se engane. Isso é um aparato de vigilância de consumidor enorme que está sendo anunciado como uma maneira de monitorar um espaço público para vender TVs e sutiãs esportivos às pessoas. Contribuindo para o fato assustador, a maioria dessa tecnologia já é usada pela polícia para rastrear e monitorar suspeitos.
Departamentos de polícia usam atualmente reconhecimento de objetos para encontrar marca e modelo de carros. E em fevereiro, a empresa anteriormente conhecida como Taser anunciou que suas próprias câmeras corporais vão, em breve, reconhecer e organizar pessoas em tempo real, baseadas em sua idade, gênero e até no que elas estão vestindo. A detecção de emoções foi promovida como uma maneira de prever ataques violentos, assim como o monitoramento do Twitter e do Facebook em busca de palavras-chave que podem disfarçar uma ameaça ou implicar criminosos. Bill Bratton, que em diferentes oportunidades em sua vida esteve à frente dos departamentos de polícia de Nova York e Los Angeles, disse, no ano passado, que as redes sociais frequentemente “formam a base” dos casos criminais da cidade de Nova York contra suspeitos.
Em entrevista ao Verge, um porta-voz da Landsec disse que a tela pode reagir a “fatores externos”, mas não coletaria ou armazenaria dados pessoas. Isso é tranquilizador, mas certamente seria valioso para anunciantes (que estão despejando fortunas para aparecer nessa supertela) saber a quais anúncios as pessoas estão reagindo e que tipo de pessoa (baseado em idade, gênero e modelo de carro) respondeu a cada anúncio.
A Landsec dá como exemplos carros, idade e gênero, mas o que mais suas câmeras podem ver? Presumivelmente, se houver quatro Lamborghinis na área, isso significa que pessoas ricas com renda disponível estão por perto. Poderia o aparelho fazer julgamentos de renda e estilo de vida parecidos baseado em fatores como tom de pele e tipo físico? Imagine perceber que aquele anúncio de mais de 120 metros para uma campanha de dieta foi feito especificamente para você.
O reconhecimento de emoções é o curinga nisso tudo. A Disney, por exemplo, está usando reconhecimento facial para identificar sorrisos e franzir de testas entre frequentadores de cinema. Como a Landsec faz isso? Ela escaneia rostos de maneira parecida? Ou usa a linguagem corporal? O que quatro expressões nervosas e um sorriso significam para o olho que tudo vê do capitalismo? A Landsec poderia nos poupar do estresse e nos contar mais sobre como isso funciona e o que busca na multidão.
Entramos em contato com a empresa e vamos atualizar a publicação se/quando tivermos uma resposta. Até lá, é fácil ver isso como apenas mais um passo na marcha fúnebre do capitalismo de vigilância em direção ao rastreamento de cada passo que dermos.
Imagem do topo: LandSec