Por que alguns pacientes com COVID-19 parecem bem mesmo com baixos níveis de oxigênio?

Médicos relataram pacientes de COVID-19 que conseguem respirar normalmente e se sentem bem, mas que estão com níveis de oxigênio no sangue baixos.
oxímetro de pulso
Oxímetro de pulso. Crédito: Getty

Médicos relataram um fenômeno estranho ao tratar as infecções por coronavírus: pacientes que conseguem respirar normalmente e se sentem bem, mas que estão com níveis de oxigênio no sangue perigosamente baixos. O que causa a “hipoxemia silenciosa”, como é conhecida, e como afeta os médicos que cuidam dos pacientes com COVID-19?

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A hipoxemia acontece quando o nível de oxigênio no sangue fica abaixo do normal e geralmente é medido por meio de nossas artérias. A hipoxemia pode ser causada por muitas coisas, como exercício físico, asma e estar em altas altitudes onde há menos oxigênio no ar.

Embora não seja necessariamente fatal, a hipoxemia pode levar à hipóxia: a falta de oxigênio para os órgãos e tecidos do nosso corpo. Se a hipóxia acontece por tempo prolongado, e sem intervenção médica, essas partes do corpo podem morrer – e muitas vezes, essa falência de órgãos causa a morte de uma pessoa.

Embora estejamos descobrindo como o COVID-19 pode afetar o corpo além do sistema respiratório, a doença mata principalmente por meio dos pulmões. O coronavírus por trás do COVID-19 pode causar uma infecção grave e inflamação maciça nos pulmões, que a gente chama de pneumonia. Essa pneumonia pode destruir os pulmões a ponto de não conseguir levar oxigênio para o resto do corpo, causando falência de órgãos e morte.

Para muitos pacientes com COVID-19, a hipoxemia pode ser o primeiro grande aviso de uma infecção grave. Essas pessoas normalmente sentem falta de ar e/ou ficam exaustas com facilidade. Mas os médicos têm relatado que, frequentemente, a respiração de muitos pacientes parece normal quando vão a um hospital apresentando febre ou outros sintomas, sem os sinais físicos clássicos de privação de oxigênio.

“A grande maioria dos pacientes com pneumonia de COVID que conheci tinha uma notável baixa saturação de oxigênio durante a triagem – aparentemente incompatíveis com a vida – mas estavam usando seus celulares enquanto os colocávamos em monitores”, escreveu ao New York Times Richard Levitan, um médico de emergência que tratou pacientes em Nova York no mês passado.

Neste momento, não está claro por que a hipoxemia silenciosa acontece nesses pacientes. Alguns cientistas têm teorizado que o coronavírus pode, de alguma forma, afetar a hemoglobina do nosso organismo, a proteína responsável pelo transporte de oxigênio através dos glóbulos vermelhos do nosso sangue. Esse seria mais um truque inesperado de um vírus que já mostrou ainda ser muito desconhecido. Mas outros médicos acreditam que há uma explicação mais mundana.

Segundo Albert Rizzo, médico-chefe da American Lung Association, os pulmões dos pacientes com COVID-19 com hipoxemia silenciosa podem ser danificados de uma forma específica. Os pulmões ainda funcionam em sua maioria, mas partes têm colapsos dos sacos aéreos causados pela acumulação de fluidos e inflamação. Esses sacos aéreos abatidos criam um “shunt”, quando o sangue que flui através do tecido pulmonar afetado não capta oxigênio. Ao mesmo tempo, os próprios pulmões não endurecem ao ponto de o fluxo sanguíneo parar e o dióxido de carbono (CO2) armazenado não ser exalado.

Baixos níveis de oxigênio podem nos fazer sentir com falta de ar, mas é a acumulação de CO2 que se pensa ser o principal gatilho para essa sensação. Assim, a hipoxemia silenciosa pode não ligar o sinal de alerta do corpo de que algo está errado, pelo menos inicialmente.

“Se o pulmão não estiver rígido, e tudo o que está acontecendo é que o fluxo sanguíneo e o fluxo de ventilação estão desajustados, então os níveis de oxigênio podem cair e o paciente pode não sentir nenhuma mudança ou dificuldade para respirar e, portanto, eles não parecem ter falta de ar”, disse Rizzo ao Gizmodo.

O fenômeno da hipoxemia silenciosa não é exatamente uma novidade. Antes do COVID-19, os médicos relatavam sintomas semelhantes para casos incomuns de gripe ou outras infecções respiratórias. Nesses casos, a causa era geralmente o tipo de desajuste que Rizzo descreve. Mas ainda não temos certeza se essa é a história com o COVID-19 ou se isso acontece mais com o COVID-19 do que com outras infecções pulmonares.

Independente de como a hipoxemia silenciosa está acontecendo em pacientes com coronavírus, ela tem apresentado outra complexidade para os médicos na forma de tratar casos graves. Inicialmente, muitos sentiram a necessidade de colocar rapidamente os pacientes em ventiladores pulmonares, assim que o nível de oxigênio no sangue atinge um determinado ponto baixo.

Mas os casos de hipoxemia silenciosa no hospital podem se beneficiar de tratamentos mais conservadores no início, como manter as pessoas apoiadas em uma posição de bruços, onde o oxigênio pode alcançar melhor o sangue, ou métodos não-invasivos de fornecer oxigênio como cânulas nasais.

Alguns médicos, incluindo Levitan, também argumentaram que se a versão silenciosa dessa condição é comum entre pacientes de COVID-19 que poderiam ficar muito doentes, então faz sentido fazer uma ampla triagem de pessoas em casa para verificar a baixa quantidade de oxigênio no sangue, usando uma ferramenta conhecida como oxímetro de pulso. Rizzo não endossa essa ideia, não antes de ter dados amplos que apoiem sua lógica (como uma evidência forte de baixos níveis de oxigênio no sango realmente acontece antes dos sintomas mais visíveis de COVID-19).

Mas para pacientes que estão numa fase da doença que não é séria o suficiente para ficarem hospitalizados, ele acrescentou, os oxímetros de pulso que podem ser levados para casa se tornaram uma forma fácil de monitorar de perto a saúde, para o caso de piorarem.

Infelizmente, pessoas com hipoxemia silenciosa ainda podem estar em perigo, de acordo com Rizzo.

“Acho que a mensagem principal aqui é que se alguém tem um nível de oxigênio inferior ao que parece numa examinada externa, mesmo que ela pareça estar bem, algo ainda pode estar acontecendo. E esse alguém precisa ser admitido ou [ter] monitoramento com um um oxímetro de pulso, desde que possam fazer a medição e tenham um cuidador em casa”, disse ele. “É definitivamente algo que poderia progredir de forma mais rápida.”

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