Pães-múmia? Arqueólogos encontram na Bahia alimentos conservados por 80 anos

Alimentos estavam em Campo Formoso, no norte da Bahia, e passaram por um processo de mumificação natural a partir da desidratação
Pães mumificados encontrados em sítio arqueológico na Bahia. Imagem: Universidade Estadual da Bahia (UNEB)/Divulgação

Um grupo de arqueólogos fez uma descoberta inusitada no sertão baiano. Eles encontraram pães mumificados – um inteiro e outro pela metade — com cerca de 80 anos de idade. Os alimentos estavam em um antigo campo de mineração no município de Campo Formoso, no norte da Bahia.

Isso significa que os pães passaram por alguma estratégia de conservação. Segundo a coordenadora da pesquisa, a professora Cristiana Santana, eles passaram por um processo de mumificação natural a partir da desidratação.

Pães mumificados encontrados em sítio arqueológico na Bahia. Imagem: Universidade Estadual da Bahia (UNEB)/Divulgação

Ao que tudo indica, o alimento foi queimado no forno e descartado dentro das cinzas, que são capazes de dissecar — e, assim, ajudaram a conservar o material por oito décadas. Os responsáveis pela descoberta inédita são arqueólogos da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), e o resultado do trabalho será publicado em um livro.

Essa é a primeira vez que resquícios de alimentos antigos tão antigos são encontrados no Brasil. Cristiana destaca que outra descoberta como essa só aconteceu na Alemanha, onde cientistas encontraram um bolo de avelã e amêndoas, em 2021, também do período da Segunda Guerra Mundial, preservado em solo argiloso.

Os alimentos se parecem com pães ainda vendidos na região conhecidos como “pães de cesto” ou “pães amassados por pés”. No entanto, estes que foram recuperados pela equipe são menores, e devem ter perdido parte do seu volume, por conta da desidratação. As investigações no sertão baiano buscam compreender como viviam os trabalhadores que tiravam direta e indiretamente o sustento a partir da mineração nessa região.

A história por trás do sítio arqueológico

De acordo com a Uneb, o sítio era local de mineração de cristal de quartzo. O material é relevante, sobretudo, para tecnologias ligadas às telecomunicações. Os mineradores forneciam os cristais para os Estados Unidos, de quem o Brasil era aliado durante a Segunda Guerra. O mineral servia como matéria-prima para produção de radio-comunicadores naquele período.

Durante a pesquisa, a equipe localizou uma área que era destinada ao acampamento da mineração. No local, havia restos de garrafas, principalmente de bebidas alcoólicas e de medicamentos para gripe e tosse.

Outra área mapeada foi identificada como a padaria do garimpo. Os pães estavam nesse espaço, preservados em meio ao sedimento misturado às cinzas do forno.

A cerca de 600 metros desse sítio, também foi descoberto um cemitério voltado para os trabalhadores do garimpo — batizado Garimpo Prateado. Sem estruturas sanitárias mínimas, a população de garimpeiros foi acometida por um surto de meningite, que vitimou grande parte dos trabalhadores.

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