Uma pesquisa publicada na revista PLOS ONE, realizada por pesquisadores da Faculdade de Medicina Duke-NUS, em Cingapura, revelou que um em cada três adultos sofrem algum dano psicológico relacionado à pandemia da Covid-19. Além disso, o estudo indica que pessoas de baixa renda, em especial as mulheres, são mais propensas aos impactos mentais.
Os cientistas analisaram 68 estudos feitos durante a pandemia com mais de 288 mil pessoas de 19 países. Como resultado, descobriram que adultos com menos de 35 anos estavam sujeitos a sofrimentos psicológicos, muito mais do que a população mais velha. Ainda que não haja uma razão concreta para isso, outros estudos sugerem que os jovens com mais acesso às informações nas mídias digitais têm maiores chances de desenvolver ansiedade e depressão. Outros fatores associados ao sofrimento psicológico incluem viver em áreas rurais; menor escolaridade, menor renda ou desemprego; e estar em alto risco de infecção por Covid-19.
Os dados se complementam com pesquisas anteriores, que indicavam a ‘geração do milênio’, nascidos entre 1980 e 1994, como solitários, esgotados e deprimidos. E também com a recente pesquisa publicada no Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) que avaliou os sintomas de ansiedade e transtornos depressivos em adultos de 18-29 anos, durante o isolamento social.
Contudo, o estudo de Cingapura foi o primeiro a avaliar o impacto entre os gêneros e classes sociais durante o isolamento. “O status social mais baixo das mulheres e o acesso menos preferencial aos cuidados de saúde em comparação com os homens podem ser potencialmente responsáveis pelo impacto psicossocial adverso exagerado nas mulheres”, sugeriram os pesquisadores ao Scitech Daily. “Assim, os programas de extensão para serviços de saúde mental devem ter como alvo as mulheres de forma proativa.” Apesar disso, estudos anteriores já indicavam mulheres com sofrimento psicológico maior do que os homens.
Além do medo de ser contagiado pelo vírus em si e transmiti-lo para outras pessoas, a pandemia do coronavírus desencadeou pressão financeira em muitas pessoas, pois muitas empresas faliram ou demitiram vários funcionários, além de sensação de solidão por conta do isolamento. Esses e outros fatores são primordiais para identificar e compreender o alto risco de transtornos psicológicos, dessa forma, os órgãos de saúde poderão direcionar intervenções remotas ou presenciais para essas populações, explica professor Tazeen Jafar, do Programa de Pesquisa de Sistemas e Serviços de Saúde da Duke-NUS à publicação.
Ainda que os pesquisadores possam identificar a vulnerabilidade nessas populações, é necessário um trabalho em conjunto com as famílias, já que muitas pessoas são resistentes à psicoterapia. Mais do que isso, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em países de baixa e média renda, cerca de 76% e 85% das pessoas com transtornos mentais não recebem tratamento. “O público em geral e os profissionais de saúde precisam estar cientes da alta carga de sofrimento psicológico durante a pandemia, bem como educar sobre as estratégias de enfrentamento”, pondera Jafar.
Para Patrick Casey, vice-reitor sênior de pesquisa da Duke-NUS, “mesmo com os enormes avanços na área de vacinas, o mundo percebeu que a pandemia de Covid-19 nos acompanhará por muito tempo. O estudo do professor Jafar contribui com percepções valiosas sobre o impacto psicológico da pandemia em populações ao redor do mundo e destaca grupos específicos que podem se beneficiar de apoio adicional, seja de sua família ou de um provedor de saúde”.
Algumas mudanças de hábitos na rotina como ler, ouvir música, meditar, cozinhar ou fazer algum curso online, são práticas que podem ajudar a diminuir a ansiedade e estresse impostos pelo isolamento, de acordo com o Ministério da Saúde. Ainda assim, o esgotamento emocional é algo que pode ocorrer. Por isso, “os pacientes precisam ser encorajados a procurarem ajuda em locais que ofereçam serviços de aconselhamento de saúde mental com referências apropriadas”, alertou o pesquisador.