Patinetes elétricos se tornaram bem populares nos Estados Unidos graças a companhias como Bird, Scoot e Lime. No entanto, um estudo publicado nesta sexta-feira (25), aparentemente o primeiro do tipo, fala um pouco dos inconvenientes desse tipo de transporte: várias pessoas estão se machucando e acabando no pronto-socorro.
O início dessa onda de patinetes elétricos começou na Califórnia. Em 2017, a Lime passou a oferecer o serviço de aluguel de patinetes (operado via app) em San Francisco; a Bird, na sequência, lançou sua versão do serviço em Santa Monica. Apesar de terem sido acusadas de infringir regras municipais por colocarem um monte de patinetes nas ruas sem permissão, o novo meio de transporte ficou bem famoso (ambas as cidades baniram temporariamente os patinetes elétricos, mas liberou programas pilotos de algumas companhias).
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Como era de se esperar, os pesquisadores por trás do estudo, publicado nesta sexta no Jama Network Open, são todos da Universidade da Califórnia em Los Angeles, o que deu a eles uma boa noção de como a tendência decolou.
Eles decidiram examinar dados médicos do departamento de emergência de dois hospitais afiliados à universidade, incluindo um de Santa Monica. Eles destacaram casos que ocorreram entre 1º de setembro de 2017 e 31 de agosto de 2018, usando termos de pesquisa como “patinete”, “Bird” e “Lime” para encontrá-los.
Ao todo, 249 pessoas foram ao pronto-socorro com ferimentos associados a patinetes elétricos durante o período. A maioria, 91%, se machucou durante o uso, geralmente caindo. E alguns ficaram seriamente feridos.
“Embora apenas 6% dos pacientes tenham sido internados no hospital, quase um em três pacientes chegou de ambulância. Oitenta por cento tiveram de fazer exames de imagem (raio-X e tomografia computadorizada), e fraturas e ferimentos na cabeça foram comuns entre pacientes recebidos na emergência”, disse Tarak Trivedi, médico do centro médico Ronald Reagan da Universidade da Califórnia em Los Angeles, ao Gizmodo por e-mail.
Trivedi e sua equipe também conduziram uma pesquisa simples e observacional de quase 200 condutores de patinetes elétricos, para verificar se eles estavam seguros. Apenas 5% dos condutores usavam capacetes (uma porcentagem similar de condutores no departamento de emergência relatou usar o acessório, embora o uso de capacete não tenha sido especificado em 63% dos casos). Pouco mais de um quarto dos condutores usava a calçada, o que é proibido em vários lugares, enquanto 9% burlaram leis de trânsito, e 8% tinham pessoas junto com elas; 11% eram menores de idade, ignorando a restrição de idade estabelecida por companhias como Bird e Lime.
Médicos já expuseram suas preocupações com os patinetes elétricos anteriormente. Mas as conclusões do estudo, segundo os autores, são as primeiras a documentarem a extensão dos ferimentos no pronto-socorro. Por ora, diz Trivedi, não dá para saber a frequência com que esses incidentes com condutores ocorre, pois não sabemos quantas pessoas usam os patinetes em uma área em específico. Para entender um pouco o contexto, a Bird recentemente anunciou que atingiu dez milhões de viagens em setembro, enquanto a Lime disse ter feito 11,5 milhões de viagens combinando os números de patinetes e bicicletas.
O objetivo dos autores não é brecar a onda dos patinetes elétricos; o próprio Trivedi usa a modalidade de transporte regularmente. No entanto, há claramente oportunidade para as empresas e as cidades reduzirem o risco de acidentes.
“Nosso estudo não conseguiu avaliar o papel de patinetes danificados ou defeituosos nos acidentes. Porém, como um usuário de patinetes elétricos, sei que os aceleradores e os freios podem às vezes ‘emperrar’; isso é algo que os pacientes disseram para mim, além de relatarem no pronto-socorro”, afirmou. “As empresas de patinetes poderiam facilitar a notificação de patinetes com problema e trabalhar para minimizar o número de patinetes defeituosos. As cidades poderiam considerar expandir faixas protegidas, de modo que os condutores de patinetes, ciclistas e pedestres possam estar seguros.”
Uma outra forma de as empresas ajudarem pesquisadores como Trivedi é compartilhar dados de quilometragem percorrida, o que tornaria mais fácil quantificar a taxa de acidentes de uso de patinete. Isso permitiria que eles entendessem o quão perigosos são esses dispositivos. No futuro, Trivedi e seus colegas podem também analisar visitas de pacientes envolvidos em acidentes em consultas médicas, o que permitiria preencher ainda mais lacunas sobre o assunto.
Apesar de tudo isso, não podemos deixar de avisar que os próprios condutores de patinetes elétricos têm responsabilidade de se manter seguros.