Era um dia de maré baixa na costa sul da Austrália e Melissa Lowery estava procurando por fósseis de dinossauros nas pedras. Caçadora voluntária dessas marcas históricas, ela não esperava encontrar algo diferente: a evidência mais antiga da presença de aves no hemisfério sul do planeta.
“Foi um momento de pura alegria e total admiração quando percebi que havia encontrado pegadas“, revelou. No total, a jovem encontrou 27 delas. De acordo com especialistas, elas sobreviveram por cerca de 128 milhões de anos.
Como eram as aves
De início, quando Lowery encontrou as pegadas, pensou que realmente eram vestígios de dinossauros. Ela faz parte do projeto Dinosaur Dreaming, que é uma parceria entre o Museu de Victoria, a Universidade Monash e a Universidade de Tecnologia de Swinburne, que busca evidências desses animais.
Apesar de ter recebido as imagens das pegadas quando foram descobertas, o paleontólogo Anthony Martin só percebeu que eram de aves quando visitou o local pessoalmente. Ele utilizou uma lista de características para comprovar essa informação.
Por exemplo, as pegadas tinham três dedos voltados para frente, bem espaçados entre si, com um ângulo maior que 90°. Além disso, havia impressões com garras afiadas, inclusive aquelas utilizadas para pousar.
No entanto, o especialista acredita que os animais eram aves diferentes do que as conhecidas hoje em dia.
“Os teríamos reconhecido como pássaros – um animal pequeno e peludo com uma estrutura leve. Mas, ao olhar para eles, pareceriam cada vez mais estranhos. Ele abriria a boca e você veria dentes. E teria uma cauda sem penas”, explicou.
Segundo o pesquisador, isso caracterizaria um animal de transição entre as aves de hoje e seus ancestrais, dinossauros.
O que os fósseis contam sobre a história
Pela localização e data das pegadas, especialistas acreditam que elas ocorreram em um local próximo ao pólo sul, parte do supercontinente Gondwana, que incluía a Antártida. De acordo com um estudo sobre os fósseis publicado na revista PLOS One, as aves provavelmente migraram para a região durante o período de primavera ou verão.
Antes da descoberta, as evidências indicavam que as aves se originaram cerca de 160 a 150 milhões de anos atrás no hemisfério norte. Na Austrália, um osso fossilizado de 105 milhões de anos também foi encontrado perto do local das pegadas.
“Com uma pegada, você sabe que o animal estava bem ali. Um osso pode se mover, mas uma pegada não pode. Quando você encontra dinossauros e pegadas de pássaros juntos, sabe que eram contemporâneos”, contou Tom Rich, autor do estudo, ao The Guardian.