Peixes modificados para brilhar no escuro são um problema ambiental

A população de peixes brilhantes está se expandindo no Brasil, o que apresenta riscos para outras espécies locais. Entenda esse problema
Peixes brilhantes
Imagem: Kuznetsov_Peter/Pixabay/Reprodução

O peixe-zebra (Danio rerio) é uma espécie originária da Ásia. No final da década de 1990, pesquisadores da Universidade Nacional de Singapura resolveram usar o animal de quatro centímetros para realizar pesquisas científicas, criando peixes brilhantes.   

Para isso, injetaram genes de águas-vivas fluorescentes nos peixes, que permitiriam ao animal usar o artifício para detectar poluição. Mas nos anos 2000, empresas resolveram tirar proveito da ciência e comercializar os peixinhos transgênicos verdes, azuis e vermelhos. 

Pela primeira vez, peixes geneticamente modificados estavam sendo vendidos como animais de estimação, o que preocupou ambientalistas. A venda do Glofish, como foi chamado, chegou a ser proibida em diversos países – mas isso não impediu o comércio ilegal. 

Um primeiro alerta aconteceu em 2014, quando um único peixe neon foi visto nadando na região de Tampa Bay, na Flórida. O aventureiro não prosperou, provavelmente porque foi predado por outros animais que viviam por lá. 

Por outro lado, os peixes brilhantes parecem ter se adaptado ao Brasil. Animais que provavelmente escaparam de fazendas de criação foram vistos por pesquisadores na Bacia do Rio Paraíba do Sul em 2015. 

Por aqui, não há predadores naturais da espécie, o que está permitindo o crescimento populacional do peixe transgênico. Em 2017, os animais já marcavam presença em pelo menos cinco riachos de três municípios diferentes, e em 2020, indivíduos isolados foram vistos em lagoas e riachos no sul e nordeste do Brasil.

Em estudo publicado na revista Studies on Neotropical Fauna and Environment, cientistas relataram preocupação diante da chegada desses animais no ecossistema. Para começar, estes peixes se reproduzem o ano todo e atingem a maturidade sexual mais cedo do que seus antepassados asiáticos, o que indica um alto crescimento populacional.

Os peixes brilhantes estão se alimentando de insetos nativos, algas e também zooplâncton. Cientistas temem que, no futuro, eles se tornem abundantes o suficiente para afetar espécies locais através da competição por comida ou ataques diretos. 

Outro medo dos pesquisadores é que os genes fluorescentes acabem sendo introduzidos em peixes nativos, o que poderia torná-los mais visíveis para predadores, por exemplo. De toda forma, pesquisadores devem seguir monitorando a expansão da espécie no ambiente.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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