_Ciência

Perereca-de-capacete: conheça o anuro de cabeça chapada que inocula veneno quando ameaçado

A Corythomantis greeningi também se aproveita da cabeça em formato de capacete para isolar a entrada de seus esconderijos por meio da fragmose

Perereca-de-capacete: conheça o anuro de cabeça chapada que inocula veneno quando ameaçado

Reportagem: Guilherme Castro/Instituto Butantan

Dona de uma cabeça larga, alongada e cheia de protuberâncias espinhosas, a Corythomantis greeningi, ou perereca-de-capacete, chama a atenção por sua excêntrica habilidade de defesa: inocular veneno por meio de cabeçadas quando ameaçada. O nome científico da espécie, que vem do grego, foi inspirado pelo formato do seu crânio e significa “capacete” [corytho] e “anuro” [mantis, termo que reúne sapos, rãs e pererecas], o que resume bem sua característica de destaque.

A perereca-de-capacete, que faz parte da família Hylidae, é um anfíbio endêmico da Caatinga e pode ser encontrado especialmente em ambientes semiáridos e de pouca chuva. Existem outros anuros de mesmo nome que habitam a Mata Atlântica, embora sejam de espécies diferentes, como as pererecas Nyctimantis brunoi e Nyctimantis arapapa; por isso, é importante atentar-se às suas características para não confundi-los.

Ao longo do processo de evolução, a Corythomantis greeningi desenvolveu uma cabeça em formato de capacete, utilizada para fechar as entradas das frestas nas quais se esconde. Esses bichos entram de ré nos buracos e deixam somente a cabeça exposta, comportamento que leva o nome de fragmose.

A Corythomantis greeningi ou perereca-de-capacete

Para se adaptar aos climas secos, a perereca-de-capacete desenvolveu uma camada calcificada na pele que sobrepõe o crânio, o que dificulta a saída da umidade de dentro dos seus esconderijos, um excelente meio de hidratação durante os meses de seca. O crânio, além de ser ossificado, é repleto de espinhos, que são circundados por glândulas cutâneas de veneno.

Quando as pererecas-de-capacete movimentam a cabeça para tentar escapar de alguma investida, cria-se uma pressão que ajuda a furar as glândulas por meio dos espinhos ósseos e, assim, inocular veneno, mesmo sem querer – a famosa cabeçada.

A habilidade de injetar veneno, que entre os anuros é exclusiva desse grupo, só é possível graças à sua capacidade de mover a cabeça em várias direções, uma característica incomum entre pererecas. Normalmente, esses bichinhos não têm muita flexibilidade no pescoço.

Exemplar da perereca Nyctimantis brunoi

Como todos os anfíbios, a perereca-de-capacete tem comportamento passivo e costuma ficar quieta, mimetizando o ambiente ao seu redor. Quando se sente incomodada é que ela reage para escapar por meio da cabeçada.

Dificilmente as pererecas-de-capacete conseguem injetar toxinas em humanos com suas investidas, mas isso não as torna menos perigosas: seu veneno se assemelha em letalidade ao da jararaca – ainda que ele seja produzido em escala menor, dado o reduzido tamanho do anuro e o pequeno número de glândulas que possui. Caso a investida seja bem sucedida, o veneno, que causa dor extrema e pode gerar edemas.

A toxicidade da perereca-de-capacete foi descoberta em 2015 pelo pesquisador científico e diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Instituto Butantan, Carlos Jared, durante uma expedição na Caatinga do interior do Rio Grande do Norte.

PERERECA-DE-CAPACETE

Espécie: Corythomantis greeningi (perereca-de-capacete), da família Hylidae, do gênero Corythomantis

Onde habita: Caatinga, ambiente semiáridos com pouca chuva

Características físicas: animal médio, de cabeça alongada, com crista calcificada em forma de pequenos espinhos; pele lisa, dedos e pernas longas com discos adesivos nas pontas, característicos das pererecas

Alimentação: pequenos insetos

Curiosidades: utiliza a cabeça em formato de capacete para agredir seus alvos quando ameaçada e inocular veneno por meio de uma crista espinhosa calcificada; realiza a fragmose –  isola a saída de seus esconderijos, buracos e frestas, utilizando o formato da cabeça

Este conteúdo contou com a colaboração do pesquisador científico e diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Instituto Butantan, Carlos Jared

Referências:

MENDES, Vanessa Aparecida. A biologia, as glândulas de veneno e a secreção cutânea da perereca da caatinga Corythomantis greeningi: um estudo integrativo. 2015. 94 p. Dissertação (Mestrado em Ciências – Toxinologia) – Instituto Butantan, São Paulo, 2015.

Sair da versão mobile