Ciência

Perereca-de-capacete: conheça o anuro de cabeça chapada que inocula veneno quando ameaçado

A Corythomantis greeningi também se aproveita da cabeça em formato de capacete para isolar a entrada de seus esconderijos por meio da fragmose
Fotos: Carlos Jared/Laboratório de Biologia Estrutural do Instituto Butantan

Reportagem: Guilherme Castro/Instituto Butantan

Dona de uma cabeça larga, alongada e cheia de protuberâncias espinhosas, a Corythomantis greeningi, ou perereca-de-capacete, chama a atenção por sua excêntrica habilidade de defesa: inocular veneno por meio de cabeçadas quando ameaçada. O nome científico da espécie, que vem do grego, foi inspirado pelo formato do seu crânio e significa “capacete” [corytho] e “anuro” [mantis, termo que reúne sapos, rãs e pererecas], o que resume bem sua característica de destaque.

A perereca-de-capacete, que faz parte da família Hylidae, é um anfíbio endêmico da Caatinga e pode ser encontrado especialmente em ambientes semiáridos e de pouca chuva. Existem outros anuros de mesmo nome que habitam a Mata Atlântica, embora sejam de espécies diferentes, como as pererecas Nyctimantis brunoi e Nyctimantis arapapa; por isso, é importante atentar-se às suas características para não confundi-los.

Ao longo do processo de evolução, a Corythomantis greeningi desenvolveu uma cabeça em formato de capacete, utilizada para fechar as entradas das frestas nas quais se esconde. Esses bichos entram de ré nos buracos e deixam somente a cabeça exposta, comportamento que leva o nome de fragmose.

A Corythomantis greeningi ou perereca-de-capacete

A Corythomantis greeningi ou perereca-de-capacete

Para se adaptar aos climas secos, a perereca-de-capacete desenvolveu uma camada calcificada na pele que sobrepõe o crânio, o que dificulta a saída da umidade de dentro dos seus esconderijos, um excelente meio de hidratação durante os meses de seca. O crânio, além de ser ossificado, é repleto de espinhos, que são circundados por glândulas cutâneas de veneno.

Quando as pererecas-de-capacete movimentam a cabeça para tentar escapar de alguma investida, cria-se uma pressão que ajuda a furar as glândulas por meio dos espinhos ósseos e, assim, inocular veneno, mesmo sem querer – a famosa cabeçada.

A habilidade de injetar veneno, que entre os anuros é exclusiva desse grupo, só é possível graças à sua capacidade de mover a cabeça em várias direções, uma característica incomum entre pererecas. Normalmente, esses bichinhos não têm muita flexibilidade no pescoço.

Exemplar da perereca Nyctimantis brunoi

Exemplar da perereca Nyctimantis brunoi

Como todos os anfíbios, a perereca-de-capacete tem comportamento passivo e costuma ficar quieta, mimetizando o ambiente ao seu redor. Quando se sente incomodada é que ela reage para escapar por meio da cabeçada.

Dificilmente as pererecas-de-capacete conseguem injetar toxinas em humanos com suas investidas, mas isso não as torna menos perigosas: seu veneno se assemelha em letalidade ao da jararaca – ainda que ele seja produzido em escala menor, dado o reduzido tamanho do anuro e o pequeno número de glândulas que possui. Caso a investida seja bem sucedida, o veneno, que causa dor extrema e pode gerar edemas.

A toxicidade da perereca-de-capacete foi descoberta em 2015 pelo pesquisador científico e diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Instituto Butantan, Carlos Jared, durante uma expedição na Caatinga do interior do Rio Grande do Norte.

PERERECA-DE-CAPACETE

Espécie: Corythomantis greeningi (perereca-de-capacete), da família Hylidae, do gênero Corythomantis

Onde habita: Caatinga, ambiente semiáridos com pouca chuva

Características físicas: animal médio, de cabeça alongada, com crista calcificada em forma de pequenos espinhos; pele lisa, dedos e pernas longas com discos adesivos nas pontas, característicos das pererecas

Alimentação: pequenos insetos

Curiosidades: utiliza a cabeça em formato de capacete para agredir seus alvos quando ameaçada e inocular veneno por meio de uma crista espinhosa calcificada; realiza a fragmose –  isola a saída de seus esconderijos, buracos e frestas, utilizando o formato da cabeça

Este conteúdo contou com a colaboração do pesquisador científico e diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Instituto Butantan, Carlos Jared

Referências:

MENDES, Vanessa Aparecida. A biologia, as glândulas de veneno e a secreção cutânea da perereca da caatinga Corythomantis greeningi: um estudo integrativo. 2015. 94 p. Dissertação (Mestrado em Ciências – Toxinologia) – Instituto Butantan, São Paulo, 2015.

fique por dentro
das novidades giz Inscreva-se agora para receber em primeira mão todas as notícias sobre tecnologia, ciência e cultura, reviews e comparativos exclusivos de produtos, além de descontos imperdíveis em ofertas exclusivas