EUA aprovam pílula com sensores pela primeira vez na história

A era das pílulas digitais está entre nós. Nesta semana, pela primeira vez na história, a Food and Drug Administration, órgão que regulamenta medicamentos nos Estados Unidos, aprovou uma pílula com sensores internos para informar aos médicos com que frequência o remédio foi tomado. Em um comunicado de imprensa enviado ao Gizmodo, a FDA disse […]

A era das pílulas digitais está entre nós. Nesta semana, pela primeira vez na história, a Food and Drug Administration, órgão que regulamenta medicamentos nos Estados Unidos, aprovou uma pílula com sensores internos para informar aos médicos com que frequência o remédio foi tomado.

Em um comunicado de imprensa enviado ao Gizmodo, a FDA disse que a droga antipsicótica Abilify MyCite foi o primeiro remédio aprovado pelo órgão com um “sistema digital de acompanhamento de ingestão”, registrando se o medicamento havia sido ingerido de fato.

“O produto é aprovado para o tratamento da esquizofrenia, tratamento agudo de episódios maníacos e episódios mistos associados com distúrbio bipolar e para o uso como tratamento complementar para depressão em adultos”, escreveu a FDA. Ela disse que a pílula funcionava transmitindo informação de um sensor interno para uma “bandagem vestível”, que então repassa os dados para um aplicativo de smartphone ou para enfermeiros e médicos que estejam monitorando o progresso dos pacientes.

No comunicado, a FDA apontou que, embora tenha aprovado o Abilify MyCite, “a capacidade do produto de melhorar o cumprimento por parte do paciente de seu regime de tratamento não foi mostrada”. Ela acrescentou que a detecção pode ser imperfeita, já que “pode estar atrasada ou não ocorrer”.

A pílula gera um sinal elétrico quando atingida pelos ácidos no estômago e contém cobre, magnésio e silício, que são “ingredientes seguros encontrados em alimentos”, apontou o New York Times. Os pacientes precisam assinar um formulário de consentimento antes que qualquer dado seja compartilhado.

Existem boas razões pelas quais acompanhar se as pessoas que vivem com esquizofrenia estão tomando seus medicamentos poderia ser útil. Esses pacientes enfrentam um grande estigma social, principalmente por causa da injusta percepção popular de que eles são bombas-relógio violentas. Mas essa é ainda uma doença severa que, sem tratamento, pode levar a consequências negativas, como abuso de substâncias ou vitimização por parte de outras pessoas. Medicamentos antipsicóticos são relativamente seguros e eficazes, e o tratamento é importante para a saúde, segurança e qualidade de vida daqueles com esquizofrenia e seus amigos e familiares. Estudos sugerem que, só nos Estados Unidos, o descumprimento de remédios prescritos, em geral, custa ao país ao menos US$ 100 bilhões por ano.

Entretanto, também não é difícil enxergar como essa tecnologia poderia dar errado. Primeiramente, o tratamento compulsórios de distúrbios por ordem judicial entra no território de direitos civis (embora defensores da prática digam que ela é eficaz), e pílulas equipadas com sensores permitirão a qualquer um com acesso aos dados saber exatamente com que frequência alguém está tomando seus remédios. Dados médicos ainda são ostensivamente protegidos, mas o big data está cada vez mais comercializando registros semianônimos que podem ser usados para revelar informações sobre pacientes individuais. Imagine publicitários sabendo exatamente com que frequência você toma seus antidepressivos, suas pílulas de perda de peso, ou podendo acompanhar seu tratamento de DSTs. Ou mesmo empresas de plano de saúde monitorando o quão rigorosamente você segue seus tratamentos e usando essa informação para aumentar o custo do seu plano.

O diretor de lei, ética e psiquiatria da Universidade Columbia, Dr. Paul Appelbaum, disse ao New York Times que também se perguntou se a esquizofrenia era um bom lugar para começar o uso da pílula com sensores, considerando que ela é associada a ilusões paranoicas.

“Um sistema que vai monitorar seu comportamento e enviar sinais para fora do corpo e notificar seu médico?”, perguntou. “Você imaginaria que, dentro da psiquiatria ou na medicina em geral, remédios para quase qualquer outra doença seriam um melhor lugar para se começar do que um medicamento para esquizofrenia.”

De um jeito ou de outro, pessoal, chegamos à era das smart drugs! Mais uma coisa que, algumas décadas atrás, soaria como ficção científica. Mas logo, logo seu médico vai poder saber se você de fato seguiu a prescrição ou se só tomou duas vezes e deixou o resto no armário. Ou então, se você tem a tendência de acumular tudo e tomar numa sexta-feira à noite. Eles provavelmente terão uma ou duas perguntas para você, se fizer isso.

Imagem do topo: Styroks/Wikipedia

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