Pintura rupestre de 40 mil anos está sendo destruída devido às mudanças climáticas

Datadas de algo em torno de 20 mil e 40 mil anos atrás, estas são algumas das primeiras pinturas rupestres conhecidas no mundo.
Esta pintura de um animal tem dezenas de milhares de anos. Captura de tela: Griffith University/Youtube

A crise climática já tirou muitas coisas de nós que nunca mais retornarão: pessoas, lugares, vida selvagem e até mesmo idiomas. Agora, ela está destruindo algumas das artes mais antigas da Terra, de acordo com uma nova pesquisa liderada pela Griffith University.

O estudo se concentra em pinturas primitivas nas cavernas de calcário do sul de Sulawesi, na Indonésia. Datadas de algo em torno de 20 mil e 40 mil anos atrás, estas são algumas das primeiras pinturas rupestres conhecidas no mundo.

As pinturas retratam pessoas, símbolos e incluem os primeiros desenhos conhecidos de um animal. Mas agora, elas estão se degradando, porque pedaços das paredes das cavernas estão descamando. A deterioração das pinturas tem sido documentada desde a década de 1950 e piorou com o passar do tempo.

Para entender por que isso está acontecendo, os autores examinaram 11 locais diferentes de pinturas rupestres, usando microscópios poderosos e análises químicas. Eles descobriram que grande parte do problema é que cristais de sal estão se formando nas paredes da caverna, penetrando profundamente nelas e, em seguida, expandindo-se e contraindo-se com as flutuações da temperatura do ar. Isso está deixando a rocha mais fraca, fazendo-a rachar.

“Em alguns casos, o resultado é a superfície da pedra se desfazendo em pó”, escreveram os autores em um comentário sobre o estudo. “Em outros casos, os cristais de sal formam colunas sob a dura casca externa do velho calcário, levantando o painel de arte e separando-o do resto da rocha, obliterando a obra.”

As descobertas sugerem que os efeitos das mudanças climáticas são os culpados por isso. A região também ficou mais quente no geral, fazendo com que os cristais de sal nas paredes das cavernas se expandissem com mais frequência. A rápida oscilação entre a seca e as fortes chuvas de monções também parecem criar as condições perfeitas para que mais cristais de sal se formem e se expandam. O clima da Indonésia já era altamente dinâmico, mas em meio à crise climática, as rápidas mudanças tornaram-se ainda mais drásticas. O aquecimento global pode estar causando El Niños mais intensos, um fenômeno climático caracterizado por águas mais quentes do que o normal no leste do Oceano Pacífico. O El Niño aumenta as chances de seca e de mais calor na Indonésia.

Como resultado, a deterioração das cavernas se acelerou nas últimas quatro décadas. E se a crise climática piorar, o mesmo ocorrerá com a taxa de deterioração das pinturas.

Mesmo se o mundo aderir às metas do Acordo Climático de Paris — o que, francamente, não é uma garantia — o aquecimento da Terra entre 1,5 ºC e 2 ºC “terá graves implicações para a conservação deste patrimônio cultural globalmente significativo”, afirma o estudo.

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Os autores pedem que mais pesquisas sejam feitas para investigar os efeitos da crise climática em tesouros antigos e que mais pesquisadores tentem encontrar locais de arte antiga como esse antes que eles desapareçam. Para preservar as pinturas mais antigas do mundo, eles também sugerem que os cientistas utilizem escaneamentos 3D para garantir que elas sejam documentadas antes que seja tarde demais. E, claro, devemos trabalhar para reduzir as emissões de gases de efeito estufa para desacelerar o aquecimento e, assim, preservar o que ainda pudermos.

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