Uma equipe internacional de astrônomos relatou a descoberta de um planeta semelhante a Netuno localizado a cerca de 920 anos-luz da Terra. Apelidado de “Planeta Proibido” pelos pesquisadores, este objeto celestial está preso a uma órbita estranhamente próxima com a estrela hospedeira em uma configuração raramente vista.
Uma nova pesquisa publicada na quarta-feira (29) na Monthly Notices da Royal Astronomical Society descreve a descoberta de um planeta parecido com Netuno que é tão próximo de sua estrela hospedeira que uma única órbita leva apenas 1,34 dias. Um planeta semelhante a Netuno nunca foi encontrado tão perto de sua estrela hospedeira. De fato, os astrônomos até inventaram um termo, o “deserto de Netuno”, para descrever essa zona estelar tão próxima.
Ao contrário de planetas rochosos pequenos e resistentes ou Jupiteres Quentes gigantes, os planetas semelhantes a Netuno não deveriam existir a uma distância tão próxima, já que a estrela hospedeira queimaria o objeto de tamanho intermediário até seu núcleo. Mas esse novo exoplaneta (planeta que orbita outra estrela que não seja o Sol) está desafiando essas expectativas.
Mais formalmente, o exoplaneta recebeu a designação NGTS-4b. Ele foi descoberto pelo Next Generation Transit Survey (NGTS) – um telescópio terrestre no Paranal Observatory da European Southern Observatory, no Deserto do Atacama, no Chile.
Uma equipe liderada pelo astrônomo Richard West, da Universidade de Warwick, usou o método NGTS testado e comprovado para detectar e caracterizar o orbe distante. Este exoplaneta, que é cerca de 20% menor que Netuno e aproximadamente três vezes maior que a Terra, foi avistado quando se movia entre nós e sua estrela-mãe, resultando em um breve, mas periódico, escurecimento da luz da estrela.
Incrivelmente, eles calcularam que o brilho da estrela diminuiu em menos de 0,2% — algo que nenhum telescópio terrestre detectou antes, de acordo com um comunicado divulgado pela Universidade de Warwick.
Mas essa não é a única conquista pioneira da NGTS. O breve período orbital do Planeta Proibido, de 1,34 dias, é o mais curto já detectado por um telescópio terrestre. É também o menor exoplaneta a ser descoberto a partir de um telescópio localizado no solo. Nada mal para uma única descoberta.
Sem mencionar toda a questão do “deserto de Netuno”.
“O termo ‘deserto de Netuno’ veio da observação de que havia poucos planetas de massa intermediária em períodos [orbitais] muito curtos”, explicou Coel Hellier, astrônomo da Universidade de Keele que não participou do novo estudo, ao Gizmodo.
Anteriormente, os astrônomos descobriram planetas do tamanho de Netuno com períodos orbitais tão curtos quanto 5,44 dias (WASP-166b) e 4,23 dias (HAT-P-26b). Já os períodos orbitais entre um a quatro dias — o deserto neptuniano de curto período – -nem tanto.
A razão atribuída, explicou Hellier, é que planetas intermediários (isto é, grandes planetas de massa parecida com a de ‘Netuno’ e baixa densidade) são queimados pela radiação que sai de sua estrela. Os planetas de massa próxima à de Júpiter são capazes de sobreviver porque a maior massa e gravidade permitem que eles mantenham sua atmosfera, enquanto os planetas menores e rochosos são muito mais densos e menos suscetíveis a serem “fervidos”, disse Hellier.
Quanto ao nome “Planeta Proibido”, Hellier disse que a descoberta desse exoplaneta claramente desqualifica seu status de “proibido” ou impossível, já que ele obviamente existe. A explicação mais provável para a NGTS-4b, ele disse, é que ele chegou recentemente ao seu local atual, e sua atmosfera não teve tempo suficiente para queimar.
“Este planeta não tem massa suficiente para manter sua atmosfera, dado o calor intenso de estar tão perto de sua estrela”, disse Hellier ao Gizmodo. “Isso significa que provavelmente ele nasceu muito mais longe de sua estrela e se mudou para sua atual órbita de curto período apenas recentemente. Todo o crédito vai para a equipe do NGTS por encontrar um planeta diferente dos encontrados anteriormente por estudos similares”.
De fato, este exoplaneta pode ser um bom exemplo da hipótese em desenvolvimento sobre a migração planetária. O NGTS-4b provavelmente se formou nos confins externos desse sistema planetário, mas se aproximou de sua estrela hospedeira, encontrando-se eventualmente em sua atual e perigosa posição orbital. Os autores do novo estudo disseram que esta é uma possibilidade distinta, mas ofereceram um segundo cenário: o NGTS-4b já foi extraordinariamente grande.
A astrônoma Hannah Wakeford, do Instituto de Ciência de Telescópio Espacial em Baltimore, não envolvido com o novo estudo, disse que este planeta provavelmente já foi muito maior do que é agora, e sua proximidade com a estrela está fazendo com que a sua atmosfera seja extinta. Consequentemente, o NGTS-4b está ficando menor e mais denso ao longo do tempo, à medida que a massa é dominada pela massa do núcleo e não pela massa atmosférica.
“Uma forma de testar essa hipótese é olhar para o trânsito planetário no [espectro] ultravioleta em busca de vestígios de vazamento de hidrogênio da atmosfera”, disse Wakeford ao Gizmodo. “Isso mostraria então que este planeta é como muitos dos outros […] exoplanetas encontrados no deserto de Netuno, e sugere que com o tempo a massa diminuirá de tal forma que se ele se tornará parte do grupo de planetas abaixo da classificação do deserto que perderam toda a sua atmosfera”.
No futuro, West e seus colegas planejam examinar os dados para ver se algum objeto semelhante pode ser encontrado no deserto de Netuno. Talvez “o deserto seja mais verde do que se pensava”, disse ele no comunicado de Warwick.