O Ártico canadense tem sido atingido em cheio pela crise climática. A região não registrava temperaturas tão altas pelo menos nos últimos 115 mil anos, e o gelo continua derretendo em ritmo acelerado. Por lá, ainda havia um manto de gelo intacto que parecia o último resquício das grandes plataformas gélidas no local. Pois é, havia, já que ela desabou no início de agosto.
Segundo o Serviço Canadense de Gelo, a última plataforma de gelo totalmente intacta deixou de existir, perdendo mais de 40% de sua área em apenas dois dias, no final de julho. O agora “falecido” gelo Milne, como era conhecido, ficava no território pouco povoado de Nunavut, na orla da Ilha Ellesmere. A placa flutuante que virou água despejou no Oceano Ártico o equivalente a 80 quilômetros quadrados. Para se ter uma ideia, essa quantidade é maior do que toda a ilha de Manhattan, em Nova York, que cobre cerca de 60 quilômetros quadrados.
Pesquisadores já sabiam há muito tempo que a plataforma Milne e suas calotas polares estavam perdidas, mas ainda é um choque ver isso acontecer. O Ártico está esquentando duas vezes mais rápido que o resto do mundo, mas 2020 tem sido um ano particularmente mais quente ainda, com ondas de calor se propagando por toda a região.
Segundo a Reuters, este verão no Ártico ficou 5 graus Celsius acima da média dos últimos 30 anos. Em 25 de julho, as temperaturas chegaram a 21,9°C, de acordo com dados coletados pela base de pesquisa de Eureka, na Ilha Ellesmere. Essa teria sido a temperatura mais alta da história já registrada no norte do planeta.
A plataforma de gelo Milne não foi a única vitima das altas temperaturas na Terra. Entre o final de julho e início de agosto, as duas calotas polares de St. Patrick na Ilha Ellesmere derreteram completamente. O calor que atinge todo o Ártico também fez com que o gelo marinho atingisse seu nível mais baixo em julho desde que a manutenção dos registros, há 40 anos.
A huge section of the Milne #IceShelf has collapsed into the #Arctic Ocean producing a ~79 km2 ice island. Above normal air temperatures, offshore winds and open water in front of the ice shelf are all part of the recipe for ice shelf break up. #MilneIceIsland #Nunavut #seaice pic.twitter.com/fGfj8Me9tA
— ECCC Canadian Ice Service (@ECCC_CIS) August 2, 2020
“Uma enorme parte da plataforma de Gelo Milne entrou em colapso no Oceano Ártico, produzindo uma ilha de gelo de aproximadamente 79 quilômetros quadrados. Acima das temperaturas normais do ar, ventos fortes e mar aberto à frente da massa de gelo contribuíram para o desprendimento do bloco”, diz a mensagem do Serviço Canadense de Gelo no Twitter.
O colapso da plataforma de gelo Milne é reflexo do que acontecendo do outro lado da Terra, na Antártica, onde várias plataformas gigantes de gelo vêm derretendo desde a década 1990. As geleiras estão diminuindo a um ritmo alarmante, então sim, o gelo em todas as regiões do planeta estão superaquecendo mais rápido que o normal.
Esta é uma má notícia para todos nós. Apesar das plataformas de gelo flutuarem, elas possuem um papel fundamental na retenção do gelo terrestre. Sem esse suporte, mais gelo pode derreter, ir para o mar e aumentar no nível dos oceanos, sobrecarregando cidades costeiras.
O gelo Milne no Canadá retinha uma quantidade considerada pequena de gelo glacial, mas a história é muito diferente na Antártica. Uma nova pesquisa publicada no inicio de agosto mostra que, se não reduzirmos as emissões de carbono para desacelerar o aquecimento global, o aumento do nível do mar pode causar US$ 14,2 trilhões em danos à infraestrutura terrestre só neste século. Por isso, precisamos salvar o gelo para salvar a nós mesmos.