A polícia chinesa começou a usar óculos equipados com câmeras de reconhecimento facial para achar fugitivos viajando pelas estações de trem. Embora a corporação tenha dito que os óculos vão identificar pessoas usando documentos de identidade falsos ou viajando para fugir de mandados de prisão, muitos estão preocupados com a possibilidade de a China utilizar a tecnologia para visar protestantes políticos e minorias. O país já foi acusado de usar tecnologia de reconhecimento facial para “cercar” a minoria muçulmana Uighur, no noroeste da região de Xinjiang.
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Os óculos basicamente automatizam o processo de pedir o documento de identidade. Quando o policial olha para alguém, a câmera acoplada aparentemente tira medidas precisas do rosto da pessoa. Essa medição é então comparada com um banco de dados dos indivíduos, cada qual com suas medições registradas. A tecnologia é, supostamente, capaz de determinar uma ligação entre pessoa e registro em questão de segundos. Quanto a quem pega o trem, a polícia quer garantir que o passageiro não esteja viajando com o documento de identidade de outra pessoa ou indo de trem para trem para escapar da polícia.
Imagem: AP
Nos Estados Unidos, manifestantes políticos geralmente são contra a polícia colocando as pessoas em bancos de dados que não diferenciam suspeitos de cidadãos, embora a abordagem de diligência policial da China tenha ganhado manchetes por anos. A China exige a coleta de dados biométricos de seus cidadãos, e o reconhecimento facial se tornou algo comum em câmeras ao redor do país.
Essas ferramentas são assustadoras individualmente, mas o reconhecimento facial representa um ponto sem retorno na vigilância policial. No caso dos novos óculos, a polícia está procurando checar todas as pessoas em um banco de dados de passageiros, portanto, o simples fato de ser observado é tanto uma busca quanto um processo de identificação. Defensores da privacidade expressaram preocupações parecidas no ano passado quando a Axon, antiga Taser, começou a explorar câmeras acopladas nos uniformes equipadas com reconhecimento facial.
Conforme o especialista em contravigilância Adam Harvey contou ao Gizmodo no ano passado, os vestíveis podem aumentar significativamente os poderes de processamento de informações dos policiais. Pode levar, digamos, horas para que um policial cheque 200 carteiras de identidade, mas essa tecnologia, em teoria, pode fazer o mesmo em minutos, se funcionar como foi descrita. Essa rápida melhoria nas capacidades dos policias de identificar, vigiar e processar informações das pessoas traria consigo novas preocupações quanto à autoridade policial.
O que claramente está faltando tanto na cobertura jornalística local quanto na matéria do Wall Street Journal são imagens do que os policiais veem com o aparato. É possível que o headset, que parece bastante com o Google Glass, seja capaz de fornecer informações sobre uma correspondência entre um documento apresentado e o rosto de um passageiro, mas os destalhes são escassos. Os óculos foram, supostamente, desenvolvidos pela LLVision Technology, em Pequim.
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU) já expressou suas preocupações de que tecnologias vestíveis pudessem ser conectadas a todos os tipos de informações pessoais sobre a pessoa encontradas no banco de dados, seus antecedentes criminais, seu endereço, estado empregatício, etc. Nos Estados Unidos, onde cidadãos recebem uma “pontuação de ameaça” baseada na probabilidade de que possam cometer crimes, a ACLU demonstrou se preocupar com a possibilidade de que esse tipo de informação possa pipocar nas telas também. Conforme a polícia coleta cada vez mais dados dos cidadãos, quanto tempo vai demorar até que tudo esteja conectado, indexado e apareça sempre que um policial vir o seu rosto?
Embora óculos inteligentes como o Google Glass tenham fracassado na tentativa de decolar entre o público, dispositivos vestíveis para policiais são basicamente inevitáveis. Da Alexa nas viaturas a câmeras acopladas ao corpo que capturam tudo, os policiais, em breve, terão um imenso poder tecnológico à disposição. Se puderem melhorar suas capacidades investigativas dessa maneira, é mais importante do que nunca que nós, também, aumentemos nossas proteções de privacidade, ou arriscamos perdê-la.
Imagem do topo: China News via Wall Street Journal