“As consequências negativas da poluição luminosa são tão desconhecidas pela população quanto as do fumo nos anos 80.” Foi assim que o professor Oscar Corcho, da Universidad Politécnica de Madrid (Espanha), descreveu o problema em entrevista recente para o jornal britânico The Guardian.
O céu noturno está cada vez mais claro devido ao uso indiscriminado de iluminação pública, instalações e publicidades enormes e brilhantes. Um estudo divulgado em janeiro por pesquisadores do Centro de Pesquisa Alemão de Geociências GFZ (Alemanha) mostrou que o céu noturno clareia a uma taxa de cerca de 10% ao ano.
Eles analisaram mais de 50 mil observações do céu noturno a olho nu, feitas entre 2011 e 2022 por pessoas de 19 mil lugares do mundo – a questão é principalmente urbana, claro, mas não se restringe às metrópoles. A conclusão é que uma criança nascida onde 250 estrelas são visíveis à noite só conseguiria ver 100 quando chegasse aos 18 anos.
Já em 2016, um estudo publicado na revista Science afirmou: mais de 80% da população mundial vive em lugares cujo céu está poluído com o excesso de luz – e um terço da população mundial não consegue ver a Via Láctea a olho nu por causa disso. Hoje, os cientistas estimam que a maioria das principais constelações será indecifrável em 20 anos.
O que significa a poluição luminosa
Há consequências para nossa saúde: é que a poluição luminosa obriga nosso relógio biológico a trabalhar de forma diferente da natural. O sintoma mais evidente desse problema é a insônia, porque nosso organismo se prepara para dormir com a ajuda da melatonina, um hormônio que, dentre outras coisas, provoca sonolência e desacelera o metabolismo. Mas a liberação de melatonina é ativada pelo nosso cérebro conforme (adivinhe) o dia escurece.
Isso sem falar nas consequências ecológicas: a poluição luminosa pode alterar o ritmo circadiano das plantas e prejudicar sua interação com polinizadores noturnos, por exemplo.
Tartarugas marinhas não conseguem desovar em praias iluminadas. Aves migratórias, que se guiam pela Lua, se confundem e se perdem. Insetos são atraídos por fontes artificiais de luz e morrem.
Perder a oportunidade de enxergar estrelas no céu noturno não é só uma perda cultural, mas também astronômica. Um estudo publicado em dezembro por pesquisadores da Itália, Chile e Galícia mostrou que apenas 7 dos 28 principais observatórios do mundo não estão consideravelmente afetados pela poluição luminosa. Ou seja: três quartos deles estão ameaçados.
Por isso, o Parque Estadual do Desengano, localizado ao norte do estado do Rio de Janeiro, assumiu um compromisso em 2021 com a IDA (Associação Internacional do Céu Escuro, na sigla em inglês) para se proteger da poluição luminosa. Trata-se de uma das muitas iniciativas necessárias ao redor do mundo para frear o desaparecimento das estrelas.