Em colônias de insetos, é comum o hábito dos líderes comerem seus filhos. E há sempre um motivo para isso. Não é diferente entre as formigas rainhas jardineiras pretas (Lasius niger), ou simplesmente as formigas pretas, comuns em gramas.
Agora, um estudo publicado como preprint identificou o porquê isso acontece. Em geral, quando as formigas rainhas percebem que seus filhos estão doentes, elas os comem antes que a doença se espalhe para o resto do ninho.
Na pesquisa, as rainhas comeram 92% de seus filhotes doentes, mas apenas 6% daqueles que não foram infectados. De acordo com o estudo, isso mostra que elas conseguem detectar a infecção e intervir.
Benefícios para a colônia
Em laboratório, os pesquisadores testaram os efeitos da infecção fúngica caso as formigas rainhas não comessem os filhotes contaminados. Como resultado, toda a nova prole morreu e apenas 20% das rainhas sobreviveram.
Assim, se a rainha é infectada e morre, a colônia também morre. Dessa forma, o método da formiga preta se mostra eficaz.
Além disso, comer os filhotes doentes também traz outros benefícios. Como elas ingerem mais calorias, também têm mais energia para reprodução. Os pesquisadores descobriram que, nesses casos, as formigas rainhas passaram a botar 55% mais ovos.
Essa vantagem, somada à remoção do risco de doença, pode ilustrar uma maneira como o canibalismo filial poderia evoluir em algumas espécies, argumentam os pesquisadores.
Mas as formigas rainhas não se contaminam?
Geralmente não, mas é um risco. De acordo com os cientistas, as formigas rainhas produzem um veneno, que consiste em um ácido antimicrobiano. Frente a infecções em sua colônia, ela libera essa substância nos filhotes doentes, mas não é um método tão efetivo quanto comê-los.
Segundo o estudo, elas também engolem o próprio veneno antimicrobiano para tornar seus intestinos hostis aos esporos fúngicos.
Agora, os cientistas pretendem compreender se a prole que nasce após seus irmãos mais velhos serem comidos têm sistemas imunológicos que protegem melhor contra a infecção fúngica.