Por que esquecer as coisas faz bem para o cérebro, segundo este estudo

Pesquisa irlandesa sugere que a falta de uma memória específica nem sempre é uma falha, mas sim um aprendizado do cérebro
Falta de memória nem sempre é algo ruim, dizem os cientistas
Imagem: Robina Weermeijer/ Unsplash/ Reprodução

Em um mundo em constante mudança, esquecer algo pode não ser uma coisa ruim. Na verdade, pode até ser bom. Mas por quê?

De acordo com um estudo publicado na revista Cell Reports, o esquecimento pode ser uma característica intencional do cérebro. Os neurocientistas tinham a hipótese de que esquecer as memórias adquiridas em circunstâncias que não são relevantes para o momento era uma adaptação aos ambientes em constante mudança.

Isso significa que uma informação que não é útil naquela hora, também não precisa ser lembrada naquela hora. Nesse sentido, o ato de esquecer poderia representar uma forma de aprendizado, não uma falha.

Em tese, esse mecanismo permitiria comportamentos mais flexíveis e uma tomada de decisões melhor, o que garantiria o bem-estar.

Teoria e prática

Para testar a hipótese, pesquisadores irlandeses fizeram experimentos com camundongos. A equipe estudou uma forma de esquecimento chamada interferência retroativa, na qual diferentes experiências ocorrem em um curto espaço de tempo e podem causar o esquecimento de memórias recentemente formadas.

Os pesquisadores induziram de início os camundongos a associar um objeto a um ambiente específico. Depois, eles testaram se os camundongos reconheciam o objeto ao ser deslocado.

Entre a primeira etapa e a segunda, os neurocientistas permitiram que outras experiências competitivas interferissem na primeira memória. Como resultado, os camundongos esqueceram as associações.

Durante o experimento, os pesquisadores acompanharam a ativação e o funcionamento de um conjunto de neurônios chamado células do engrama, que armazenam memórias específicas. 

Quando os camundongos esqueceram a associação, os pesquisadores estimularam as células do engrama com luz e as memórias voltaram. E quando os camundongos foram submetidos a novas experiências relacionadas às memórias esquecidas, os engramas perdidos também puderam ser naturalmente reativados.

A equipe do estudo confirmou assim que os engramas mantêm as memórias, mas o esquecimento acontece quando eles não ativam os engramas. “O fluxo contínuo de mudanças ambientais leva à codificação de múltiplos engramas que competem por sua consolidação e expressão”, afirmou a Dra. Livia Autore ao SciTechDayly.

De acordo com a pesquisadora do Conselho de Pesquisa Irlandês (IRC) envolvida no estudo, a competição entre os engramas afeta a recordação, mas novas experiências podem reativar aquela memória.

Dessa forma, agora que o estudo confirmou que o esquecimento natural é reversível em circunstâncias específicas, o trabalho pode contribuir para compreender doenças da memória, como o Alzheimer.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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