Por que o Nokia N9 pode fazer sucesso

      Muito alvoroço tem sido feito desde que a Nokia apresentou ao mundo seu mais novo smartphone, o N9. Cercado de boatos e palavrórios que vão do elogio rasgado à completa descrença. O aparelho foi anunciado no Brasil durante o “Nokia Talk”, evento anual da empresa pela primeira vez realizado no Brasil, e […]

 

 

 

Muito alvoroço tem sido feito desde que a Nokia apresentou ao mundo seu mais novo smartphone, o N9. Cercado de boatos e palavrórios que vão do elogio rasgado à completa descrença. O aparelho foi anunciado no Brasil durante o “Nokia Talk”, evento anual da empresa pela primeira vez realizado no Brasil, e deve chegar aqui a partir de outubro. A “ex-todapoderosa” fabricante de aparelhos celulares e líder mundial do segmento de telefones inteligentes por longos 14 anos atravessa sua pior fase.

A empresa ainda vive às voltas com projetos de pesquisa e parcerias consolidadas anteriormente à chegada de Elop – o CEO que virou a Nokia do avesso. Entre esses projetos está o Meego – Sistema operacional que nasceu da fusão do Maemo (Nokia) e MobLin (Intel) .

O N9 faz parte do acordo entre Nokia e Intel o qual previa que a fabricante finlandesa desenvolveria um dispositivo para servir como vitrine para o sistema que vem à luz só agora, porém, sob os auspícios de um Projeto que conta com a participação de grandes fabricantes que vão de sistemas automotivos à televisores inteligentes. Em suma, o meego é um projeto de ponta a ponta (netbooks, telefones, veículos, tevês inteligentes, tablets, etc), e a Nokia é uma empresa buscando um novo eixo. Uma gigante tentando se manter de pé… O N9 pode vir a ser sua muleta!

 

O N9

O aparelho está apresentado num corpo único de um termoplástico especial (policarbonato) resistente à riscos e não é pintado – a cor do plástico é a cor do aparelho, o que elimina a possibilidade de descascar (olá: Samsung, Motorola e Sony!). A bateria de 1450 mHA não é removível e a filandesa jura de pés juntos que pode durar até mais de 7h em conversação numa rede 3G. O lindo e côncavo display de 3,9” amoled é multitouch com resolução 854×480, está recoberto por uma camada anti-reflexo e possui o já onipresente Gorila Glass (item primordial para os mais descuidados, como eu!); adicione-se ainda a gama de sensores já bem conhecidos dos smartphones modernos: luminosidade, proximidade, acelerômetro, magnetômetro, etc.

Por dentro do corpo nem tão esbelto para os padrões atuais (sim, a ditadura da magreza também impera no mundo dos smartphones), o N9 traz um processador de 1GHz Cortex A8, e uma GPU PowerVR SGX530 montados sobre o chipset TI OMAP 3630 com 1Gb de RAM (a mesma configuração do DROID X, com 512mb de RAM a mais). Um conjunto de respeito, sem dúvidas. Em conectividade o dispositivo carrega consigo um chip Wi-Fi 802.11 a/b/g/n, com habilidades para servir como Wi-Fi hotspot, Bluetooth, v2.1 com A2DP/EDR, microUSB v2.0; TV-out, GPS, DLNA e NFC. Ou seja, o dispositivo é capaz de se conectar a quase tudo.

A Câmera primária de  8 Mpx, como não poderia deixar de ser para um dispositivo “N-Series” vem com lentes Carl Zeiss, foco automático, flash dual led, Geo-tagging, face detection, touch-focus e grava vídeos em 720p/30fps. Alie-se a isso capacidade de armazenamento  de 16 GB, ou, os impressionantes 64Gb a depender do modelo – algo inédito na indústria.

 

O Meego

Desenvolvido em colaboração entre Nokia e Intel o sistema conta com uma comunidade de desenvolvedores muito ativa e dinâmica. O meego é linux “de verdade”. A promessa é ambiciosa, não apenas pela ampla compatibilidade tecnológica, mas também pelo fato de que, por trabalhar baseado em Linux, as empresas estão apostando que isso garantirá uma aceleração em inovações e redução do tempo de aplicativos e novidades atingirem o mercado, além de incentivar a criação de software para formatos e tecnologias menos exploradas (leia-se NFC).

A interface de usuário do framework do sistema operacional é baseada em Qt, tecnologia nas mãos da Nokia desde a aquisição da Trolltech, em 2008. Completamente voltada para gestos, a interface do N9 radicaliza na proposta de uma interação sem a necessidade de botões bastando apenas deslizar as telas em qualquer direção. Concebida originalmente com 03 telas básicas (notificações, lista de aplicativos e aplicativos abertos) o sistema permite que a partir da tela de aplicativos com apenas um gesto você veja a tela de notificações e, com outro, todos os aplicativos que estão abertos e rodando em segundo plano.

Na tela de notificações a proposta é que tudo fique sempre à mão, à distância de um toque. Uma barra superior mostra informações (operadora, nível de sinal, wi-fi, nível de bateria…) e  atalhos como data/hora e previsão do tempo (basta tocar na barra para ela se estender oferecendo ainda mais opções – como no Android), sob a barra estarão todas as informações como ligações perdidas, sms recebidos, atualização das redes sociais, etc… Tudo muito simples, prático, eficiente e elegante.

A tela de aplicativos dispõe seus ícones como um menu em grade bastando rolar a mesma até encontrar o app que procura. Talvez aqui um ponto fraco, não é possível, por enquanto, criar pastas nesse menu de uma maneira simples e intuitiva. Você pode até reorganizar a posição dos aplicativos bastando para isso segurá-los e arrastar para onde você quiser, no entanto criar pastas para colocá-los dentro não dá… ainda. Uma curiosidade é que você pode criar atalhos para páginas web direto do navegador e ele aparecerá como aplicativo na tela destinada à eles, uma espécie de “prism” do firefox.

http://www.youtube.com/watch?v=gfE3B6L-Otw

A tela da multitarefa é belíssima: todos aplicativos abertos em segundo plano ficam minimizados  ordenados em pares ou trios – você pode mudar a visualização com um gesto de pinça e eles alternam a maneira como estão dispostos. Para fechar os aplicativos que não quer mais basta um toque longo em qualquer lugar e as miniaturas apresentarão a opção de fechá-las: os que você quiser, ou mesmo todos ao mesmo tempo.

O sistema é rápido… Absurdamente rápido após iniciado, apesar de ter um tempo de boot para além do esperado – demora pra ligar cerca de 40 segundos; a navegação por swipe faz tudo parecer mais fluído ainda. Você pode abrir uma penca de aplicativos e o sistema continua respondendo impressionantemente bem. Não raro podemos ter mais que 10 aplicações abertas e ele permanece sem lags ou engasgos aparentes. O 1gb de memória e a forma como o kernel linux gerencia processos são os responsáveis pela façanha. Em alguns momentos tem-se a impressão de que as transições de tela, abertura de aplicativos e fluência destes é até mais rápida no N9 do que no poderoso Galaxy S II.

 

Os aplicativos

O N9 sai da caixa com navegador compatível com htlm5 mas sem plugin do flash, clientes para: twitter, facebook, Foursquare, Vimeo, etc… e com a possibilidade de agregar mais redes. Leitor de feeds integrado, AccuWeather, APMobile, Cliente de e-mail com suporte ao Exchange; Editor de fotos, reprodutor de vídeos, visualizador de fotos, visualizador/editor de documentos do Office, pelo menos dois jogos legais (Need For Speed e Angry Birds Magic). Além do indispensável Nokia Maps, com mapas offline.

Existe uma histeria geral sobre a não continuidade do desenvolvimento da plataforma o que, consequentemente, resultaria na escassez de novos aplicativos, ou mesmo que os grandes players do mercado de games não portem seus títulos para a plataforma e/ou não criem opções novas para ela. O receio pode ser infundado (é o que acho) dependendo do sucesso da plataforma – e ela tem tudo pra ser bem sucedida. Como disse antes, o meego não é um projeto apenas da Nokia, outros fabricantes – nomeadamente LG e Samsung, já se interessaram por ele, e pelo menos a LG tem planos de lançar smartphones e tablets com o sistema.

Nessa esteira a Nokia, através do Beta Labs, tem ótimos aplicativos que serão, com toda certeza, portados para o meego, são eles: Play To (aplicativo que permite aos smartphones da empresa enviar os seus vídeos, fotos e músicas para sua TV ou sistema de som – tudo sem a necessidade de cabos e conexões – via wi-fi); CNN international; Bubbles – (uma maneira divertida e personalizável de bloquear/desbloquear o aparelho); Drop (permite enviar links e imagens do PC para o smartphone); Live View – aplicativo para brincar com realidade aumentada através da câmera e geotaging – bem interessante, você aponta a câmera para um ponto turístico, por exemplo, e ele exibe na tela informações sobre o que está sendo retratado.

Ainda em desenvolvimento podemos encontrar o CutTube – cliente para Youtube; Molome – uma espécie de instagram pra Symbian e Android; Lyrics – apresenta a letra das músicas que estão tocando no player nativo;  TV digital – aplicativo para interfacear o receptor de TV digital da Nokia; Youtube Downloader. Etc…

Como se vê, a plataforma pode não contar com 200 mil aplicativos… Mas os que possui cumprem muito bem o seu papel em se tratando de entretenimento e diversão. Não é impossível que, aos poucos, a Gameloft, Rovio (start-up criadora de Angry Birds ligada quase umbilicalmente a Nokia) e a EA, juntamente com outros produtoras menores, tragam seus títulos mais cotados também. Além, é claro, da possibilidade concreta de usar aplicativos do Android Market com o Alien Dalvik. Como é uma plataforma que será utilizada em tablets, a possibilidade de criação de aplicativos mais robustos para o consumo de conteúdo é grande, tais como: bons leitores de ebooks; agregadores; revistas, jornais, etc… Lógico que isso dependerá fundamentalmente da recepção do mercado ao Meego.

Nota-se que as possibilidades são muitas. Tudo vai depender de como a Nokia venderá esse peixe. Bem vendido ela terá a chance de recuperar, mesmo que apenas parcialmente, o terreno que vem perdendo trimestre após trimestre. Na minha opinião, o WP7, pelo que se tem visto, não pode ser considerado algo “inovador” a ponto de mudar os caminhos dele próprio e da finlandesa. O meego é uma aposta que nasceu para segundo plano mas pode mudar a depender do desempenho de seu concorrente dentro de casa. Notem também que a Nokia não enfatiza o sistema do aparelho. Isso serve, na minha opinião, não para escondê-lo, e sim pra frisar a marca “Nokia” -bem ou mal, ela ainda é um nome de peso na cabeça dos consumidores. Tanto que o Sea-Ray, o primeiro WinPhone da empresa, é construído da mesma forma que o N9, numa clara tentativa de exibir seus novos produtos de maneira uníssona, repisando o que é comum e pontuando as diferenças de acordo com o público para o qual se dirige.

Importante perceber que ninguém na gigante diz que o N9 será o único dispositivo Meego da empresa. Pode haver um segundo? Sim e não: isso dependerá do mercado e sua insana busca por novidades – o meego é novo e inovador, se bem aceito, as chances dele se tornar relevante demais para ser abandonado pela Nokia podem ser reais. E quanto vai custar? Um executivo da Nokia falou em valores

No anúncio do aparelho no Brasil, ninguém da empresa falou em valores – apesar de que em outros eventos, o VP de vendas da empresa estipulou preços de US$ 660 e US$ 749 no Nokia Connectio, mês passado, o que tem sido repetido por veículos como o NY Times. Mas é cedo e o produto ainda não chegou as lojas. Eu não apostaria num preço exorbitante tendo em vista os recentes cortes promovidos pela Nokia. Quiçá, o preço de referência seja o do N8 no lançamento – US$ 549 no mundo e R$ 1.499 no Brasil. Isso seria caro, é óbvio, mas estaria dentro dos valores praticados aqui na Terra Brazilis e não prejudicaria muito suas vendas.

 

* As opiniões deste artigo não refletem necessariamente as opiniões de todos do Gizmodo. Mas gostamos do debate de ideias – e encorajamos que ele continue nos comentários.

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