No ano passado, o corpo de um filhote de mamute foi encontrado no gelo da Sibéria e recebeu o nome de Buttercup. Como ele está extremamente preservado, os pesquisadores da Sooam, um centro de biotecnologia da Coreia do Sul, puderam extrair sangue líquido do corpo do pequeno mamute e, assim, iniciar o mapeamento do código genético do animal.
Sangue encontrado em fósseis te faz lembrar de alguma coisa? Se não, eu refresco sua memória: Jurassic Park. No filme de Steven Spielberg, cientistas utilizaram o sangue de dinossauro encontrado dentro de um fóssil de mosquito preservado em âmbar para clonar dinossauros e criar o parque. E se você assistiu ao filme, sabe que essa não foi a melhor ideia do mundo.
Mas se você é um fã de Parque dos Dinossauros, provavelmente sabe que existe um problema na história do livro e no roteiro do filme: o Toxorhynchites rutilus, mosquito que teria resguardado o sangue dos bichões, é o único tipo de mosquito que não se alimenta de sangue. Fuén. E esse não é o único problema: Jurassic Park também mostra que as lacunas do código genético dos dinossauros foram complementadas com DNA de sapo. E essa gambiarra é fundamental para a história e para toda a desgraceira subsequente.
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Para clonar o mamute, os cientistas precisam mapear todo o genoma de Buttercup, mas ele pode estar incompleto. Aqui a vida real começaria a imitar a ficção: os traços do genoma que estivessem faltando teriam de ser procurados no DNA dos elefantes atuais. Mas esses são os menores problemas dos cientistas: se eles realmente conseguirem criar um genoma completo, seria necessária uma elefanta para gerar o clone do mamute e o útero desses animais não está equipado para gestar um animal cujo corpo é recoberto por lã; isso poderia destruir o útero das elefantas e é bem possível que várias delas morressem durante a gravidez do clone de mamute. E nem começamos a falar sobre a reprodução do habitat do mamute, o fato de que eles eram animais extremamente sociais e as chances de sobrevivência do bebê.
Ou seja: talvez a ciência deva concentrar seus esforços em outras coisas, porque clonar um filhote de mamute parece uma ideia quase tão ruim quanto a de Parque dos Dinossauros. Está mais para ciência-ostentação (olha o que a gente pode fazer!!!) do que para algo com um impacto positivo para esse nosso mundão. Seria melhor, por exemplo, desenvolver tecnologias para evitar a extinção de algumas espécies. Nós já acabamos, por exemplo, com bichos tão simpáticos quanto o Dodô abaixo.
[Via Quartz / Imagem de destaque via Reuters]