O filme “Assassinos da Lua das Flores” estreia hoje nos cinemas brasileiros. O longa tem direção de Martin Scorsese e conta com os protagonistas Lily Gladstone e Leonardo DiCaprio como Mollie Kyle e Ernest Burkhart, respectivamente.
A história se passa no interior do estado Oklahoma (EUA), em 1920, enquanto o povo indígena osage vive da riqueza após a descoberta de petróleo em sua terra. O filme é inspirado no livro de David Grann.
Além da relação entre Mollie Kyle, osange, e Ernest Burkhart, branco, “Assassino da Lua das Flores” se inspira em muito detalhes da história do povo originário.
Expulsos
Segundo o National Geographic, os osages foram expulsos da terra natal no Kansas, Estados Unidos, em 1872. A nação comprou 6 mil km² de terra em Oklahoma do governo federal. Cada membro ficou com cerca de 2,65 km2.
O site da Nação Osage, a origem remonta ao rio Ohio, quando os povos Dhegiha Siouan, que originaram a nação osage, começaram a migrar em direção a confluência do rio Mississippi. Outros povos como omaha, ponca, kaw e quapaw seguiram o trajeto.
Depois, eles se estabeleceram na região de St. Louis, além de ir para Missouri e Illinois. Por fim, um grande grupo foi para Cahokia, sendo a última tribo remanescente na região.
Outra versão descrita pelo Oklahoma Historical Society diz que a saída foi de Missouri, Arkansas e Oklahoma para o Kansas quando o governo dos EUA decidiu — eles já tinham sido retirados em 1839 por conflitos.
“As remoções anteriores foram ruins, mas a expulsão de 1871 foi pior em termos de vidas perdidas e dificuldades. Este movimento quase destruiu o povo Osage. Lápides antigas indicam que o maior número de vítimas ocorreu entre mães jovens e bebês. No entanto, os idosos que fizeram a mudança nunca falaram das mortes e tristezas”, descreve a página.
Já a ONG Osage Nation Foundation descreve que “no momento em que negociaram o tratado de 1865, para comprar terras em Oklahoma, a população dos Osages havia reduzido em 95%”, com apenas “3.000 osages cruzando a fronteira do Kansas para suas novas terras”.
Descoberta do petróleo e o assédio branco
Já em Oklahoma, os indígenas descobriram o petróleo em suas terras em 1890. De uma economia dependente da caça e da coleta, além da agricultura, os osages passaram a ter uma fortuna de cerca de US$ 400 milhões, segundo o National Geographic.
Assim como é mostrado no filme “Assassino da Lua das Flores”, o montante despertou o interesse dos brancos norte-americanos. Mas o próprio governo federal já vinha com políticas opressivas contra indígenas.
Na década de 1830, o congresso queria que os povos originários assinassem uma série de tratados para se mudarem para o ocidente do país.
“A remoção forçada afetou todas as tribos a leste do rio Mississippi e várias tribos a oeste dele. No total, cerca de 100.000 índios americanos foram removidos de suas terras natais para reservas ocidentais”, escreveu o professor Torivio Fodder em um artigo de opinião no Los Angeles Times.
A política só foi encerrada em 1871. Em 1887 foi a Lei Dawes, ou lei geral de alocação, que pôs em prática algo visto no filme — e extremamente violento: os povos originários foram forçados a se integrarem na população nacional.
Assim, terras dos povos originários foram desmembradas e foram oferecidas para as famílias que “queriam” serem assimiladas à cultura branca. O povo osage conseguiu seguir contrário à esta medida.
No filme, porém, é mostrada a prática que culminou em 1908. A jurisdição em tribunais locais permitiu classificar os indígenas como incapazes de administrar as terras — e passarem a precisar de um tutor ou guardião para cuidar do dinheiro.
Mortes na década de 1920
Como destaca o National Geographic, mais de 60 indígenas morreram no intervalo de 1921 a 1925. Todas as mortes incluíam mortes suspeitas — dentro do contexto jurídico citado acima.
Os mortos, retratados em “Assassinos da Lua das Flores”, possuíam riquezas devido aos seus direitos sob a terra e os minerais. Algumas delas são retratadas com detalhes verossímeis, principalmente da família da personagem Mollie.
As mortes levaram ao Conselho Tribal Osage a recorrer ao Bureau of Investigation, que passou a acompanhar o caso. Mais tarde, o órgão viraria o FBI.
As investigações apontaram para o pecuarista William K. Hale, que era do Texas e passou a viver na região.
Após o caso, o congresso norte-americano proibiu que pessoas brancas não-osages herdassem os direitos de propriedade dos indígenas — o objetivo de alguns personagens de “Assassinos de Lua das Flores”.
Só em 2011 que o governo federal fez um acordo com os osages para o pagamento de US$ 380 milhões e outras medidas.
Contudo, a Osage Nation denuncia que cerca de 26% dos direitos de propriedade ainda pertencem às pessoas não-osages.
“O Conselho de Minerais Osage está atualmente buscando legislação federal para permitir que não-osages que possuem uma participação direta na propriedade mineral de osage doem ou vendam essas participações de volta ao Conselho de Minerais Osage, à Nação Osage ou a indivíduos osage”, informou em um comunicado.