Primeiras impressões: o surpreendente iPhone 5, da Apple
É estranho opinar sobre algo o qual nunca vi ou evitava ver. Mas viver de jornalismo de tecnologia é assim: você muitas vezes dá opiniões sobre coisas que só seus olhos viram, seja em fotos ou vídeos. De longe, desde o dia 12 de setembro, o iPhone 5 parecia uma simples evolução do iPhone 4S, e não uma revolução. Hoje, depois de uma semana com o aparelho, posso dizer com clareza: ele é um dos smarpthones mais sensacionais que eu já vi.
Design
Como um aparelho maior pode parecer menor que seu antecessor?
O golpe certeiro da Apple pode ter vindo da surpresa ao empunhar o novo iPhone. Se nos dias após seu lançamento, o iPhone 5 foi considerado “tedioso”, “chato”, um aparelho que basicamente já tinha vazado por completo nos últimos meses, encontrar o aparelho pode ter perdido um pouco do fator surpresa. Até você segurá-lo. De primeira, o esforço que eu despendi para segurá-lo foi quase o bastante para eu deixá-lo escapar. Ele é muito, muito leve. Não há palavras nem imagens que expliquem isso. (Mesmo assim, no podcast que gravamos no dia do lançamento, eu já estava bem encafifado com o peso mínimo dele.)
Eu já senti algo parecido antes: no Galaxy S III, da Samsung. À época, eu o comparei àqueles 100 gramas de presunto que você pede na padaria e o atendente coloca um pouco a mais. Aqui, a coisa é ainda mais absurda: a diferença de peso, em números, não parece tão sensível — 133 gramas contra 112 gramas do iPhone 5 — mas há algo a mais. No Galaxy S III, por conta de seu acabamento em policarbonato, faz mais sentido esperar que um aparelho de plástico pese menos. No iPhone 5, construído com vidro e alumínio, e maior do que seu antecessor, o choque é maior.
Passado o susto do peso, você começa a reparar na construção do aparelho. Finalmente o vidro traseiro foi embora. O acabamento traseiro do aparelho preto, com alumínio e poucos relevos, é belíssimo. O final das bordas de todo o aparelho são curvadas, com ótimo acabamento. Mas há um grande porém aqui: o vidro traseiro foi embora, o que aumenta a confiança de que ele não quebre. Mas essas laterais, as pequenas extremidades do aparelho, riscam com altíssima facilidade. Como o iPhone 4S tinha a lateral sem pintura, apenas com alumínio, isso não acontecia. Agora, em uma semana de uso, vários trechos na lateral do aparelho perderam a cor. Você pode reparar no primeiro deles no primeiro segundo de vídeo. Eles aumentaram consideravelmente com o passar dos dias. Proteger as laterais mais do que nunca requer um case. E isso, para mim, é um saco.
Somando a construção à leveza do aparelho, começo a entender por que parte dos chineses da Foxconn se rebelaram contra o sistema de teste de construção dos iPhones 5 na China. Montar milhares de aparelhos assim em um só dia, com a Apple na sua cola, não deve ser nada bom. Dada a falta de iPhones 5 nas lojas dos EUA, talvez seja hora de a Apple rever seu investimento em fabricações e gastar bem mais com isso, em prol não só do bem estar das pessoas que os constroem, mas também pensando nos consumidores.
Performance, apps e tela
Esse tal de A6 é rápido, viu? A Apple não revela o clock do processador, só diz que ele é dual core, mas, sinceramente, estes números cada vez menos importam para mim (e, creio, para 99% das pessoas). O que importa, no fim das contas, é se ele lida bem com todo e qualquer tipo de atividade. O A5, do iPhone 4S, já se saía muito bem em grande parte das atividades. O que o A6 adiciona é uma camada extra de velocidade. Onde você realmente sente isso? No ato de trocar de aplicativos, por mais pesados que eles sejam — sair do Dead Space e ir para o Snapseed é tão rápido quanto trocar o Sparrow pelo Twitter. Tudo parece ter um peso igual agora.
Mas dos quatro apps que citei agora, só um já foi atualizado para a tela de 4 polegadas do iPhone — o Twitter. Todo dia, novos apps são atualizados para usar o novo espaço, mas ainda há uma infinidade de apps que são exibidos com uma faixa preta na parte inferior e superior. No iPhone 5 preto é difícil perceber as barras por conta das partes externas escuras, mas os desenvolvedores terão que acelerar o passo. E isso não é chatice: só quando eles adaptarem os espaços, teremos ideia de novos usos para as 4 polegadas do iPhone 5. Os desenvolvedores viveram anos e anos em 3,5 polegadas, e agora precisam repensar, adicionar e rever diversos usos e apps.
A grande questão é que, no momento, o ganho de mais tela não parece ter muito uso. A Apple não otimizou o iOS 6 para usar o espaço extra para exibir notificações mais inteligentes e menos intrusivas, por exemplo, e quase nenhum app apresentou algo realmente novo. O aumento é, por enquanto, uma fileira a mais de ícones na tela inicial. Mas a tela do iPhone 5, por sorte, não depende apenas dos apps para brilhar. Algo fica bem claro comparando-a com o iPhone 4S: ela não apenas cresceu, mas ficou com uma qualidade de imagem melhor. A resolução de 640 por 1136 pixels a deixa com 326ppi. São 4ppi a menos do que o 4S. Então como ela parece mais bonita, com imagens mais atraentes, pretos mais pretos e cores mais empolgantes? Aí entra os 44% a mais de saturação de cor que a Apple adicionou à tela.
O fim dos 30 pinos
Não é de hoje que a Apple é obsessiva em diminuir tudo em seu smartphone. Mas no iPhone 5, tudo é extremo: o chip A6 é menor do que seu antecessor, o nanoSIM é provavelmente o limite mínimo de um chip de dados, e até a alavanca à esquerda, que ativa ou desativa a vibração, está mais fino do que antes. Olhando o conector Lightning contra seu antecessor de 30 pinos faz parecer até que a Apple demorou para fazer tal mudança. Ele é muito menor e mais prático do que a versão de 30 pinos.
Mas talvez se a Apple decidisse mudar isso antes, quando o iPhone era um aparelho bem menos popular do que hoje, o sofrimento fosse menor. Nos últimos anos, uma enxurrada de periféricos de todos os tipos surgiram usando o padrão de 30 pinos. Esse mercado irá se adaptar, mas os aparelhos que já existem terão problemas: eu, por exemplo, tenho um home theater que tem um conector de 30 pinos da Apple. Eu usava-o para deixar a música tocando pela casa e para recarregar iPods ou iPhones. Agora, com o adaptador de US$29, ele não funcionará com o iPhone 5: como o adaptador retira as capacidades de iPod, ele não tocará música. Terei que recorrer a algum tipo de solução com Bluetooth para ele.
No fim, a mudança do conector era necessária para a Apple pode fazer mais ajustes no iPhone 5 — o conector P2 na parte inferior faz muito mais sentido do que no topo, por exemplo –, mas as dores do crescimento para outro formato serão bem chatas, pelo menos neste primeiro ano de vida do conector Lightning.
Ainda testaremos com muita calma outras novidades do iPhone 5 — já adiantamos que a câmera melhorou consideravelmente, mas queremos fazer mais testes — e do iOS 6 — um sistema que precisa evoluir tanto quanto o hardware do iPhone em suas próximas atualizações. O que podemos dizer desde já é que o iPhone 5 é provavelmente o iPhone mais surpreendente que já vimos. E isso não acontece só por causa da imagem de “falta de inovação” aclamada por muitos. Acontece também porque, oras, o iPhone 5 é um aparelho realmente sensacional.