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Produção de ópio cai 95% no Afeganistão após proibição do Talibã

País era o maior produtor de ópio do mundo; queda pode ser oportunidade contra o mercado ilícito da substância, mas também prejudica população; confira no link

Produção de ópio cai 95% no Afeganistão após proibição do Talibã

O cultivo de papoula despencou aproximadamente 95% neste ano no Afeganistão, país que lidera a produção da planta. Ela é matéria prima para extração do ópio, substância que deprime o sistema nervoso central e é utilizada em medicamentos como a morfina e outras drogas, como a heroína.

De acordo com o Unodc (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), a produção de papoula caiu de 6 mil toneladas em 2022 para 333 toneladas neste ano. A queda aconteceu após o Talibã proibir o cultivo de papoula no país, em abril do ano passado.

Desde então, o grupo fundamentalista islâmico fiscaliza as plantações, obrigando os agricultores a mudarem a cultura de suas terras. No gráfico abaixo, é possível perceber a transição da papoula para o trigo na província de Helmand, que era o principal centro de produção de ópio do Afeganistão.

(Imagem: Alcis/ ESRI/ BBC/ Reprodução)

Ópio, opiáceos e opióides

Da papoula, muitas substâncias podem ser extraídas – entre elas, o ópio. A partir dele é possível produzir a morfina e a codeína, que são bastante conhecidas por serem utilizadas na área médica. De modo geral, elas são conhecidas como opiáceos. 

Quando há uma modificação química no ópio, a substância passa a ser considerada um opiáceo semi-sintético, pois deixa de ser completamente natural. Por exemplo, esse é o caso da heroína, droga ilícita.

Há ainda os opióides, que são substâncias que simulam os efeitos do ópio, mas são totalmente sintéticas. Um dos exemplos mais conhecidos é o fentanil, que é utilizado como analgésico, mas tem efeito 100 vezes mais potente que a morfina e 50 vezes mais que a heroína.

Além de aliviar a dor, os opiáceos e opióides também induzem ao sono. Por isso, em doses maiores que o recomendado terapeuticamente, eles podem deprimir regiões do cérebro que controlam a respiração, os batimentos do coração e a pressão do sangue. 

Dessa forma, podem causar a morte. Por exemplo, o fentanil já é a principal causa de morte entre pessoas com menos de 50 anos nos Estados Unidos, país que enfrenta a crise dos opióides há um tempo.

Agora, uma nova classe dessas substâncias preocupa cientistas e profissionais da saúde do país por serem ilegais e mais potentes que o fentanil.

Portanto, a queda na produção de papoula e, consequentemente, de ópio, representa “uma oportunidade real para avançar em direção a resultados de longo prazo contra o mercado ilícito de ópio e os danos que ele causa local e globalmente”, de acordo com a diretora executiva do Unodc, Ghada Waly.

As consequências para os agricultores afegãos

Como o Afeganistão era o principal produtor de ópio no planeta, a proibição do cultivo de papoula impactou a renda de comunidades rurais do país. Além disso, cerca de 80% da população do país depende da agricultura.

De acordo com a ONU, a receita dos agricultores que vendiam papoula a comerciantes caiu mais de 92%. Agora, grande parte dos produtores agrícolas investiram no plantio de trigo. Embora isso possa aliviar a insegurança alimentar, a planta gera muito menos renda que o ópio.

Por isso, Waly alerta para a necessidade do país investir em meios de subsistência sustentáveis. Como o Afeganistão enfrenta períodos de escassez de água, o ideal seria uma cultura resistente à seca. Apenas assim os agricultores afegãos terão oportunidades longe do ópio.

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