Apenas duas entidades pagaram mais da metade dos anúncios antivacina no Facebook, diz estudo

O Facebook finalmente decidiu se mexer no início deste ano, atender a pressão da opinião pública e tentar fazer alguma coisa em relação o monte de informações erradas sobre vacina que aparecem em seu site. Parece, no entanto, que foi tarde demais: a essa altura, teóricos da conspiração antivacina já tinham explorado as ferramentas da […]
Foto: Getty

O Facebook finalmente decidiu se mexer no início deste ano, atender a pressão da opinião pública e tentar fazer alguma coisa em relação o monte de informações erradas sobre vacina que aparecem em seu site. Parece, no entanto, que foi tarde demais: a essa altura, teóricos da conspiração antivacina já tinham explorado as ferramentas da rede social para espalhar informações imprecisas e nocivas.

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Uma nova pesquisa publicada recentemente na revista Vaccine indica até que ponto apenas um pequeno número de indivíduos foi capaz de realizar os anúncios no Facebook para promover informações erradas sobre vacinas. Usando a ferramenta Ad Archive do Facebook — que a gigante das mídias sociais liberou em outubro de 2018 como uma maneira de buscar anúncios comprados na plataforma — os pesquisadores descobriram que dois principais agentes estiveram por trás de uma onda de publicidade antivacina no Facebook no início deste ano.

Durante o período entre 13 de dezembro e 22 de fevereiro, os pesquisadores extraíram dados de 505 anúncios que incluíam a palavra “vacina”. Em seguida, eles os dividiram em categorias de pró-vacinação ou antivacinação e eliminaram outros anúncios que não eram relevantes. Dos 309 anúncios relevantes que sobraram, 163 eram pró-vacina e 145, antivacina.

Dos 53% que eram pró-vacina, os pesquisadores descobriram que esses anúncios vieram de 83 compradores únicos e com objetivos variados, sejam eles relacionados à filantropia, política ou educação. Por outro lado, os pesquisadores descobriram que 54% dos anúncios antivacina foram pagos por apenas dois compradores: o World Mercury Project e um indivíduo não identificado para o grupo Stop Mandatory Vaccination.

O artigo não mencionou os indivíduos associados a esses grupos, mas, como observou o Guardian, ambos estão conectados a figuras antivacina proeminentes. A Stop Mandatory Vaccination é administrada por Larry Cook. De acordo com o site Daily Beast, ele vem acumulando dezenas de milhares de dólares em doações para financiar sua agenda antivacina. Já o World Mercury Project, é presidido por Robert F. Kennedy Jr. — a própria família de Kennedy o criticou publicamente por suas teorias de conspiração sobre vacinas.

Mark Dredze, professor associado do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Johns Hopkins e principal autor do estudo, disse ao Gizmodo por telefone que uma das coisas que ele achou surpreendente foi que o Facebook “tem uma plataforma que realmente oferece aos anunciantes uma quantidade tremenda de poder para segmentar seus anúncios para pessoas realmente específicas”.

“O que estamos falando aqui é de um grupo que, se tiver sucesso, deixará mais pessoas doentes”, disse Dredze. “Eu sei que não é isso que eles estão tentando fazer. Mas se tiverem sucesso e as pessoas virem esses anúncios, mais pessoas ficarão doentes. E é muito preocupante para mim que você tenha uma plataforma no Facebook tão poderosa [a plataforma de anúncios]. Ela pode ser usada com tanta facilidade por poucas pessoas e com tão pouco dinheiro e mesmo assim ter um impacto enorme.”

O Facebook anunciou em março que começaria a rejeitar anúncios antivacinas na plataforma e desativaria contas de anúncios que abusassem de sua política. Mas é claro que os anti-vaxxers conseguiram explorar essas ferramentas muito antes de o Facebook decidir se mexer e fazer algo a respeito. Respondendo a um pedido de comentário sobre as descobertas do estudo, um porta-voz do Facebook disse ao Gizmodo por e-mail que a empresa aborda informações erradas sobre vacinas em sua plataforma “reduzindo sua distribuição e conectando pessoas a informações de especialistas sobre o assunto”.

“Estabelecemos parceria com organizações líderes de saúde pública, como a Organização Mundial de Saúde, que identificou publicamente informações falsas sobre vacinas. Se esses hoaxes aparecerem no Facebook, tomaremos medidas contra eles, incluindo a rejeição de anúncios”, disse o porta-voz. Ainda assim, Dredze disse que o Facebook deveria fazer mais para resolver o problema em seu site, acrescentando que a empresa precisa “decidir o que vai permitir e o que não vai permitir em um sentido mais amplo”.

“Eles têm sido muito cuidadosos porque não gostam de banir conteúdo. E então eles disseram: OK, bem, vamos proibir essa informação errada sobre vacinas. Isso não está sendo o bastante. Isso não está indo longe o suficiente”, disse Dredze. “Eles deveriam proibir anúncios de grupos que estão promovendo qualquer conteúdo, seja no anúncio ou no link de destino. Eles devem banir esses anúncios da plataforma. Eu acho que essa seria uma medida bastante razoável.”

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