A essa altura, a realidade aumentada tem sido, em sua maior parte, boa demais, ou cheia de artimanhas demais, para ser verdade. Mas um grupo de artistas na internet acabou de dar à tecnologia seu uso mais legal até agora: uma ferramenta para atrelá-la ao homem.
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Na sexta-feira (2), oito artistas lançaram uma galeria em realidade aumentada no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), sobrepondo digitalmente suas obras de arte sobre as do museu. O Motherboard noticia que a instalação “de guerrilha” foi criada e aplicada sem a permissão do museu. “Olá, somos da internet” é um “conceito de galeria não autorizada que visa democratizar espaços de exposição físicos, museus e a curadoria de arte dentro deles”, segundo o MoMAR, que desenvolveu a exibição. “O MoMAR é (um grupo) sem proprietários, que não visa lucros, e existe na ausência de estruturas privatizadas”, afirma o site do grupo.
A galeria da última sexta-feira foi uma tentativa de afirmação contra a exclusividade elitista do museu. “Como com qualquer estabelecimento — seja ele a mídia, a igreja ou o governo —, as galerias mais ricas são canonizadas, ao ponto de que o papel do público e sua contribuição são reduzidos aos de um observador passivo”, escreveu o MoMAR em seu site.
Em virtude da realidade aumentada, a própria galeria esteve invisível a olho nu, exigindo que as pessoas interessadas baixassem um aplicativo e então vissem as obras de arte por meio de suas telas. O Motherboard noticia que os artistas tinham celulares equipados com o app e também estavam instalando o aplicativo nos aparelhos dos visitantes usando um notebook. O app está atualmente disponível na Google Play Store, mas não na App Store da Apple, o que significa que só usuários com telefones Android podem baixar o app em seus dispositivos. Os iPhones que aparecem com as obras de arte no post tiveram uma instalação individualizada do app.
Uma vez que os visitantes tivessem um dispositivo com o app baixado, eles podiam ver as obras de arte em realidade aumentada na sala Jackson Pollock no quinto andar do museu. O MoMAR disse ter escolhido essa sala porque as pinturas de lá são instalações permanentes e porque a sala tem um banco. As obras de arte variavam em tipos, indo de um jogo interativo a GIFs, passando por obras de arte sobrepostas na pintura original.
É interessante ver a realidade aumentada usada como veículo para protestos, considerando sua imperceptibilidade aos transeuntes, a menos que eles tivessem o app instalado e segurassem seus telefones sobre as geolocalizações corretas. Porém, como os criadores disseram em um email ao Gizmodo, “a realidade aumentada pode ser poderosa, porque a proximidade não é mais importante”, acrescentando que a tecnologia “abre uma nova porta para protestos em geral”.
Imagem: MoMAR
Embora as pessoas consumindo a mensagem precisem estar dentro do local, os ativistas, não. Como apontou o Motherboard, maioria dos membros do MoMAR não se conheceram pessoalmente até instantes antes de seu lançamento de galeria na sexta-feira. Isso significa que artistas e ativistas podem criar seu trabalho e distribui-lo em locais da vida real sem ter que estar lá ou, de forma importante, sem vandalizar propriedades públicas ou trabalhos privados. Aliás, o MoMAR liberou o código fonte de seu app para que o público pudesse participar. “Sinta-se livre para fazer o que quiser com ele”, escreveu o MoMAR. “Você nem precisa linkar a gente. Estamos empolgados com o que veremos no futuro.”
Segue incerto se o MoMA tem uma política de criação de obras de arte em realidade aumentada dentro do museu. Entramos em contato com o museu e atualizaremos a publicação se tivermos alguma resposta.
Imagem: MoMAR
O MoMAR contou ao Gizmodo que está trabalhando em uma nova exposição para maio, que “provavelmente será um show solo”, e que planeja continuar a curadoria de apresentações e eventos no museu. Eles também disseram que ainda não receberam contato do MoMA.
Imagem do topo: MoMAR