Quando vamos encontrar o Planeta Nove?

Pesquisadores que sugeriram sua existência expandiram sua equipe e se preparam para observações no final deste ano

A caçada pelo Planeta Nove, um objeto hipotético do tamanho de Netuno além de Plutão, tem agitado a comunidade científica desde o ano passado, quando dois astrônomos da Caltech defenderam a ideia. Esses intrépidos cientistas, Mike Brown, melhor conhecido como o cara que “matou” Plutão, e Konstantin Batygin estão atualmente liderando uma busca por esse gigante escondido. Recentemente, uma rede de cientistas cidadãos seguiu o exemplo. O problema, é claro, é que ainda não o encontramos. Então o que será necessário?

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No ano passado, Brown e Batygin pareciam bem confiantes de que encontraríamos o misterioso objeto alguma hora nos próximos anos. Desde o começo, sua defesa de um novo planeta foi recebida com ceticismo, já que os astrônomos (entre outras pessoas) têm defendido a ideia de um “Planeta X” há anos. Ainda assim, a demonstração dos pesquisadores de que um planeta massivo pode ser responsável pelas órbitas curiosas de seis objetos conhecidos no Cinturão de Kuiper motivou a comunidade científica a levar mais a sério a ideia do Planeta Nove.

“Se você disser ‘nós temos provas do Planeta X’, quase qualquer astrônomo dirá ‘de novo isso? Esses caras são loucos’. Eu diria também”, Brown falou à Science Magazine, em janeiro de 2016, logo após a pesquisa detalhando suas hipóteses ser publicada. “Por que isso é diferente? Isso é diferente porque dessa vez estamos certos.”

Durante o ano passado, Brown e Batgyin expandiram seu time de pesquisa e, atualmente, estão se equipando para observações no final do ano. De acordo com Brown, o “lado errado do céu” é para cima agora, o que quer dizer que a parte do céu onde o Planeta Nove pode estar só é visível durante o dia, o que é bem inconveniente quando você está tentando fazer uma descoberta em ciência planetária.

“O que nós ficamos a maior parte do ano passado fazendo foi tentar uma combinação de modelos em computador e olhar para os objetos reais no sistema solar e realmente descobrir onde ele está”, Brown disse ao Gizmodo. “Temos uma região modestamente precisa de onde procurar. É cerca de 800 graus quadrados de céu, que é uma área bem grande de céu, mas é melhor do que ter que olhar a coisa toda.”

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Imagem: Caltech/R. Hurt (IPAC)

Outra ajuda para os caçadores de planeta é que sua rede de apoio é imensa. Em um novo projeto chamado Backyard World, uma rede de cientistas cidadãos pode olhar através de muitos filmes de “flipbook” feitos de imagens capturadas pela missão Wide-field Infrared Survey Explorer (WISE), da NASA, com a esperança de achar o Planeta Nove, que os astrônomos dizem que deve ser um pouco azulado.

“Estou muito otimista de que vamos conseguir achá-lo logo, já que temos tanta gente procurando por ele”, Brown afirmou. “E fizemos um trabalho muito bom de saber onde procurar.”

“Por que isso é diferente? Isso é diferente porque dessa vez estamos certos.”

Ainda assim, nem todo mundo está confiante de que o Planeta Nove seja encontrado tão cedo ou que sequer exista. Um novo estudo de um time de cientistas na Queen’s University, em Belfast, defende que a descoberta de um pequeno planeta chamado 2013 SY99, que em sua trajetória mais próxima está a 50 unidades astronômicas de distância (uma unidade astronômica é a distância da Terra ao Sol), pode tirar nossas esperanças de descobrir esse planeta. Depois de fazer modelos de computador do sistema solar, os pesquisadores concluíram que, se o Planeta Nove existisse de fato, ele provavelmente teria alterado a órbita do SY99 tanto que nós não conseguiríamos vê-lo.

“Modelos de computador de fato mostram que o Planeta Nove pode ser um vizinho hostil a planetas pequenos como o SY99: sua influência gravitacional mudaria drasticamente sua órbita, jogando-o para longe do sistema solar completamente, ou alterando sua órbita tanto que nem conseguiríamos enxergá-lo”, Michele Bannister, autora do estudo, escreveu no site The Conversation. “O SY99 teria de ser um de um enorme conjunto de pequenos mundos, continuamente sugados e arremessados para fora pelo planeta.”

Bannister disse ao Gizmodo que, embora as descobertas do time não tenham desacreditado completamente a ideia do Planeta Nove, ele deixa a legitimidade desse mundo hipotético abalada.

“O Planeta Nove é uma ideia divertida, é empolgante, mas está levando um pouco de crédito demais no momento”, ela falou ao Gizmodo. “Nós temos esse problema interessante… então essa solução radiante aparece na hora e é chamada Planeta Nove.”

Brown, por sua vez, leu a pesquisa de Bannister e disse que ele e Batgyin haviam previsto que astrônomos encontrassem objetos iguais ao SY99. Ele disse que descobrir esses objetos na verdade ajuda a ideia de que o Planeta Nove está por aí.

“Sinceramente, se eu pudesse controlar o futuro, eu gostaria que um desses projetos de cientistas cidadãos encontrasse o Planeta Nove.”

“A razão inicial de acreditarmos inicialmente que o Planeta Nove existia, e existem muito mais motivos agora, é que os objetos mais distantes do Cinturão de Kuiper estavam nessas órbitas excêntricas que apontam todas na mesma direção”, ele disse ao Gizmodo. “Uma das coisas que dissemos quando anunciamos isso um ano atrás era que ‘nós prevemos que, conforme continuemos a encontrar mais e mais objetos distantes do Cinturão de Kuiper, eles também sejam empurrados nessa direção’. Então estivemos esperando pela chegada dessas descobertas, e essa está exatamente onde foi prevista.”

É tão raro que existam discussões planetárias tão deliciosas quanto essas sobre o Planeta Nove. Mas, sério, se esse planeta está por aí, é apenas questão de tempo até alguém encontrá-lo. Brown espera que seja um dos cientistas cidadãos.

“Eu os amo”, ele disse. “Sinceramente, se eu pudesse controlar o futuro, eu gostaria que um desses projetos de cientistas cidadãos encontrasse o Planeta Nove. Seria divertido eu mesmo encontrá-lo… Mas seria legal se conseguíssemos encontrar novas formas de encontrar essas coisas, como usar o poder dos cientistas cidadãos e da análise de dados. Eu adoraria essa história.”

Imagem do topo: Caltech/R. Hurt

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