Racismo ambiental tem mais de 600 ocorrências no Brasil; veja neste mapa
O Brasil registra pelo menos 625 conflitos relacionados à discriminação de populações e minorias étnicas pela degradação do meio ambiente – o que é conhecido como racismo ambiental. O número está no Mapa dos Conflitos, da Fiocruz.
Benjamin Franklin Chavis Jr., ativista norte-americano que foi assessor de Martin Luther King Jr., usou o termo pela primeira vez em 1982 ao dizer que os impactos ambientais não são distribuídos de forma homogênea por toda a população.
Segundo Chavis Jr., pessoas mais vulneráveis e excluídas socioeconomicamente têm mais chance de sofrerem com a poluição, desastres climáticos, descarte de resíduos tóxicos e exposição a ambientes insalubres, por exemplo.
Onde estão os conflitos ambientais no Brasil
Em termos gerais, o mapa mostra mais conflitos na região Sudeste: são 189, sendo 111 só na região Rio-SP. Em seguida está a região nordeste, com 146 disputas. Pelo menos 75 se concentram nos estados de Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
A região sul vem depois, com 39 ocorrências no Rio Grande do Sul e Santa Catarina e 34 no Paraná. O litoral da Bahia e norte de Minas Gerais também apresentam vários núcleos conflitantes – 28 e 31, respectivamente. Só o Maranhão reúne 33 ocorrências. Veja o mapa (atualizado em 17 de maio de 2023):
Os conflitos por monoculturas são os mais comuns, com 180 ocorrências. Há, ainda, fortes disputas por mineração/garimpo (124), barragens (109) e pecuária (88) e outras causas com menor incidência.
“Não é coincidência que esses bolsões de gente vulnerabilizada, que acaba sendo vitimada por esse processo de degradação, acabam sendo as pessoas não apenas vulnerabilizadas e empobrecidas, mas as pessoas negras”, disse Marcos Bernardino de Carvalho, Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, ao Jornal da USP.
Racismo ambiental no Brasil
O conceito é certeiro – especialmente no Brasil. Enquanto áreas mais ricas do país têm acesso à saúde e saneamento básico facilitado, existem milhares de áreas periféricas desatendidas pelos serviços públicos.
O mais comum é que as comunidades marginalizadas sejam formadas por minorias étnicas e sem representatividade nos cargos mais altos dos poderes políticos e econômicos.
Um levantamento da NetZero mostrou que dois episódios emblemáticos na história recente do Brasil, os rompimentos das barragens em Mariana e Brumadinho (MG), comprovam a existência do racismo ambiental.
Em 2015, 84,5% das vítimas imediatas do rompimento da barragem da Samarco em Mariana (na imagem) eram negras. Além disso, o povo indígena krenak teve toda a subsistência comprometida pela poluição do Rio Doce depois do incidente.
Quatro anos depois, quando a barragem da Vale rompeu em Brumadinho, 58,8% dos mortos não se declaravam como brancos e tinham renda média abaixo de dois salários mínimos. O mesmo ocorre com 70,3% dos desaparecidos.