Quais são os riscos das raquetes elétricas que não são regulamentadas no Brasil?

Boa parte desses equipamentos fritadores de inseto não são regulados pelo Inmetro. Muitos deles são como uma caixa-preta.

Basta as temperaturas aumentarem e as ruas ficam cheias de ambulantes vendendo as raquetes elétricas. Boa parte desses equipamentos fritadores de inseto não são regulados pelo Inmetro e, como não há uma regra para fabricação – muitos vêm diretamente da China – eles são como uma caixa-preta.

Segundo a página do Inmetro, há pelo menos 19 modelos certificados pelo órgão. Todos eles têm em comum o fato de terem algum suporte para carregar na tomada. Modelos que só funcionam a pilha não têm certificação.

Baseado nisso tudo, fica a pergunta: tem algum risco usar essas raquetes? A resposta é ambígua. Não há casos graves registrados, mas ao mesmo tempo ninguém coloca totalmente a mão no fogo por elas, sobretudo as de procedência duvidosa.

Como funciona?

Não tem muito segredo sobre o funcionamento do produto. A raquete, basicamente, gera uma alta tensão elétrica entre as grades metálicas. “Quando algum objeto ou inseto tenta passar por essas grades, ocorre uma descarga elétrica que fecha o circuito”, explica Francisco da Costa Saraiva Filho, professor de engenharia elétrica da FEI, ao Gizmodo Brasil.

A raquete elétrica ainda é composta por uma bateria e um sistema que converte a energia da bateria em alta tensão. Segundo o professor Saraiva, geralmente a raquete libera alguns quilovolts no inseto (ele chuta entre 2 KV e 3 KV pelas raquetes que já desmontou), o que faz subir aquele cheiro de queimado.

Tem riscos?

Questionado sobre os riscos do contato com a raquete, o professor disse que a descarga despejada no objeto é muito rápida, e que dificilmente causaria um dano grave em uma pessoa que toca a tela metálica energizada. No máximo, um choque leve. Porém, ressalta, não dá para precisar a tensão, pois há muitos modelos sem procedência comprovada. Pode ser que uma raquete funcione em uma tensão X, enquanto outra funcione em uma Y que seja prejudicial.

O cardiologista Silas Galvão, da ABEC (Associação Brasileira de Arritmia, Eletrofisiologia e Estimulação Cardíaca Artificial), tem opinião semelhante. “Recomendo aos meus pacientes que não usem. Fica difícil mensurar os riscos, pois não há um controle de qualidade e nem sabemos ao certo o quanto de energia é aplicada aos objetos que entram em contato com a grade”, diz.

Apesar disso, o médico disse que já usou a raquete e que não teve problemas. “Até tenho uma dessas e ela funciona bem. Mas não posso afirmar seguramente os tipos de danos que podem causar.”

Mesmo buscando na internet, onde as pessoas quase não reclamam, não há registros de problemas graves com raquete elétrica. No máximo, tem uns doidos que urinam nela e outros que a colocam na língua – algo que, obviamente, parece doer bastante.

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O Inmetro é categórico sobre as raquetes que não são certificadas. Em comunicado, o órgão recomenda que os pais mantenham o aparelho longe das crianças e informa que quaisquer problemas com esses produtos estão sujeitos às regras do Código de Defesa do Consumidor.

Dentre os artigos do CDC, vale destacar aquele que diz que é proibido ao fornecedor disponibilizar no mercado de consumo um produto que ele, antecipadamente, sabe que oferece algum risco e que esse risco não seja, de alguma forma, comunicado ao consumidor. Se ele disponibilizar o produto no mercado e depois descobrir que o produto oferece risco, imediatamente deve dar ampla publicidade ao fato e realizar o recall.

Dessa maneira, qualquer medida contra um produto não-regulamentado, como no caso dele provocar um acidente de consumo, por exemplo, deve ser tratada pelos órgãos que compõem o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, que é coordenado pela Secretaria Nacional do Consumidor, do Ministério da Justiça, e que conta com os Procons, Delegacias do Consumidor, Ministério Público, Defensorias Públicas, entre outros.

Os riscos das raquetes elétricas ainda são desconhecidos, e não há nenhuma regulamentação para a tensão elétrica que elas despejam. Porém, ao mesmo tempo, não há reclamações de problemas sérios de saúde ligados a ela.

Ou seja, parece que você poderá torrar aquele pernilongo que estava enchendo sua paciência durante o sono – isso não tem preço. Eu prefiro evitar a fadiga e não ficar encostando na parte eletrificada.

Atualização: uma versão anterior deste post dizia que nenhuma raquete elétrica tinha certificação do Inmetro. A informação tinha sido apurada com o próprio órgão. Após a publicação, muitos de vocês, leitores do Gizmodo Brasil, apontaram que havia raquetes certificadas. Questionamos o instituto, que reconheceu que houve um mal entendido. Fizemos alterações no título e no conteúdo do post.

Esta é a retratação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia:

“Há dois tipos de exterminador elétrico de inseto, tipo raquete, no mercado: um que funciona somente a pilha e outro que pode funcionar com pilha e também que pode ser carregado na eletricidade. Apenas o segundo é passível de regulamentação e certificação.

Lamentamos ter causado qualquer transtorno aos leitores, pois nos atemos ao produto de pilha, que é o mais comum no mercado e não é regulamentado.”

Foto: Ross West/Flickr. Atualizado em 30/10.

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