O ambicioso plano de reconstruir o genoma de Leonardo da Vinci

O Leonardo Project reúne geneticistas, genealogistas, arqueólogos e historiadores de arte da Itália, Espanha, França, EUA e outros países.

Uma equipe internacional de estudiosos lançou planos para reconstruir o código genético de Leonardo da Vinci, o homem que nos deu a Mona Lisa e imaginou tecnologias futuristas – como helicópteros e tanques – há 500 anos.

O “Leonardo Project” reúne geneticistas, genealogistas, arqueólogos e historiadores de arte da Itália, Espanha, França, EUA e outros países. “Este é um fabuloso projeto interdisciplinar”, diz Rhonda Roby, geneticista do Craig Venter Institute na Califórnia, que vai contribuir com a sua experiência em reconstrução genômica.

Ao examinar de tudo – incluindo pinturas, cadernos e o DNA de parentes vivos – a equipe espera obter novos insights sobre a vida, dieta, aparência física e predisposições genéticas do renascentista. Se tiverem muita sorte, os pesquisadores talvez consigam reconstruir boa parte ou todo o genoma dele.

A equipe pretende completar o Leonardo Project em apenas três anos, finalizando no 500º aniversário da morte do artista e inventor. Um roteiro do projeto foi publicado na revista Human Evolution.

Recuperando o DNA

virgem das rochasHá dez anos, a ideia de obter até mesmo um pedaço de DNA de um homem do Renascimento soaria absurda. Mas, desde então, grandes avanços na genômica permitiram reconstruir o genoma de mamutes e do homem de Neandertal a partir de fragmentos de material antigo. Enquanto isso, cientistas forenses vêm adaptando essas ferramentas para recuperar traços de DNA a partir do cabelo, gotas de sangue, saliva e até mesmo de impressões digitais.

“Cada vez mais técnicas estão sendo desenvolvidas para recuperar o DNA de pessoas que tocaram em determinados objetos”, diz Roby, citando os inúmeros cadernos de da Vinci como possível fonte de material para impressões genéticas do inventor. “Eu também acho que há uma possibilidade de material biológico dentro de pinturas”, acrescentou. “O desafio seria retirar o material sem danificar a obra de arte.”

O projeto também vai identificar e estudar descendentes vivos de da Vinci. Alessandro Vezzosi, diretor do Museo Ideale Leonardo da Vinci, já realizou uma extensa reconstrução da linhagem paterna, e os esforços complementares para rastrear a linhagem da mãe dele já estão em andamento.

Como Roy explica, esses dois lados da árvore genealógica podem fornecer informações diferentes. Como os filhos sempre herdam o cromossomo Y do pai, a linhagem paterna poderia nos levar a homens que têm uma réplica exata do Y de da Vinci (ou algo próximo, pois algumas mutações podem surgir após mais de 25 gerações).

Enquanto isso, o DNA mitocondrial é transmitido pela mãe. Então, traçando sua linhagem materna, podemos descobrir descendentes que compartilham esta parte da sua herança. O DNA de parentes modernos poderia então ser comparado com amostras antigas, a fim de verificar sua identidade.

Por quê?

Existem inúmeras formas em que o DNA de da Vinci pode lançar luz sobre a vida dele. Os cientistas esperam aprender mais sobre a cor dos olhos, cor do cabelo, peso, altura, predisposição para doenças, e até mesmo a famosa acuidade visual do inventor.

“Certamente existem indivíduos com sentidos excepcionais – visão e audição excepcionais, por exemplo”, disse Jesse Ausubel, diretor do Programa para o Meio Ambiente Humano da Universidade Rockefeller e patrocinador de reuniões do Leonardo Project, durante uma conferência à imprensa. “Eu acho que essas qualidades estão entre os atributos genéticos nos quais todos nós temos interesse.”

Outro objetivo é identificar e estudar os restos mortais de da Vinci. Acredita-se que ele está enterrado na capela de Saint-Hubert no Castelo de Amboise, França, mas a localização exata da sepultura é desconhecida. “Mesmo que tivéssemos ossos daquele túmulo, seria necessário verificar a identidade dele, analisando os ossos do pai, e talvez o DNA em algumas de suas obras de arte”, disse Ausubel. “Não existe uma única fonte suficiente de evidências.”

Desafios

O projeto tem uma longa lista de parceiros acadêmicos, mas seus objetivos dependem da cooperação de governos, museus privados e indivíduos. Bill Gates, por exemplo, é dono do famoso Codex Leicester, uma coleção original de escritos científicos de da Vinci. Os cientistas forenses terão que pedir ao bilionário para que empreste seu livro de US$ 30 milhões a fim de obter impressões digitais.

Além disso, geneticistas terão que convencer os parentes vivos a participar de estudos de DNA que podem revelar informações confidenciais. E o projeto terá de persuadir o governo francês a conceder acesso à capela histórica de Saint-Hubert.

Tudo isso parece bem audacioso, mas Ausubel e seus colegas estão esperançosos de que o público vai reconhecer o enorme potencial científico e cultural desses esforços. Além de lançar luz sobre a vida de da Vinci, o projeto também pode servir como um campo de testes para novas tecnologias que poderiam ser aplicadas a diversas figuras históricas famosas.

“No geral, sentimos que esta é uma fronteira emocionante”, disse Ausubel. “Esperamos que o progresso que fizermos seja útil para museus em todo o mundo.”

“O próprio Leonardo é uma pessoa que adorava quebra-cabeças”, acrescentou. “Ele amava criptologia. Eu acho que parte da emoção e diversão deste projeto é este ser o tipo de desafio que ele próprio teria inventado.”

Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci; e Virgem das Rochas, National Gallery, Londres. Imagens via Wikimedia

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