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Reino Unido considera infectar voluntários de propósito para testar vacinas contra COVID-19

Para comprovar a eficácia das várias vacinas em testes contra o novo coronavírus, o Reino Unido pode adotar medidas extremas e perigosas.

Reino Unido quer infectar cidadãos de propósito para testar vacinas do COVID-19. Crédito: Jack Taylor (Getty Images)

Crédito: Jack Taylor/Getty Images

O Reino Unido está considerando uma abordagem controversa para testar vacinas contra o novo coronavírus: expor intencionalmente voluntários ao vírus, em uma estratégia conhecida como “testes de desafio”.

Na semana passada, o Financial Times relatou que o governo britânico vai permitir que os testes de desafio em seres humanos comecem em janeiro de 2021. Nesses testes, os voluntários receberiam uma vacina experimental e, posteriormente, seriam expostos ao coronavírus em um ambiente controlado. Para defensores da técnica, isso vai acelerar o desenvolvimento das vacinas contra COVID-19, embora outros especialistas se preocupem com os riscos potenciais à saúde dos voluntários.

Neste ponto, o status desses testes ainda parece estar em mudança. Um porta-voz do Departamento de Negócios, Estratégia Empresarial e Industrial do Reino Unido disse em uma declaração ao Gizmodo: “Estamos trabalhando com parceiros para entender como podemos colaborar no desenvolvimento potencial de uma vacina para COVID-19, por meio de estudos de desafio humano”.

Na quinta-feira passada (24), a empresa farmacêutica Open Orphan, que estará envolvida na execução desses testes, afirmou que estava em “negociações avançadas” com o governo do Reino Unido e outros parceiros para iniciar os experimentos. Contudo, destacou que “não pode haver certeza que essas discussões levarão a um novo contrato até que as negociações finais sejam concluídas”.

De acordo com o Financial Times, os testes de desafio seriam realizados em uma instalação usada para quarentena no leste de Londres. Ainda está incerto quantas pessoas são esperadas para se voluntariar ou quantas vacinas serão testadas, mas empresas farmacêuticas, como a Sanofi e AstraZeneca, já disseram que não estarão envolvidas.

Testes de desafio não são uma coisa nova na medicina. A princípio, eles ajudam a acelerar a pesquisa de doenças infecciosas, como é o caso do novo coronavírus. Em vez de esperar potencialmente meses ou mais para que as pessoas que receberam uma vacina experimental fiquem naturalmente expostas ao germe-alvo, você pode, por exemplo, apenas estudar como eles respondem desde o início. Isso poderia acelerar os testes em humanos e também fornecer uma visão crucial da história natural de uma doença, tanto em como ela adoece alguém quanto em como o corpo reage, já que os médicos estariam lá para monitorar a pessoa desde o início de sua infecção.

Apesar de os testes de desafio terem sido usados ​​no passado para testar algumas das primeiras vacinas e medicamentos já desenvolvidos, o desenho desses testes seria considerado antiético e perigoso pelos padrões atuais. Nos tempos modernos, eles têm sido usados ​​para estudar doenças como gripe, tuberculose e dengue, inclusive para testar vacinas em potencial.

O problema é que pode ser difícil desenvolver testes desafiadores que não coloquem as pessoas em um grande risco. Os testes de desafio tendem a funcionar com doenças conhecidas que são tratáveis ​​com medicamentos existentes, ou que possuam sintomas mais brandos – drogas esteróides podem ajudar a salvar os casos mais graves, mas seus benefícios não são tão expressivos assim. Mas nenhuma das opções é realmente viável para o COVID-19, que já atingiu 1 milhão de mortes registradas em todo o mundo.

Em vez disso, os defensores de um teste de desafio para COVID-19 – mais proeminentemente liderado pela organização 1DaySooner – propuseram apenas o uso de voluntários adultos jovens e saudáveis, argumentando que eles enfrentam o menor risco de doença viral. Embora seja verdade que pessoas mais jovens têm muito menos probabilidade de morrer por coronavírus, os críticos notaram que ainda não temos uma compreensão sólida das complicações potenciais de longo prazo de casos mais leves de COVID-19.

Outra consideração é que os testes de vacinas são geralmente usados ​​para doenças difíceis de rastrear em tempo real ou que podem não ser comuns em um ambiente natural. No entanto, em países como Estados Unidos e Brasil, o coronavírus ainda é muito prevalente, então provavelmente não será difícil para as pessoas ficarem expostas a ele. No Reino Unido, os novos casos relatados diariamente foram muito baixos durante o verão, mas parece que uma segunda onda está começando por lá e em toda a Europa. Quem sabe como as coisas ficarão em janeiro do ano que vem?

Em todo o caso, os testes de vacinas (sejam de desafio ou não) serão examinados para aprovação pelas autoridades regulatórias do Reino Unido. É provável que os testes de desafio sejam especialmente analisados por questões de segurança, tanto localmente quanto por órgãos a nível global, como a Organização Mundial da Saúde.

E parece que voluntário é o que o não vai faltar. Segundo o Financial Times, pelo menos duas mil pessoas no Reino Unido se comprometeram a se voluntariar para um teste de desafio por meio da 1DaySooner. Então há quem queira correr riscos em prol de uma possível vacina eficaz.

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