Remédios para emagrecer podem fazer com que mosquitos tenham menos apetite pelo seu sangue
Perder peso é, sem dúvida, difícil. Tão difícil, aliás, que os cientistas têm tentado criar medicamentos que nos induzem a nos sentirmos saciados e inibem o nosso apetite. Mas essas drogas podem simplesmente não funcionar nas pessoas. É isso o que sugerem os autores de um novo estudo publicado na última quinta-feira (7), no periódico Cell. Eles descobriram, por outro lado, que algumas dessas mesmas drogas poderiam também ser usadas para evitar que os mosquitos se alimentem do nosso sangue e espalhem doenças como malária, dengue e vírus Zika.
A autora do estudo, Leslie B. Vosshall, e sua equipe da Universidade Rockefeller, de Nova York, criaram o que ela admite abertamente ser uma teoria não convencional.
“O campo sabe há muito tempo que, depois que os mosquitos fazem uma enorme refeição de sangue, eles perdem o apetite por humanos por até quatro dias. E ficamos realmente fascinados em descobrir como isso acontece e em saber se poderíamos encontrar alguma maneira de fazer isso artificialmente”, disse Vosshall ao Gizmodo.
A equipe teorizou que, como a fome é uma parte fundamental da vida, evolutivamente falando, os remédios para emagrecer existentes que afetam certas vias moleculares no corpo humano poderiam ter efeitos semelhantes nos mosquitos — especialmente nos mosquitos fêmeas que de fato se alimentam do nosso sangue.
“É uma ideia completamente maluca. Mas foi apenas uma espécie de salto de confiança”, afirmou a autora.
Eles visaram um caminho relacionado ao neuropeptídeo Y (NPY), uma proteína que tem sido estudada de perto por seu papel provável no ganho de peso e na obesidade nas pessoas. Embora ainda não saibamos exatamente como, os cientistas acreditam que o NPY ajuda a regular a nossa sensação de saciedade e outros comportamentos alimentares. Para testar sua teoria, os investigadores alimentaram mosquitos Aedes aegypti (uma espécie capaz de espalhar muitas doenças transmissíveis e o vírus Zika) com drogas humanas experimentais que têm como alvo um receptor específico de NPY em pessoas, chamado Y2.
Os pesquisadores suspeitavam que as drogas, que se ligam aos receptores de NPY humanos para diminuir ou aumentar o apetite, teriam um efeito semelhante nos receptores parecidos com o NPY encontrados em mosquitos.
Como esperado, os mosquitos que estavam consumindo os medicamentos já não queriam mais procurar por novos hospedeiros durante alguns dias, semelhante ao que acontece depois que eles têm uma refeição de sangue. Após mais estudos, os pesquisadores descobriram que essas drogas estavam provavelmente afetando um receptor único parecido com o de NPY chamado de NPYLR7 nos mosquitos. Para ter certeza, eles criaram mosquitos sem o receptor NPYLR7 funcionando e os alimentaram com as drogas novamente; dessa vez, a perda de apetite foi muito menos aparente.
“Quem afirma que sua tecnologia vai erradicar os mosquitos, saiba que não vai funcionar assim. A natureza é muito inteligente.”
Por mais importantes que tenham sido os experimentos com as drogas humanas, Vosshall disse que eles eram apenas o começo.
“O objetivo era encontrar drogas que não funcionassem nas pessoas. Para que, se nós dosássemos mosquitos com drogas que funcionassem, isso não afetasse acidentalmente as pessoas. Se, por exemplo, alguém fosse até um local de alimentação e bebesse a droga”, explicou Vosshall.
Em seguida, a equipe examinou centenas de milhares de moléculas que poderiam interagir com o NPYLR7, mas com nenhum outro receptor humano ou de mosquito, por fim se fixando em um composto. Este composto, como nos experimentos anteriores, pareceu capaz de suprimir a vontade dos mosquitos de picarem e se alimentar (isso também não funcionou nos mosquitos sem NPYLR7, como antes).
“Encontramos uma droga individual, e um gene individual, no mosquito que, se você ativar a proteína que vem desse gene, pode desligar seu apetite por dois ou três dias”, disse Vosshall. “Isso é muito importante, porque, nesses dois ou três dias, no campo, você reduziria o número de pessoas infectadas com Zika, dengue, chikungunya, todas essas doenças horríveis.”
Essa equipe não é a única que está tentando desenvolver novas formas de combater doenças transmitidas por mosquitos sem o uso de pesticidas. Cientistas de outros lugares estão desenvolvendo métodos mais agressivos, que jogam mosquitos machos esterilizados na natureza, efetivamente condenando uma população local à extinção. Porém, o método de Vosshall, se refinado, teria menos probabilidade de perturbar ecossistemas inteiros — possivelmente aliviando uma preocupação fundamental que alguns cientistas têm sobre o plano de esterilização. O método da dieta também poderia ser usado junto com outras técnicas de controle de mosquitos para aumentar sua taxa de sucesso combinada.
“Nenhuma abordagem isolada já funcionou ou irá funcionar por si só. Portanto, vemos nossa ideia como um método de controle comportamental que pode se integrar com outras ideias por aí, sejam elas inseticidas ou mosquitos transgênicos”, disse Vosshall. “Mas para quem afirma que sua tecnologia vai erradicar os mosquitos — não vai funcionar assim. A natureza é inteligente demais.”
O próximo passo para a equipe de Vosshall é conduzir pesquisas mais básicas que, com sorte, descobrirão os mecanismos exatos por meio dos quais esses medicamentos estão suprimindo o apetite dos mosquitos, estejam eles afetando os cérebros dos insetos, seu senso de fome, sua capacidade de cheirar humanos ou outra coisa. Pesquisas futuras também precisarão encontrar mais substâncias químicas potentes capazes de reprimir o apetite dos mosquitos por períodos maiores. E os pesquisadores precisarão descobrir a melhor maneira de levar essas possíveis drogas aos mosquitos na natureza.
[Cell]