Especialistas fizeram reunião secreta sobre criar genoma humano a partir do zero

Isso levanta a perspectiva de seres humanos feitos sob medida, ou mesmo quase-humanos sem pais. É um assunto polêmico, que exige uma discussão séria.

Mais de uma centena de cientistas, advogados e empresários se reuniram recentemente para discutir a possibilidade de criar um genoma humano sintético. Jornalistas não foram convidados, e os participantes foram orientados a não comentar o assunto.

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A ideia de criar um genoma humano sintético é diferente da edição genética. Em vez de cientistas mexerem em um gene aqui e acolá, eles usariam produtos químicos para fabricar todo o DNA contido nos cromossomos humanos.

A genômica sintética, ao contrário de modificações genéticas, não utiliza genes que ocorrem naturalmente. Em vez disso, ela se baseia em uma série de pares de bases com design personalizado. Isso abre a porta para uma maior gama de possibilidades, já que os geneticistas não ficariam limitados pelos dois pares de bases produzidos pela natureza.

Atualmente, os cientistas veem a genômica sintética como uma maneira de criar novos micróbios e animais, mas o mesmo princípio se aplica a seres humanos. Isso levanta a perspectiva de seres humanos feitos sob medida, ou mesmo quase-humanos sem pais. É um assunto polêmico, que exige uma discussão séria. Mas, por algum motivo, este empreendimento futurista começou em segredo.

Genoma humano sintético em 10 anos?

Segundo o New York Times, a perspectiva de genomas humanos sintéticos foi discutida em uma reunião secreta na Harvard Medical School na última terça-feira. Os presentes receberam a instrução de “não entrar em contato com a mídia nem tuitar sobre a reunião.”

Como indica o NYT, o nome original do projeto era “HGP2: O Projeto de Síntese do Genoma Humano”. Um convite para a reunião afirmava claramente que o principal objetivo seria “sintetizar um genoma humano completo em uma linhagem de células dentro de um período de dez anos”.

Depois, os organizadores mudaram o nome da reunião para “HGP-Write: testando grandes genomas sintéticos em células”. A razão para a mudança, eles disseram, era que o nome original queria chamar a atenção da mídia. É algo meio estranho, dado que a reunião estava fechada para a imprensa.

De acordo com George Church, professor de genética na Harvard Medical School e um dos principais organizadores do projeto, tudo é um lamentável mal-entendido. Church diz que a reunião não era realmente sobre genomas humanos sintéticos.

O assunto, aparentemente, eram os esforços para melhorar a capacidade de sintetizar longas cadeias de DNA, que os geneticistas poderiam usar para criar todo tipo de animais, plantas e micróbios. Church disse ao New York Times: “eles estão pintando um quadro que eu não acho que representa o projeto. Se esse fosse o projeto, eu estaria fugindo dele.”

Quanto ao porquê de a reunião ser realizada a portas fechadas, Church diz que é porque sua equipe apresentou um estudo para ser publicado em uma revista científica, e não deveria discutir a ideia publicamente antes.

Novamente, uma desculpa muito estranha; por que realizar uma reunião sobre um tema tão importante antes de o estudo ser aprovado? A imprensa muitas vezes é convidada a ler estudos antes de serem publicados sob o sistema de embargo. Os jornalistas já têm o hábito de manter silêncio como uma questão de protocolo e ética jornalística.

Polêmica

Criar um genoma humano completo dentro de dez anos seria algo bastante ambicioso. O último esforço nesse sentido foi do grupo de Craig Venter, que sintetizou uma célula bacteriana simples. Mas criar uma célula humana artificial, bem, isso é consideravelmente mais complexo.

O cronograma de dez anos parece pouco realista, mas pelo menos vai nos proporcionar muito tempo para refletir sobre essa perspectiva extremamente importante.

Na verdade, este tema está definitivamente longe de ser resolvido. Eis um trecho de um ensaio da Cosmos Magazine sobre a ética de sintetizar um genoma humano:

Em um mundo onde a reprodução humana já se tornou um mercado competitivo – com óvulos, esperma e os embriões portando um preço – é fácil imaginar usos muito mais estranhos para a síntese do genoma humano.

Seria OK, por exemplo, sequenciar e então sintetizar o genoma de Einstein? Se sim, quantos genomas de Einstein devem ser feitos e instalados em células, e quem poderia fazê-los?

Dando um passo para trás, só porque algo se torna possível, como devemos determinar se é ético prosseguir com isso?

Dado que a síntese do genoma humano é uma tecnologia que pode redefinir completamente a essência do que agora une toda a humanidade como uma espécie, nós argumentamos que as discussões de tornar reais estas capacidades, como a conferência de Harvard, não devem acontecer sem consideração aberta e antecipada de saber se é moralmente certo prosseguir.

[New York Times, Cosmos Magazine]

Foto: a replicante Pris do filme Blade Runner, o Caçador de Androides

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