[Review] Huawei Honor: no quesito bateria, nota 10
Hua-o quê? Essa foi uma reação bastante comum a todos que mostrei o Honor, smartphone com Android da Huawei que há pouco chegou ao Brasil. Um Android mid-range, com tela grande, especificações bacanas e preço competitivo (R$999), ele surge com a promessa de uma super bateria e desempenho além do que se esperaria nessa faixa de preço. Consegue?
Hardware
O Honor tem um desenho bem discreto e comum. É um monolito negro sem muitas firulas, com a fileira tradicional de botões (táteis) à frente, botões de volume na lateral esquerda e o liga/desliga no topo e só. No topo também fica a saída de áudio (3,5mm); na parte inferior, microfone, plug micro USB e um vácuo na tampa para facilitar a remoção.
A tampa e as laterais são de um plástico bem simples, pior do que o que se vê normalmente nos modelos da Samsung, que também curte essa solução. Nunca tive muito problema com isso, na real acho até interessante o uso de materiais mais resistentes pensando na longevidade do aparelho, mas no Honor a qualidade é realmente mais baixa do que a média. Mais duro, menos flexível e, na junção da tampa com o aparelho em si, sobra uma espécie de “rebarba” bastante perceptível que passa uma impressão bem ruim. A textura da tampa também é de mau gosto e o excesso de “relevos” (características da câmera, logo da Huawei e “with Google”) não ajuda em nada — lembra a camisa do Corinthians no ano passado, sabe? E assim como os torcedores também adoram quando seus times ficam sem patrocínio e a camisa fica “limpa”, preferimos um visual assim também em smartphones.
A câmera tem 8 MP e flash de LED simples. Ao seu lado, aparece o alto-falante. Na frente, ele ainda tem sensor de proximidade, câmera secundária e, no canto superior direito, um LED multicolorido que avisa sobre o nível da bateria e outras notificações do sistema.
A tela é uma das partes mais estranhas do Honor. Desligada e colocada contra uma luz, é possível perceber diversas “linhas pontilhadas” verticais meio inexplicáveis (trata-se de um LCD TFT normal, afinal) que, felizmente, somem quando a tela se acende.
Com 4″ e resolução de 480×854, é bastante razoável. Os ângulos de visão não são dos melhores e ela sofre daquele mal cada vez mais comum de “amarelamento”, mas isso só quando posta lado a lado com telas de qualidade superior. No dia-a-dia, dá conta do recado e não incomoda.
Infelizmente, porém, a tela não parece ser das mais resistentes. Com poucos dias de uso e tomando o maior cuidado do mundo com o aparelho (leia-se sem misturá-lo com chaves e outros objetos no bolso, nem deixá-lo cair), apareceu um pequeno riscado logo acima dos botões. Não precisava ser um Gorilla Glass, tudo bem, mas tamanha fragilidade assusta quem pretende ficar com um por bastante tempo.
Na hora de falar (é para isso que servem, também, celulares), nenhuma reclamação. O áudio é claro e alto, tanto no fone quanto no alto-falante. Só não espere graves bacanas ou um fone de ouvido decente para escutar música: nesses dois aspectos o Honor é low-end e não faz questão de esconder.
Câmera
A câmera traseira do Honor tem resolução máxima de 8 MP, flash de LED simples e um recurso pouco usual: modo HDR. Não fez muita diferença na prática, mas talvez tenha sido as situações em que o utilizei… Enfim. A interface do viewfinder é a padrão do Gingerbread, com seus ícones pequenos e quase invisíveis, do tipo que demora um tempo para que o usuário os note ali. As opções são: flash, ajuste de exposição, HDR, geolocalização e alternância entre as câmeras. Outras avançadas comumente encontradas, como balanço de branco, ISO e modo macro estão ausentes…
Na hora de fotografar, os resultados seguem a antiga regra das câmeras de celular: imagens aceitáveis com muita luz, medíocres em ambientes fechados. Mas neste caso, mesmo as fotos tiradas com o auxílio do Sol saíram um pouco ruins, com bastante ruído em sombras e algumas distorções de cores esquisitas. Em ambientes fechados, o flash estoura facilmente e dá uma tonalidade amarela bastante forte. Ou seja, é aquilo que você encontrava em smarpthones de 2010, 2011 — aparelhos novos, como o One X, o Xperia S, o iPhone 4S, o S III e outros já trazem resultados muito melhores. O foco é automático e relativamente rápido, mas não existe a opção “touch to focus”, logo, você precisa confiar na esperteza do software para focalizar o elemento desejado na composição.
Neste álbum estão algumas fotos tiradas com o Honor em diversas situações, todas sem tratamento algum.
Na hora de filmar, não há estabilização de imagem e a qualidade também fica um pouco a desejar.
Seria injusto comparar a câmera do Honor com iPhone 4/4S, Galaxy S II e Motorola RAZR, sem falar em outros mais recentes, uma vez que se trata de um modelo mid-range, não de um high-end. E, como tal, é assim também a sua câmera: intermediária. Não substitui uma compacta de boa qualidade, mas segura as pontas bem para o caso de um cachorrinho com cara de triste vestindo um agasalho marrom surgir na tua frente.
Software
A Huawei promete atualizar logo o Honor para o Ice Cream Sandwich, mas ele sai da loja com o Android 2.3 “Gingerbread.” A fabricante está arriscando um modelo novo por aqui, de venda direta e exclusiva no varejo, sem colocar operadoras no meio. Em outras palavras, não espere ver apps e personalizações com logos de TIM, Vivo, Oi ou Claro — cool!
Mas se ganhamos de um lado, do outro perdemos — e feio. A personalização do Android feita pela Huawei é uma das mais horríveis dos últimos tempos.
Mexeram nas telas iniciais, no app drawer e fizeram aquelas adições em apps que quase ninguém usa. Mas o contingente desse “quase” aí pode aumentar graças a dois apps bem bacanas. O Cloud+ é o serviço de arquivos na nuvem da Huawei e oferece, além de 16 GB online para guardar arquivos, outros complementares como backup regular e localização remota do aparelho. Dado o espaço apertado da memória interna (1 GB) e do cartão microSD que acompanha o produto (2 GB), é algo bem-vindo. Existe outro app bacana também, o de backup. Ele permite fazer backup para um cartão SD ou para a nuvem, restaurar tudo dali mesmo e coloca inclusive apps no pacote. Uma mão na roda.
Ok, finalizadas as partes boas, vamos às não tão boas. A tela inicial apresenta uma fileira fixa de apps no rodapé, os quais podem ser alterados, e até cinco telas iniciais para dispôr ícones e widgets. Uma coisa estranha e que se repete no app drawer é uma moldura semi-transparente que alguns ícones de apps recebem; todos os baixados do Play ganham esse contorno e fica bem, bem estranho.
A organização do app drawer é meio confusa e a única forma de reorganizar os ícones é manualmente, clicando no gigantesco botão de engrenagem no rodapé da página. Embora ainda use o Gingerbread, dá para criar pastas movendo um ícone sobre o outro — também rola nas telas iniciais.
Nessas duas áreas as mudanças são sutis e incomodam mais pela estética do que por suas funcionalidades. O mesmo não pode ser dito da multitarefa e do teclado padrão, o TouchPal.
A multitarefa, acionada ao segurar o botão tátil “home”, é apresentada com miniaturas no rodapé da página. Além de pouco prático, é bastante pesado para o hardware mediano do Honor. Uma mexida no sistema cheia de boas intenções, mas que na prática mais atrapalha do que ajuda. E o teclado… É um dos piores que já usei. Batizado de TouchPal, é esquisitão, com previsão de palavras ruim e confuso em certas partes (levei um bom tempo para descobrir que a parte dos números e símbolos rola verticalmente). Você estará melhor com outro teclado. Qual? Com qualquer outro. E agradeça o fato de que o Android permite trocar de teclado como se troca de cueca.
O Android que vem no Honor é esquisito. Meio brega, feio no geral e com intervenções um tanto infelizes. Mas é o risco que se corre ao comprar qualquer coisa que não tenha “Nexus” no nome, certo? Pode vir algo bacana, como a Sense ou a TouchWiz nos Gingerbread, ou coisas medonhas como essa da Huawei.
Desempenho e bateria
No mar de Androids dual-core e, agora, com os quad-core chegando, a Huawei decidiu equipar o Honor com um processador single-core, o mesmo Snapdragon que move a linha Lumia, da Nokia. Com 1,4 GHz, o que poderia ser um tiro no pé acaba não afetando o Honor como se poderia esperar. No geral é um processador bem esperto e em praticamente todas as tarefas ele não deixou a desejar — nenhuma de que me recordo, pelo menos. Fotos, vídeos, fotografia e filmagem, jogos mais simples e mais ou menos… tudo isso rodou numa boa, sem engasgos.
O que criou um senhor gargalo foi a RAM, de 512 MB. Vira e mexe, ao abrir alguns poucos apps ao mesmo tempo, o retorno à tela inicial era precedido de um entediante “Carregando” sobreposto aos ícones surgindo em segundo plano. O app drawer também tem desses “slow downs”. Ao lado do espaço interno pífio, essa é talvez a pior “economia” que fizeram no Honor. Com 1 GB ou mesmo 768 MB de RAM, ele se sairia melhor ao lidar com múltiplos apps abertos ao mesmo tempo.
Mas se o desempenho fica dentro da normalidade — não decepciona, tampouco impressiona —, é na bateria que o Honor brilha. A Huawei fez o milagre do Android que não precisa ser recarregado todo santo dia com uma bateria de 1930 mAh e, diz ela, muita otimização de software.
Fizemos dois testes de resistência, alternando entre 3G e Wi-Fi (sempre conectado), fotos, vídeos, jogos, aquele modo de uso “eba-acabei-de-comprar-um-celular-novo”. O Honor quebrou a barreira dos dois dias. Dois dias longe da tomada e com carga sobrando, meus amigos. Fazia tanto tempo que eu não acordava/ia pra cama sem me preocupar em verificar o status da bateria que voltar a essa vida será duro. O Honor me acostumou mal. E detalhe: tudo isso sem apelar para o modo de economia de bateria, que por padrão se oferece para ativação quando o nível chega a 30% — nesse modo o Android desativa algumas coisas supérfluas que consomem bateria para poupá-la.
Se você preza bateria acima de tudo, é difícil imaginar algo melhor que o Honor nesse quesito. O RAZR MAXX, da Motorola, seria um páreo duro se fosse vendido no Brasil. Autonomia com Android, seu nome é Honor.
O que agradou?
Pela empolgação com que relatei, você já deve saber: a bateria. É de longe a melhor coisa do Honor, o motivo para comprá-lo. Com smartphones parrudos que se arrastam para aguentar um dia de trabalho (8h) ligado, usar um que te deixa livre da tomada por dois dias ou até mais é libertador.
Infelizmente o resto das especificações é bastante mediano — como é, sejamos justos, a proposta do aparelho e o que a Huawei cobra nele. O Honor não deixará frustrado como um Optimus One ou um Galaxy 5, mas da mesma forma não te dará todo o poder de fogo e a multitarefa de um Galaxy S II/III, One X e outros de ponta.
O que desagradou?
O que mais desagradou? O acabamento, de longe. A sensação de material de baixa qualidade, a “rebarba” no encaixe da tampa e a fragilidade da tela, que ganhou um riscado perceptível com poucos dias de uso, assustam. Por dentro, as mexidas de gosto duvido no Android e a câmera meio maluca também deixam a desejar.
Um detalhe que não é nem culpa da Huawei ou do Honor, mas que deve ser considerado, são as incompatibilidades no Google Play. Não se assuste se encontrar um jogo ou app incompatível com o aparelho — alguns da Gameloft, por exemplo. Acontece, com mais frequência do que se esperaria e em situações bem bizarras, onde um jogo aparece como compatível com um Galaxy 5 (!), mas incompatível com o Honor.
Conclusão
Quesito bateria: nooootaaaa 10. Quesito evolução: bem… O Honor personifica aquela expressão americana “you get what you pay for.” Vendido pela Huawei com o preço sugerido de R$ 999, ele está na média em praticamente todas as suas características com algumas poucas exceções. No lado das ruins, deixa a peteca cair no ínfimo espaço interno e no acabamento; dentre as boas, se sobressai com uma bateria highlander. A competição dos Androids nessa faixa de preço está bastante acirrada, com Galaxy S II Lite e Xperia U chegando fortes. Se autonomia lhe é imprescindível, o Honor é o smartphone. Se outros aspectos contam, vale a pena compará-lo com a concorrência.