[Review] Sony Ericsson X10
Olhando a ficha técnica, o Xperia X10 é possivelmente o melhor smartphone vendido no Brasil. Câmera de 8.1 megapixels, processador rapidíssimo, tela de 4 polegadas, sistema operacional Android. Anunciado em novembro do ano passado, ele era muito aguardado por quem segue as notícias de tecnologia. Só que ele não mudou suas características (especialmente a versão do sistema operacional) nesses últimos 6 meses – enquanto o mundo dos celulares era chacoalhado de novidades. Mesmo assim, será que o X10, a menina dos olhos da sumida Sony Ericsson, dá conta de enfrentar a concorrência? Leia nosso review.
A resposta é menos simples do que imaginava, e você vai tirar suas próprias conclusões lendo tudo abaixo. Mas, para os apressados que pulam tudo e vão direto para as considerações finais e a nota, um spoiler: apesar de hardware bastante interessante, o sistema Android 1.6, a falta de multitouch e a interface proprietária prejudicam bastante a usabilidade do X10 em comparação aos seus principais concorrentes, o Motorola Milestone e iPhone 3GS, smartphones high-end vendidos no Brasil na mesma faixa de preço.
A resposta completa, em forma de vídeo:
Agora, por partes. E um aviso: como sempre, tento ser o mais objetivo possível. Mas tenha em mente duas coisas: eu tenho um Milestone e gosto muito do iPhone 3GS. Eles (e não os Windows Phones ou Androids mais baratos) serão o benchmark para comparação:
Design e Hardware
Julgue pelas fotos. O Xperia X10 é bonito e chama a atenção. Ele é bem construído, com plástico duro, sem parecer vagabundo. A tampa é meio emborrachada, para melhorar a pegada (ele é largo, mas não escorrega da mão). Em termos de forma, ele pra mim é sóbrio sem parecer velho. O único problema são esses botões de baixo, físicos, mais duros do que gostaria.
Como o iPhone, o X10 tem um design um pouco mais unissex, ao contrário do Milestone, quadradão-Batman, que parece mais de homem. Haverá uma versão com capa branca, mês que vem, que deve aumentar o apelo para o público feminino. Outro ponto favorável é o peso: 135g, praticamente o mesmo do iPhone e 30g a menos que o Milestone. Ele é menos de 1 centímetro maior pra cima e pro lado. É grande, sim, mas dentro do novo padrão dos telefones. Tudo para acomodar o telão.
Bateria: Como qualquer bateria de smartphone, a duração depende do tipo de uso. Nos meus testes, não foi muito melhor ou pior que os concorrentes diretos. Então, se você resolver tirar fotos, olhar a internet e usar como walkman, sempre com o 3G ligado, não espere que ela passe de 7 horas. Um problema é que ela parece demorar um pouco mais que o normal para carregar: 2h30-3h.
Tela Capacitiva: É a maior tela de um smartphone à venda no Brasil. São 4 polegadas e resolução de 480×854, a mesma do Milestone, com imagem bem mais nítida que, por exemplo, o iPhone. Mas ela me pareceu ter cores menos vibrantes (UPDATE: há um motivo para isso: o Android 1.6 só aceita 65 mil cores, contra 6 milhões do Android 2.0/2.1 do Milestone). Os ícones são pouco coloridos e parecidos e, pela configuração padrão, o brilho é colocado no modo econômico. O que significa que a tela vai ficar, na maior parte do tempo, meio escura. Se você usar o brilho em 100%, o tempo de vida da bateria é afetado fortemente. Mas bem, você tem essa opção, escondida na configuração (não há o menu rápido de mudança de brilho como no Milestone).
A tela capacitiva deixa um pouco a desejar, não registrando alguns cliques, e isso é especialmente grave se levarmos em conta que o teclado virtual é a única maneira de se digitar. Mas isso, ao que tudo indica, é problema de software. A falha mais grave é que falta o multitouch. Isso não é uma frescura. Ele é útil para fazer o movimento de pinça para dar zoom, algo bastante útil visualizando fotos (tanto mais na tela de 4”), mapas ou navegação na Internet. Para um celular com as pretensões multimídia do X10, isso é meio grave.
Acessórios ou a falta dele: Dock? Carregador para carros? Capas intercambiáveis? Nada disso. A caixa do X10 é espartana em seus acessórios. Mas é bom dizer que o headphone que acompanha (com microfone) é bem bacana, muito acima da média do que é encontrado em celulares. O cartão MicroSD de 8GB é bom e suficiente para guardar músicas e fotos.
Processador e memória: Embaixo do capô, 1 GB de memória interna e 384 MB de RAM. A memória interna é maior que a média, mas o Android mais os softwares proprietários comem mais de 500 MB, então não há muita diferença em relação à concorrência direta. Não vai faltar espaço para programas importantes, mas instale alguns joguinhos 3D e você poderá se ver tendo que deletar apps para outros serem adicionados.
O grande diferencial do X10 é o processador Snapdragon de 1 GHz. Em termos de clock, ele é maior que o iPhone 3GS (600 MHz) e o Milestone (550 MHz). Essa diferença é sentida assim que você liga o telefone: o boot é bem mais rápido que a média. Essa também será a última vez que você verá a força do processador. Ele não pareceu mais rápido em qualquer tarefa e parecia demorar muito (mais de 1 segundo pra mim é muito) para carregar os principais programas da Sony. O pessoal da Info fez testes mais científicos e o Milestone executou mais que o dobro de operações (em MFlops) que o X10. De novo, provavelmente culpa do Android mais antigo e do chip gráfico do Milestone (o mesmo do iPhone), como veremos mais adiante.
Mediascape e Timescape
A maioria dos fabricantes tenta colocar algo diferente no sistema Android para dar mais personalidades a seus smartphones. A HTC tem a bela interface Sense, a Motorola usa o Motoblur para mostrar o aparelho conectado a redes sociais. A Sony inventou a interface conhecida anteriormente pelo codinome Rachael, presente no X10. Em termos filosóficos, é exatamente o que se propõe o Windows Phone 7: que você não precise abrir vários programas para executar tarefas relacionadas.
O ícone do Timescape te leva para essa tela meio 3D aí em cima onde fica tudo junto: últimas fotos, músicas, updates no Twitter e Facebook dos seus amigos, e-mails e mensagens. Só que, se você tem mais que três amigos, a interface fica caótica e inútil, especialmente porque demora 14 segundos para atualizar a partir do momento que você o abre. 14 segundos olhando para a tela de um celular é uma eternidade. Como você pode ver no vídeo lá embaixo, ela é bonita e vai servir para você impressionar os seus amigos – como a desnecessária interface de cubo 3D do LG Arena, por exemplo. Mas é preciso uma versão mais funcional para ela fazer algum sentido.
Já na parte de contatos, diferente do Android sem customização, a coisa é mais organizada, e bem legal. Clicando em um contato, por exemplo, é possível que você veja desde as mensagens que você trocou com ele até os últimos Tweets ou updates no Facebook, passando pelas fotos que você tirou em que ele aparece. É o "people hub" do Windows Phone 7 na demo que vi. Pena que é preciso configurar tudo na unha. O aplicativo do Twitter para Android 2.1, por exemplo, já cruza os e-mails dos seus amigos com perfis no Twitter e faz a associação. Mesma coisa pro Motoblur. No X10, é preciso configurar um por um da sua lista de contatos, adicionando o nome de usuário no Twitter e Facebook. Um porre. Fica até bem legal quando funciona, e você acumula, por exemplo, fotos dos contatos, mas é chato de configurar e duvido que o usuário médio aproveitará.
Já o Mediascape inventa menos, e acerta um pouquinho mais. Entrando nele, é possível ver fotos, vídeos ou música. Em fotos, misturam-se as que você tirou com a câmera com as que estão na nuvem, em serviços como o Picasa e Facebook. Em ícones pequenos, mas legíveis, numa interface melhor que dos outros Androids 1.5 e 1.6, mas bastante inferior à galeria do Android 2.1 (como você pode ver no vídeo).
Na visualização de fotos, há vários pequenos problemas: os botões de ir pra frente e para trás (como se você precisasse disso) ficam 3 segundos na tela, toda vez que você muda de foto. A imagem também, estranhamente, não ocupa a tela inteira – e a ausência de multitouch evita que se dê um zoom decente. De novo: é melhor que o aplicativo comum do Android, mas pior que o iPhone 3GS ou o Milestone atualizado.
Para vídeos, tudo ok. Usando qualquer programinha para se converter o vídeo para mp4 ou wmv, como o Any DVD, consegue-se assistir vídeos no aparelho com uma qualidade boa. Eu acho meio absurdo assistir a filmes ou seriados em telas tão pequenas, mas tem quem curte, e o X10 funciona bem para isso.
Falo mais adiante sobre o player de música, mas um dos problemas mais chatos do Mediascape é que quando se clica nele volta-se à última ação que você fazia. Estava vendo fotos e quer ouvir música? Clique em Mediascape, espere ele carregar a foto, volte duas vezes e aí clique em música. Isso poderia ser melhor pensado.
No geral, há boas ideias no Mediascape e Timescape, mas ainda meio cruas. Seja porque os programas não são atualizados rapidamente ou porque é preciso configurar tudo manualmente, a experiência sempre deixa algo a desejar. Sou totalmente a favor da organização dos hubs, concentrando tudo de um assunto em algum lugar, mas espero que o celular seja mais esperto, configure as coisas para mim e seja mais rápido.
Câmera / Filmadora
A câmera de 8.1 MP é a facilmente a melhor entre os smartphones da categoria. A tela de 4” permite que várias opções apareçam na tela. Dá para ajustar a exposição ou selecionar o detector de faces. O problema: algumas opções ficam escondidas nos menus e demoram a ser acessadas. Outro problema é que o botão físico da câmera é meio duro, e ela inevitavelmente vai tremer quando você apertar. Nesse sentido, o fato de ela ser meio lenta (disparando meio segundo depois de você ter focado e apertado) é até vantajoso.
Quase sempre precisei de duas ou três tentativas, já que a tremida do disparador e a pequena abertura da lente sempre deixava as fotos um pouco borradas – algo que seria facilmente solucionado com a opção de clicar a foto na tela. Mas quando deu certo, as fotos foram bem impressionantes para uma câmera de celular:
Detalhe curioso: não há flash exatamente, mas se você entrar no menu é possível acender uma luzinha – que fica ligada até você repetir os mesmos 4 passos e desligá-la. É meio tosco, mas é até mais honesto, já que o flash das câmeras de celular são sempre terríveis.
Isto posto, não se engane: ainda é uma câmera de celular. Qualquer Cybershot da Sony de 7.2 MP que hoje custa R$ 200 na minha esquina produz imagens melhores. Especialmente em dias ensolarados (quando a câmera deveria funcionar melhor) o X10 produz fotos com cores lavadas, como essas:
Outro diferencial do X10 é o recurso de gravar a cara da pessoa e associá-la a contatos. Novamente, a coisa é mal pensada. Por dois motivos: o primeiro é que, nos meus testes, a câmera detectou rostos em 30% das dezenas de fotos que tirei de pessoas. E ele pode não detectar de novo se a pessoa estiver meio de lado ou sorrindo.
E quando o software efetivamente detecta, você pode associar a cara à pessoa no Mediascape. Mas quando você clica em associar, aparece a sua lista inteira de contatos do Google – e não somente a de contatos que estão no telefone. Então, quando escolhi associar uma pessoa em uma foto, tive que ir arrastando o menu para baixo, entre os mais de 2 mil contatos que tenho, até chegar ao P (não há atalho ou espaço para digitar). Lá, havia contatos com nome repetido, e não tinha como saber qual era o certo. Escolhi um, que não era o mesmo que tinha guardado no celular, desisti de tentar de novo.
A câmera é mais um (se não o melhor) exemplo de que as funcionalidades e o hardware estão lá, mas faltou polimento para deixar a experiência, senão automática, mais rápida, lógica e agradável para o usuário. Como filmadora, ela produz filmes melhores que do iPhone, semelhantes ao do Milestone, com resolução decente e som nítido. Uma pequena amostra:
A herança do Sony Walkman
Assim como uma câmera boa, você pode esperar que a Sony faça celulares que sejam bons para tocar música. Aqui não é diferente. As músicas, mesmo com bitrate alto, tocam sem soluços, ao contrário de celulares com processadores menos potentes. Usando meus headphones de referência (o Senheiser IE7) percebi uma fidelidade de som comparável ao meu Zune HD, com uma ligeira falta de força nos graves, mas melhor que o iPhone ou Milestone.
Dentro do Mediascape, como player de música, o X10 é bem mais interessante que o horroroso tocador padrão do Android. Ele é todo visual, com lista de álbuns e artistas ouvidos e adicionadas recentemente. A visualização das faixas é bonita, mas é difícil fazer uma playlist, por exemplo. Usando o botão "infinito" em cima de um artista, é possível ir atrás de informações na Internet ou vídeos no Youtube. Algo parecido com o que o Meridian ou TuneWiki, tocadores de música baixáveis no Android Market (mas incomparavelmente mais feios) fazem.
O problema do Mediascape, novamente, é que falta o "plug & play". Quer ver a capinha do disco? É preciso clicar no menu e pedir para ele baixar a arte. Não dá para visualizar as letras no estilo karaokê como no player de música padrão do Quench, mas há um botão para entrar na internet e verificar isso. Seria bom ver widgets também. Mas em termos de som puramente, especialmente se você tiver um headphone bom (ele tem entrada padrão, 3.5mm), o X10 entrega.
Android 1.6 e problemas da interface proprietária
É melhor vc assistir esse vídeo:
OK?
O X10 foi anunciado dia 2 de novembro de 2009. Quatro dias depois, o Motorola Droid (1 mês depois, o Milestone) foi lançado. Antes do smartphone da Sony Ericsson chegar às lojas, o Nexus One, Desire e Legend da HTC apareceram. Culpe o Google por dar preferência a outros fabricantes, mas todos eles têm um sistema operacional melhor. O Android 2.1 permite múltiplas contas de Gmail, é compatível com programas legais como o app oficial do Twitter, integração com os contatos, tem uma galeria de imagens infinitamente melhor e dá para configurar mais de três telas iniciais. Mais do que tudo, o Android 2.1, em comparação com o 1.6, é mais estável, menos propenso a travadas.
O smartphone da Sony tenta emular várias dessas funcionalidades do Android 2.1 com a sua cara personalizada, através do Mediascape e Timescape. Não consegue sempre. Isso não quer dizer que o X10 não tenha o seu valor. Você pode simplesmente ignorar os programas padrão e usar o Twitdroid para o Twitter ou o Better Camera para tirar fotos, ou outro programa para gerenciar a galeria. O ponto é: por ter chegado depois à festa do robozinho, ter especificações invejáveis, e por vender o modelo mais caro, esperava-se mais da Sony Ericsson em relação à interface proprietária.
De todo modo, o Android 1.6 é um sistema mais que capaz, bastante mais agradável de usar que Windows Mobile ou Symbian. A integração com o Gmail, Google e contatos é maravilhosa, e a lista de aplicativos bacanas só cresce. Se você tiver paciência para configurar tudo, pode transformar o celular e colocar o sistema a seu favor, aproveitando a câmera e o processador. Mas, para o usuário médio ou quem tem menos paciência, como eu, essa opção está fora do baralho.
Levando tudo isso em consideração, eu o colocaria em terceiro na lista dos melhores smartphones do Brasil (atrás de iPhone 3GS e Motorola Milestone, constantemente trocando de posição). O problema é o preço: como ele custa R$ 1.899, desbloqueado e não tem muitos subsídios em plano, fica difícil ganhar a briga sobre os outros concorrentes. Se serve de alento, comprar hoje pode ser um investimento: no fim do ano, o X10 terá a atualização para o Android 2.1.
Mas aí já teremos no mercado iPhone 4, um Motorola com Android 2.2, a possível chegada dos melhores aparelhos da HTC no Brasil e os primeiros Windows Phone 7. Você quer exercitar todo seu lado geek e consertar a joia pouco polida que é o X10 hoje, prefere esperar ou vai atrás da concorrência hoje?
Sony Ericsson XperiaX10.:
Design e construção
Câmera (nas condições certas)
Multitarefa
Tela de 4”
Qualidade de som como Walkman
Headphones
GPS decente
Página do contato e integração
Mediascape como gerenciador de música
Bateria
Preço
Android 1.6
Mediascape como gerenciador de fotos
Disparador da câmera
"Flash" escondido
Ausência de multitouch
Preço na Vivo, em SP: R$ 1.899, pré-pago e R$ 1.499 no Vivo Você 200